Brasil

Reajuste para servidores trava decreto de calamidade pública defendido por ala do governo

Integrantes do governo Bolsonaro querem medida para criar subsídio para o diesel; aumento do funcionalismo, se concedido, teria de ser feito antes

Bolsonaro: decreto esbarra desejo do presidente de reajustar os salários dos servidores públicos (Tânia Rego/Agência Brasil)

Bolsonaro: decreto esbarra desejo do presidente de reajustar os salários dos servidores públicos (Tânia Rego/Agência Brasil)

AO

Agência O Globo

Publicado em 2 de junho de 2022 às 14h00.

Última atualização em 2 de junho de 2022 às 15h20.

A possibilidade de o presidente Jair Bolsonaro pedir ao Congresso Nacional para decretar o estado de calamidade pública a poucos meses da eleição passou a ser defendida por uma ala do governo, que busca criar mecanismos para derrubar o preço dos combustíveis e da energia por meio de subsídios. Esse decreto, porém, esbarra no desejo de Bolsonaro de reajustar os salários dos servidores públicos.

Assine a EXAME por menos de R$ 0,37/dia e acesse as notícias mais importantes do Brasil em tempo real.

A calamidade libera uma gastança irrestrita pelo governo. Não apenas medidas para reduzir combustíveis mas também, por exemplo, ampliação do Auxílio Brasil. O decreto precisa ser votado previamente pelo Congresso Nacional. Para ministros do governo, o decreto é colocado como "última possibilidade".

Proibição de reajuste

O instrumento é previsto na Lei de Responsabilidade Fiscal e na Constituição. Mas uma alteração feita na regra por sugestão do governo Bolsonaro estabelece que, durante a vigência do estado de calamidade pública, fica proibido a concessão de reajuste de salários e de benefícios como o vale-alimentação. Esse reajuste, porém, poderia ser feito antes do decreto.

Também proíbe a criação de cargos, contratação de pessoal, realização de concurso público, criação e ajuste de despesa obrigatória, criação ou expansão de programas e linhas de financiamento e concessão ou ampliação de incentivo ou benefício de natureza tributária.

LEIA TAMBÉM: Apesar dos resultados, pré-candidatos em SP põem em xeque câmeras da PM

A calamidade suspende uma série de regras das contas públicas, abrindo caminho para o governo gastar em ano eleitoral sem qualquer restrição. Como mostrou a Folha de S.Paulo, isso passou a ser defendido por uma ala do governo Bolsonaro a apenas quatro meses da eleição. O mecanismo foi adotado durante o primeiro ano da covid-19, em 2020.

Subsídio fora do teto de gastos

O objetivo é criar programas de subsídio ao diesel fora do teto de gastos (a regra que trava as despesas federais) e demais normas fiscais.

É um desejo de Bolsonaro, porém, também conceder reajuste para servidores públicos. Inicialmente, ele decidiu por uma alta linear de 5%, mas agora já analisa a possibilidade de reajustar apenas o vale-alimentação dos servidores ativos.

O decreto de calamidade está longe de ser unanimidade no governo. Entre as justificativas usadas por quem defende o uso do instrumento, estão a guerra na Ucrânia e um eventual risco de desabastecimento de diesel. Para técnicos do governo, porém, é difícil justificar como a guerra na Ucrânia gerou um estado de calamidade no Brasil. Além disso, pode gerar mais inflação, com alta do dólar e aquecimento da demanda.

O governo, porém, busca outras formas de dar um subsídio amplo para reduzir o preço do óleo diesel, como mostrou O Globo nesta semana. A ideia é que isso seja pago por crédito extraordinário, fora do teto de gastos.

LEIA TAMBÉM: Collor pode se candidatar ao governo alagoano e dar palanque a Bolsonaro

Benefícios a caminhoneiros

Inicialmente reticente à concessão de subsídios, a equipe econômica avalia agora que há espaço no Orçamento federal para criar um benefício apenas para o diesel. Para isso, o governo entende que é necessário montar uma justificativa legal robusta para que o benefício não seja questionado por conta da proximidade das eleições.

A legislação eleitoral proíbe a “distribuição gratuita de bens, valores ou benefícios por parte da Administração Pública, exceto nos casos de calamidade pública, de estado de emergência ou de programas sociais autorizados em lei e já em execução orçamentária no exercício anterior”.

É essa proibição que vem travando a criação de um benefício específico para caminhoneiros, base eleitoral de Bolsonaro, e motoristas de táxis e aplicativos de transporte — algo que a equipe econômica também já sinalizou que apoiaria.

Agora, os técnicos da área jurídica do governo buscam uma forma de justificar a edição de um crédito extraordinário para criar um amplo subsídio para o diesel.

(Agência O Globo)

Acompanhe tudo sobre:Governo BolsonaroÓleo dieselPreços

Mais de Brasil

Dino determina que Prefeitura de SP cobre serviço funerário com valores de antes da privatização

Incêndio atinge trem da Linha 9-Esmeralda neste domingo; veja vídeo

Ações isoladas ganham gravidade em contexto de plano de golpe, afirma professor da USP

Governos preparam contratos de PPPs para enfrentar eventos climáticos extremos