Capitão Augusto deve assumir posição de vice-líder do governo na próxima segunda-feira 25 (Divulgação/Agência Câmara)
André Jankavski
Publicado em 22 de fevereiro de 2019 às 14h20.
Última atualização em 22 de fevereiro de 2019 às 14h54.
São Paulo – O governo convocou mais um militar para ajudar na aprovação da reforma da Previdência. Desta vez, foi um policial militar. O deputado federal Capitão Augusto (PR-SP) foi convidado na última terça-feira para ser o vice-líder do governo Bolsonaro na Câmara dos Deputados. Ele precisará dar forma a um governo que ainda patina no Congresso Nacional, mesmo após o presidente Jair Bolsonaro ocupar uma cadeira na casa por quase três décadas.
Segundo o próprio deputado, que já atuou como vice-líder do governo do ex-presidente Michel Temer, ele deverá ser oficializado na posição neste sábado 23. Na próxima segunda-feira 25, começará a trabalhar para identificar aliados para a aprovação da reforma.
Os primeiros alvos serão aqueles congressistas que votaram contra o decreto que permitia abertura para classificar informações públicas como ultrassecretas e secretas - a primeira grande derrota de Bolsonaro na Câmara.
Em suas contas, atualmente, o governo não chegaria nem a 200 votos em uma votação para a aprovar a chamada Nova Previdência. E para aumentar esse número, defende uma presença maior do ministro da Economia, Paulo Guedes, na negociação. Confira a sua entrevista:
Qual é a sua percepção da proposta da reforma?
O projeto é bom. Segue a linha do pacote do ministro da Justiça, Sérgio Moro, que é excepcional. Ninguém discute a qualidade da proposta, nem nos bastidores da Câmara. A grande preocupação que eu tenho, como aliado do presidente, é a questão do relacionamento político. Ainda não se encaixou. A relação entre o executivo e o legislativo ainda não engrenou. Se fosse colocada para votação a reforma da Previdência hoje, não teríamos nem 200 votos. O que nos tranquiliza é que temos 4 meses para trabalhar, antes da proposta chegar ao plenário. Há tempo para ajustar essa grande deficiência.
O sr. representa diversas corporações, como líder da Frente Parlamentar de Segurança Pública. Mesmo a proposta da reforma para policiais e militares ainda não ser conhecida, quanto isso pode afetar na votação em sua própria base?
A questão temática vai muito bem quando o projeto é benéfico para ela. Por exemplo, o projeto do Moro será aprovado com relativa tranquilidade. Ela vai de acordo com o que a bancada esperava. A questão da reforma Previdência já é mais complicada. Os policiais militares, que eu também represento, não concordam com o que vem sendo ventilado nos bastidores. Ainda não há consenso e isso reflete nas outras polícias. E nessa questão previdenciária, é normal que os deputados defendam as suas categorias. Teremos um longo caminho para ajustar o que o governo quer com as vontades das categorias.
Nos bastidores, há o discurso de que os deputados podem votar a favor da reforma, mas em troca de cargos de segundo escalão e a liberação de verbas. Esse será o caminho, na sua opinião?
A sugestão que eu dei, após ter sido convidado para ser vice-líder, é de mapear a base. Tivemos uma derrota feia no último projeto. Assim que eu for nomeado, tem que entender porque os congressistas votaram contra o projeto. Foi por conta de rusgas com o governo? Foi por que era um projeto ruim? Foi por conta de falta de interlocução com o governo? Temos que começar a identificar quem é aliado mesmo, independentemente da proposta, quem é que estará junto desde que haja modificações e quem está descontente com o tratamento do executivo e entender os motivos para isso. Todos têm as suas reivindicações, mas precisamos identificar isso. Dessa maneira, é desatar nó por nó. O ministro da Economia, Paulo Guedes, por exemplo, precisa ir pessoalmente fazer reuniões com os partidos. Ele está mandando o Rogério Marinho, mas é diferente. A casa enxerga como desprestígio, não pelo Marinho, mas ele que é o chefe da pasta. Ele precisa trabalhar pela aprovação. É um erro estratégico e ele precisa trabalhar de maneira política.
O senhor vai assumir a vice-liderança de um governo que sofre críticas por sua articulação no Congresso. Qual será o seu papel para amenizar esse descontentamento?
A minha nomeação deve ser confirmada amanhã. A partir de segunda-feira, já pedirei para a minha assessoria levantar a última votação para saber quem votou contra e ir atrás dos motivos. Precisamos saber se o voto foi um recado para o governo ou se realmente não concordava. Esse tipo de recado é muito comum na Câmara. É uma questão cirúrgica, então preciso ir atrás de um por um para ter a base consolidada. Temos três meses para isso.
Na sua opinião, a reforma precisará ser muito desidratada para ser aprovada? A economia trilionária, esperada por Guedes, é possível?
Acredito que não terá uma alteração tão profunda quanto a do ex-presidente Michel Temer. São coisas bastante pontuais. O problema, de novo, não é quanto ao projeto. O problema é político. Tem deputado que pode votar contra mesmo a favor do projeto. A minha contribuição, até então, era individual. Mas com a nomeação vou começar a participar para entender o motivo dessas engrenagens não terem se acertado. A posse não foi no dia 1º de janeiro, mas em outubro. Já existia a relação entre deputados eleitos e reeleitos. Desde lá, poderia ter se iniciado esse contato.
Quanto que as crises que o governo vem enfrentando, como as envolvendo o ex-ministro Gustavo Bebianno e o Flávio Bolsonaro, estão impactando no diálogo no Congresso?
Por enquanto, acendeu a luz amarela. Esperamos que pare por aí, mas é uma preocupação. Há problemas banais e corriqueiros ganhando proporções grandes. O que nos acalenta é que estamos apostando que acabou. O governo não pode mais ter esse tipo de deslize. Há muito tempo para a reforma da Previdência, então esses problemas estarão mais do que superados.