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Reduzir meta de inflação é missão quase impossível de Tombini

Economistas ouvidos por EXAME.com avaliam que atual quadro inflacionário dificulta as pretensões do presidente do Banco Central

Tombini: "Devemos ter a ambição de discutir a redução da meta de inflação no futuro" (Agência Brasil)

Tombini: "Devemos ter a ambição de discutir a redução da meta de inflação no futuro" (Agência Brasil)

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Da Redação

Publicado em 9 de março de 2011 às 17h18.

São Paulo – Em seu discurso de posse, no primeiro dia útil do ano, o novo presidente do Banco Central (BC) reiterou o desejo de reduzir a meta de inflação para níveis semelhantes aos de outros países emergentes. Sem estabelecer prazos, Alexandre Tombini disse que “esse é um processo que devemos ter a ambição de discutir no futuro”.

Partindo da premissa de que Tombini está garantido à frente do BC durante quatro anos (ele pode sair antes, como já aconteceu com diversos antecessores, ou pode ficar por mais tempo, dependendo do resultado das eleições em 2014), EXAME.com perguntou a economistas se ele vai conseguir concretizar o sonho nesse período.

Em primeiro lugar, devemos lembrar que a meta em vigor neste ano foi definida em 2009 e que o Conselho Monetário Nacional (CMN) também já cravou os mesmos 4,5% para 2012. O índice estabelecido para o ano que vem pode ser alterado? Sim, na reunião deste ano, mas é pouco provável que isso aconteça. Na prática, quando o presidente do Banco Central estiver reunido, em junho, com os ministros da Fazenda e do Planejamento (os três compõem o CMN), o foco será 2013, seu penúltimo ano no BC. Se “fracassar”, terá uma segunda tentativa em 2012, quando será debatida a meta de inflação para 2014. Caso contrário, poderá apenas deixar plantada uma semente que vai gerar frutos no período pós-2014.

Os especialistas consultados são unânimes em classificar como “muito elevada” a atual meta de 4,5%, em vigor desde 2005 no Brasil (veja quadro na próxima página com o histórico de metas). Reduzi-la, no entanto, não será tão simples assim. Do ponto de vista político, a briga é complicada. Guido Mantega, da Fazenda, já deu demonstrações durante o governo Lula de que está satisfeito com o atual patamar. Henrique Meirelles, ex-BC, que o diga. Miriam Belchior, do Planejamento, ainda não falou sobre o assunto e não se deve ignorar eventual participação no debate – ainda que indiretamente – de Dilma Rousseff, cuja obsessão anunciada é reduzir a taxa de juros. Será que uma meta menor dificulta a queda da Selic? O contraponto pró-Tombini pode vir de Antonio Palocci.

Do lado econômico, o céu também não é de brigadeiro. O atual quadro inflacionário atrapalha – quase inviabiliza – os planos de Tombini. O IPCA, índice oficial utilizado pelo governo, está rodando na casa de 6% no acumulado em 12 meses. “O cenário ruim deste ano dificulta qualquer tentativa de propor a redução da meta na reunião de junho”, diz Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do Banco Central. Embora defenda que o Brasil busque no futuro um alvo “mais civilizado”, de 2,5%, Freitas explica que “falar agora em reduzir a meta significaria uma tremenda elevação da taxa Selic”.


O economista do Itaú Unibanco Caio Megale também é a favor de uma meta de inflação menor, “pelo menos parecida com a dos países emergentes, entre 3 e 3,5%”. Pela suas contas, 6% de inflação neste ano e 4,5% ou um pouco mais em 2012 dificultam uma meta, por exemplo, de 4% em 2013. “Talvez seja cedo demais, mas é viável para a meta de 2014.” Se Megale estiver certo, Tombini poderá soltar rojões em seu último ano no comando do BC.

É comum ouvir no mercado financeiro que controlar as expectativas é tão importante quanto combater a inflação corrente. É justamente nessa variável que o sistema de metas atua com maior intensidade. Um Banco Central que goza de credibilidade é capaz de convencer a sociedade de que a meta será perseguida. Um alvo menor, portanto, reduz as projeções. “Boa parte da inflação constatada na prática é determinada pela própria meta, que, ao ancorar as expectativas, influencia os preços”, explica Megale.

Preocupado com o atual nível de inflação, o coordenador do Índice Geral de Preços dos Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV), Salomão Quadros, acha que a repetição da meta de 4,5% nos últimos anos acabou contribuindo para uma tolerância em relação a um nível maior dos preços. “Isso dá uma certa acomodação. A gente tem que recuperar um pouco da ousadia e buscar metas um pouco menores, mesmo que leve algum tempo para serem atingidas. Isso tem que voltar para a pauta, senão a gente acaba se acostumando com 4,5% sendo uma espécie de inflação natural.” Na visão dele, esse é o momento de se discutir uma meta menor, de 4%, para 2013.

Raul Velloso, especialista em contas públicas, também acha que o atual cenário de preços em alta não impede o debate. “O governo deve trabalhar com uma meta de inflação mais baixa do que 4,5%. Sem uma meta menor, a indexação não terá fim”, afirma em entrevista ao blog Esquerda, Direita e Centro, da jornalista Angela Pimenta. “Mas infelizmente, dentro do próprio governo há quem defenda o afrouxamento da meta, o que traria mais indexação e mais inflação”, diz Velloso.

Existem outros ajustes que poderiam ser feitos além de uma redução da meta. A margem de tolerância de dois pontos para cima ou para baixo é uma delas. Quanto menor for o centro da meta no futuro, menos sentido fará uma margem tão grande. Adotar como alvo principal o núcleo de inflação, que exclui os preços voláteis de alimentos e energia, também poderia fazer parte do debate, mas parece ser uma ideia cada vez menos cogitada.

Tombini acerta ao colocar o holofote sobre a redução da meta. A economia brasileira já atingiu um elevado grau de maturidade que permite esse avanço. É natural que os governantes de plantão (leia-se Executivo) tenham uma tendência de não querer mexer numa regra que, se for apertada, poderá significar a necessidade de menos gastos públicos. Porém, um país traumatizado pela hiperinflação e que ainda sofre com a indexação precisa buscar metas menores, segundos os especialistas. Carlos Thadeu de Freitas, que já esteve no Banco Central, sabe que a missão de Tombini é árdua. “No curto prazo, ele não vai emplacar. É um sonho de uma noite de verão.” Mas quem sabe depois, no outono, inverno...

Fonte: Banco Central do Brasil
Ano Meta Inflação Efetiva (IPCA)
1999 8% 8,94%
2000 6% 5,97%
2001 4% 7,67%
2002 3,5% 12,53%
*2003 8,5% 9,30%
*2004 5,5% 7,60%
2005 4,5% 5,69%
2006 4,5% 3,14%
2007 4,5% 4,46%
2008 4,5% 5,90%
2009 4,5% 4,31%
2010 4,5% 5,91%
2011 4,5% ---------
2012 4,5% ---------

* Metas ajustadas para cima

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