Agência de notícias
Publicado em 14 de dezembro de 2024 às 10h36.
Também alvo da operação da Polícia Federal deste sábado (14), o coronel Flávio Peregrino atuou nos últimos anos como assessor do general Walter Braga Netto, preso nesta manhã no Rio de Janeiro. Um mandado de busca e apreensão foi cumprido na residência de Peregrino, em Brasília. Ele não foi detido.
De acordo com informações da PF, o coronel foi citado no inquérito do golpe após uma operação de busca e apreensão na sede do PL encontrar um documento que seria uma espécie de "perguntas e respostas" sobre a delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O documento estava na mesa de Peregrino, que, na época, ocupava um cargo no partido.
"O conteúdo indica se tratar de respostas dadas por Mauro Cid a questionamentos feitos por alguém, possivelmente relacionado ao general Braga Netto, que aparenta preocupação sobre temas identificados pela Polícia Federal relacionados à tentativa de golpe de Estado, evidenciando que o grupo criminoso praticou atos concretos para ter acesso ao conteúdo do Acordo de colaboração firmado por Mauro Cesar Cid com a Polícia Federal", diz o relatório.
Em uma das perguntadas, por exemplo, foi questionado sobre "O que foi delatado" em relação ao "teor das reuniões". A resposta, em primeira pessoa, diz que "nada", porque "não entrava nas reuniões".
"O contexto do documento é grave e revela que, possivelmente, foram feitas perguntas a Mauro Cid sobre o conteúdo do acordo de colaboração realizado por este em sede policial, as quais foram respondidas pelo próprio, em vermelho", afirma a PF.
Conforme divulgado pelo colunista Lauro Jardim, no GLOBO, na definição de um militar próximo aos investigados, "o que o Mauro Cid era para o (Jair) Bolsonaro, o Peregrino era para o Braga Netto".
Em novembro, a PF também apreendeu com Peregrino um manuscrito batizado de Operação 142, que tinha como objetivo final que o então presidente eleito Lula (PT) não subisse a rampa do Palácio do Planalto após a vitória na eleição presidencial de 2022.
A Operação 142 (referência ao artigo 142 da Constituição, interpretado indevidamente como um dispositivo que autorizaria uma intervenção militar no país) previa um conjunto de 6 etapas para, segundo a PF, "implementar a ruptura institucional após a derrota eleitoral" de Jair Bolsonaro.
Braga Netto foi preso em Copacabana, na Zona Sul do Rio. Em seguida, será encaminhado ao Comando Militar do Leste, onde ficará sob custódia do Exército.
Em nota, a PF diz que "mandados judiciais expedidos pelo Supremo Tribunal Federal em face de investigados no inquérito que apurou a tentativa de golpe de Estado para impedir a posse do governo legitimamente eleito em 2022" e que "estão sendo cumpridos um mandado de prisão preventiva, dois mandados de busca e apreensão e uma cautelar diversa da prisão contra indivíduos que estariam atrapalhando a livre produção de provas durante a instrução processual penal".
Braga Netto nega as acusações e tem afirmado que "nunca se tratou de golpe e muito menos de plano de assassinar alguém" e que "sempre primou pela correção ética e moral na busca de soluções legais e constitucionais".
Na conclusão da investigação do inquérito do golpe, a Polícia Federal afirma que o ex-ministro Walter Braga Netto tentou conseguir "informações sobre o acordo de colaboração" do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). De acordo com a PF, essa tentativa ocorreu por meio dos pais de Mauro Cid.
"Outros elementos de prova demonstram que Braga Netto buscou, por meio dos genitores de Mauro Cid, informações sobre o acordo de colaboração", diz o relatório final da investigação, que indiciou Bolsonaro, Braga Netto e outras 35 pessoas.
Em uma troca de mensagens, o general Mario Fernandes, que também foi indiciado, afirma que os pais de Mauro Cid teriam ligado para Braga Netto e o também ex-ministro Augusto Heleno e dito, sobre a delação, que "é tudo mentira".
"Sobre a suposta delação premiada do CID, a Mãe e o Pai dele (CID) ligaram para o GBN e para o GH informando que é tudo mentira!!!", escreveu Fernandes para o coronel reformado Jorge Luiz Kormann.
A mensagem foi enviada no dia 12 de setembro, três dias após o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), homologar a delação de Cid.