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Saúde vai definir apoio psicossocial às famílias no RS

No primeiro momento, o trabalho de psiquiatras e psicólogos voluntários estava concentrado no apoio às famílias que estavam no local do incêndio

Familiares choram por vítimas do incêndio em Santa Maria: a proposta é que os profissionais, que voluntariamente deixaram os consultórios para acompanhar as pessoas afetadas . (REUTERS/Edison Vara)
DR

Da Redação

Publicado em 29 de janeiro de 2013 às 14h23.

Brasília – Psiquiatras, psicólogos e outros agentes de saúde vão definir, até o final da tarde de hoje (29), como serão feitos os atendimentos às famílias e vítimas do incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, que deixou 234 mortos e centenas de feridos. A proposta é que os profissionais, que voluntariamente deixaram os consultórios para acompanhar as pessoas afetadas diretamente ou indiretamente pela tragédia desde o último domingo (27), definam uma estratégia de acompanhamento psicossocial por um período prolongado, até que os traumas possam ser minimizados.

“Queremos nos preparar para um momento que poucos estão pensando agora. Temos uma situação grave que vai gerar estresse pós-traumático em muitas pessoas que pode se manifestar dias, semanas e até meses depois do trauma”, explicou Antonio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Segundo o especialista, estes transtornos podem se manifestar com quadros de depressão, ansiedade e até de bipolaridade, no caso de pessoa que têm alguma tendência a desenvolver o distúrbio.

No primeiro momento, minutos depois da tragédia, o trabalho de psiquiatras e psicólogos voluntários estava concentrado no apoio às famílias que estavam no local do incêndio, em busca de informações, nos hospitais e no ginásio da cidade, durante o reconhecimento dos corpos e acompanhamento dos velórios e enterros das vítimas.

“Nesta intervenção inicial tem um trabalho importante de orientação também. As pessoas, por exemplo, têm a tendência de medicar remédios tarja preta para que os familiares se desliguem um pouco e durmam e há contraindicação deste procedimento que, na verdade, acaba fixando mais a memória do trauma”, explicou Antonio Geraldo, acrescentando que a preocupação agora é montar um esquema de trabalho com um cronograma que pode durar meses e até anos.

Segundo o psiquiatra, problemas que podem surgir são aumento de consumo de álcool e drogas e dificuldades nas relações pessoais e de trabalho, ameaçam não apenas as vítimas e familiares, mas podem afetar grande parte da comunidade de Santa Maria e de cidades próximas - origem de muitos dos jovens vitimados.


“Temos que estar preparados para fazer estas avaliações com todas as nuances possíveis de serem apresentadas”, explicou, acrescentando que a nova estratégia também prevê o atendimento aos profissionais que cuidaram ou ainda acompanham as vítimas. “Estamos falando do médico, do enfermeiro, do policial, do taxista e de pessoas comuns que se voluntariaram para trabalhar naquela circunstância. Ninguém está pensando em oferecer cuidado para estas pessoas”, disse.

A coordenadora do Núcleo de Psiquiatria da Associação Médica de Santa Maria, Carla Ibargoyen, contou que psiquiatras e psicólogos que atuam no estado decidiram formar uma força-tarefa voluntária que começa a atuar a partir de hoje. Até o final do dia, profissionais da rede de saúde da região e da Universidade Federal de Santa Maria vão definir como serão conduzidos os trabalhos.

“Vamos discutir como serão feitos os atendimentos, como e quem serão atendidos e como podemos aproveitar a estrutura da universidade para conduzir os trabalhos. Será um acompanhamento de, no mínimo 90 dias, que tem grande possibilidade de ser estendido”, explicou ela. Segundo a psiquiatra, cada caso será avaliado individualmente. “O tempo de acompanhamento vai depender de muitos fatores individuais: como as pessoas respondem aos traumas e ao tratamento, se têm pessoas com problemas psicológicos e psiquiátricos estabelecidos, que seriam os grupos de risco para quadros de pós-trauma”, disse a psiquiatra.

Loiva dos Santos Leite, presidente do Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul, explicou que os trabalhos estão sendo conduzidos conjuntamente. No caso da rede pública de saúde de Santa Maria, os psicólogos montaram um serviço de atendimento 24 horas no Centro de Apoio Psicossocial da cidade (Caps).

“As pessoas que tiveram qualquer envolvimento estão procurando este atendimento. Temos já uma procura significativa. Nas primeiras horas, fizemos atendimentos no ginásio, onde chegaram os corpos e as famílias. Montamos uma enfermaria no local e os profissionais começaram a acompanhar as famílias ali no reconhecimento dos corpos até os velórios e enterro”, contou Loiva Leite. Segundo ela, as micro equipes formadas para acompanhar os feridos continuam os trabalhos nos hospitais da região.


A psicóloga ainda explicou que as equipes estão procurando os profissionais de cidades natal de algumas vítimas para encaminhar atendimentos iniciados em Santa Maria. Loiva destacou que a área de emergência de desastres exige um tratamento específico. “Estamos contando com um suporte e capacitação de profissionais da associação brasileira especializados nestes atendimentos e o suporte da organização Médicos sem Fronteiras e de um grupo de estresse pós-traumático da PUC do Rio Grande do Sul”, relatou.

“Não vamos curar a dor mas queremos trabalhar o sentimento de perda para que as pessoas consigam retomar a vida da forma menos dolorosa possível”, concluiu a psicóloga.

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Brasília – Psiquiatras, psicólogos e outros agentes de saúde vão definir, até o final da tarde de hoje (29), como serão feitos os atendimentos às famílias e vítimas do incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, que deixou 234 mortos e centenas de feridos. A proposta é que os profissionais, que voluntariamente deixaram os consultórios para acompanhar as pessoas afetadas diretamente ou indiretamente pela tragédia desde o último domingo (27), definam uma estratégia de acompanhamento psicossocial por um período prolongado, até que os traumas possam ser minimizados.

“Queremos nos preparar para um momento que poucos estão pensando agora. Temos uma situação grave que vai gerar estresse pós-traumático em muitas pessoas que pode se manifestar dias, semanas e até meses depois do trauma”, explicou Antonio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Segundo o especialista, estes transtornos podem se manifestar com quadros de depressão, ansiedade e até de bipolaridade, no caso de pessoa que têm alguma tendência a desenvolver o distúrbio.

No primeiro momento, minutos depois da tragédia, o trabalho de psiquiatras e psicólogos voluntários estava concentrado no apoio às famílias que estavam no local do incêndio, em busca de informações, nos hospitais e no ginásio da cidade, durante o reconhecimento dos corpos e acompanhamento dos velórios e enterros das vítimas.

“Nesta intervenção inicial tem um trabalho importante de orientação também. As pessoas, por exemplo, têm a tendência de medicar remédios tarja preta para que os familiares se desliguem um pouco e durmam e há contraindicação deste procedimento que, na verdade, acaba fixando mais a memória do trauma”, explicou Antonio Geraldo, acrescentando que a preocupação agora é montar um esquema de trabalho com um cronograma que pode durar meses e até anos.

Segundo o psiquiatra, problemas que podem surgir são aumento de consumo de álcool e drogas e dificuldades nas relações pessoais e de trabalho, ameaçam não apenas as vítimas e familiares, mas podem afetar grande parte da comunidade de Santa Maria e de cidades próximas - origem de muitos dos jovens vitimados.


“Temos que estar preparados para fazer estas avaliações com todas as nuances possíveis de serem apresentadas”, explicou, acrescentando que a nova estratégia também prevê o atendimento aos profissionais que cuidaram ou ainda acompanham as vítimas. “Estamos falando do médico, do enfermeiro, do policial, do taxista e de pessoas comuns que se voluntariaram para trabalhar naquela circunstância. Ninguém está pensando em oferecer cuidado para estas pessoas”, disse.

A coordenadora do Núcleo de Psiquiatria da Associação Médica de Santa Maria, Carla Ibargoyen, contou que psiquiatras e psicólogos que atuam no estado decidiram formar uma força-tarefa voluntária que começa a atuar a partir de hoje. Até o final do dia, profissionais da rede de saúde da região e da Universidade Federal de Santa Maria vão definir como serão conduzidos os trabalhos.

“Vamos discutir como serão feitos os atendimentos, como e quem serão atendidos e como podemos aproveitar a estrutura da universidade para conduzir os trabalhos. Será um acompanhamento de, no mínimo 90 dias, que tem grande possibilidade de ser estendido”, explicou ela. Segundo a psiquiatra, cada caso será avaliado individualmente. “O tempo de acompanhamento vai depender de muitos fatores individuais: como as pessoas respondem aos traumas e ao tratamento, se têm pessoas com problemas psicológicos e psiquiátricos estabelecidos, que seriam os grupos de risco para quadros de pós-trauma”, disse a psiquiatra.

Loiva dos Santos Leite, presidente do Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul, explicou que os trabalhos estão sendo conduzidos conjuntamente. No caso da rede pública de saúde de Santa Maria, os psicólogos montaram um serviço de atendimento 24 horas no Centro de Apoio Psicossocial da cidade (Caps).

“As pessoas que tiveram qualquer envolvimento estão procurando este atendimento. Temos já uma procura significativa. Nas primeiras horas, fizemos atendimentos no ginásio, onde chegaram os corpos e as famílias. Montamos uma enfermaria no local e os profissionais começaram a acompanhar as famílias ali no reconhecimento dos corpos até os velórios e enterro”, contou Loiva Leite. Segundo ela, as micro equipes formadas para acompanhar os feridos continuam os trabalhos nos hospitais da região.


A psicóloga ainda explicou que as equipes estão procurando os profissionais de cidades natal de algumas vítimas para encaminhar atendimentos iniciados em Santa Maria. Loiva destacou que a área de emergência de desastres exige um tratamento específico. “Estamos contando com um suporte e capacitação de profissionais da associação brasileira especializados nestes atendimentos e o suporte da organização Médicos sem Fronteiras e de um grupo de estresse pós-traumático da PUC do Rio Grande do Sul”, relatou.

“Não vamos curar a dor mas queremos trabalhar o sentimento de perda para que as pessoas consigam retomar a vida da forma menos dolorosa possível”, concluiu a psicóloga.

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