Jair Bolsonaro disse que, caso seja eleito, entregará o Ministério da Agricultura de "porteira fechada" para o setor indicar técnicos, do ministro aos assessores (./Bloomberg)
Estadão Conteúdo
Publicado em 29 de novembro de 2017 às 08h16.
Brasília - Um almoço fechado do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) com parlamentares ruralistas expôs nesta terça-feira, 28, divergências entre o pré-candidato ao Palácio do Planalto e o setor do agronegócio. O encontro foi na sede da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), no Lago Sul.
O discurso de Bolsonaro contra o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a repetição de uma promessa feita durante a semana de que distribuiria fuzis para fazendeiros enfrentarem "invasores" de terra não foram suficientes para garantir uma liga entre o candidato e o setor.
"A gente quer segurança. A gente não quer uma pessoa que traga mais insegurança", afirmou o deputado Domingos Sávio (PSDB-MG), que foi um dos poucos parlamentares a usar o púlpito montado na sede da FPA para falar.
"Essa campanha está nascendo como uma guerra de marketing. Estão mais preocupados em dar declarações que comovam a opinião pública do que fazer análises profundas", disse Sávio.
"Às vezes somos estigmatizados. O setor agropecuário não pode e não tem o egocentrismo de pensar o Brasil só sob o olhar do campo e da produção. Olhamos questões como saúde, educação e segurança."
Uma boa parte dos deputados evitou dar declarações. Eles saíram afirmando, de forma reservada, que Bolsonaro foi "genérico" e "inconsistente".
Em entrevista, Bolsonaro reclamou que um deputado, referindo-se a Sávio, o tinha chamado de radical e que 90% dos presentes tinham sido receptivos.
"Quero ver se esse vaselina vai resolver o problema da violência. Ele que apresente uma solução", afirmou Bolsonaro. "Tem de radicalizar contra o MST, mas radicalizar dentro da lei."
Bolsonaro disse que, caso seja eleito, entregará o Ministério da Agricultura de "porteira fechada" para o setor indicar técnicos, do ministro aos assessores.
O deputado Luiz Nishimori (PR-PR) disse ter gostado do discurso de Bolsonaro, mas reconheceu que não é novidade ministro da Agricultura ser escolhido pelo setor. "Isso é normal."
O pré-candidato divergiu de setores do agronegócio ao se opor a proposta de venda de terras para estrangeiros.
"Não sou nacionalista. Sou patriota. Quem quer comprar é a China. Ela que vai decidir o alimento que plantará. O que a gente vai comer amanhã?", questionou. "Agora, se o setor quer vender, eu obedeço." Bolsonaro disse que saía do almoço "confiante".
O deputado Nilson Leitão (PSDB-MT), líder da FPA, foi questionado sobre as críticas reservadas de parlamentares a Bolsonaro.
"Na verdade, o importante para a frente é que não estamos escolhendo nosso candidato", disse. Leitão ressaltou que a frente já recebeu o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o prefeito João Doria (PSDB).
"Nós utilizamos os pré-candidatos para que eles verbalizem e entendam o sentimento do setor. Eu acho que para isso foi muito bom (o encontro com Bolsonaro). Ele disse que compreende o sentimento do setor e é contra o debate ideológico." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.