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Se G20 falhar, câmbio pode gerar "guerra comercial"

Secretário brasileiro teme que países adotem medidas unilaterais para conter valorização das moedas

A desvalorização do dólar e do iuane é um dos principais fatores da guerra cambial (China Photos/Getty Images)

A desvalorização do dólar e do iuane é um dos principais fatores da guerra cambial (China Photos/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 9 de novembro de 2010 às 14h26.

Brasília - A eventual falta de acordo em torno da questão cambial pelos países do G20 reunidos na Coreia do Sul esta semana pode levar a uma "guerra comercial", com aumento de protecionismo em desrespeito a regras da OMC.

A avaliação foi feita pelo secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Welber Barral, para quem a valorização do real já tem gerado aumento da demanda, por parte das empresas no Brasil, de ações de combate a problemas como dumping e contrabando.

"(A moeda valorizada) aumenta a pressão do setor privado em problemas que às vezes já existem", afirmou Barral à Reuters na noite de segunda-feira

"Alguns setores sofrem problema de contrabando, por exemplo, e dão pouca atenção a isso. Na medida em que o câmbio se torna um problema, mais a questão do contrabando se torna central."

Este ano, o país deu início até outubro a 27 investigações de antidumping, contra 19 em todo o ano de 2009.

Barral frisou que todas as medidas do governo em resposta a demandas das empresas são tomadas em acordo com as regras da Organização Mundial do Comércio. Seu temor é que o agravamento das distorções cambiais gere medidas protecionistas fora da legalidade em outros países, desencadeando uma onda de retaliações.

"Nós temos adotado algumas medidas e aumentado algumas medidas no que diz respeito a questões pontuais, produtos pontuais. O Brasil não adotou nem vai adotar, acho muito difícil adotar, medidas 'across the board' (generalizadas)", afirma Barral.

Os chefes de Estado dos países do G20, que reúne as principais economias desenvolvidas e emergentes do mundo, debaterão esta semana em Seul possíveis soluções para os desequilíbrios causados pelo fato de o dólar e o iuan estarem excessivamente desvalorizados.

Esse cenário tem contribuído para acentuar tendência de apreciação de moedas de países emergentes como o Brasil, que já tem atraído grandes fluxos de capital pelo fato de estarem crescendo em ritmo mais acelerado que a média das economias desenvolvidas.

Medida de flexibilização monetária adotada pelo Fed na semana passada --com o anúncio de que o governo comprará mais 600 bilhões de dólares em títulos-- aumentou preocupações com desvalorizações adicionais do dólar.

"Nossas propostas, as propostas que o ministro Mantega está levando (para Seul)... são compromissos multilaterais", disse Barral.

"Se isso não for alcançado, existe o risco de que todos os países busquem soluções individuais, que podem ser custosas para todos. Isso pode envolver desde medidas cambiais para tentar proteger o nível razoável de câmbio até medidas comerciais."

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