Queimadas na Amazônia podem ser vistas do espaço, mostra Nasa
Ontem, Bolsonaro afirmou, sem provas, que ONGs estariam por trás dos incêndios; Salles fala em fake news — mas a Nasa desmente
Tamires Vitorio
Publicado em 22 de agosto de 2019 às 08h37.
Última atualização em 22 de agosto de 2019 às 18h23.
São Paulo — As queimadas que atingem Amazônia desde o fim de julho têm sido tão fortes que podem ser vistas do espaço, segundo fotos do satélite Aqua, divulgadas pela agência espacial dos Estados Unidos, a Nasa , nesta quinta-feira (21).
De acordo com a agência, "o número dos incêndios pode ser um recorde" e a fumaça que aparece nas fotos é o resultado disso. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) , entre janeiro e agosto deste ano, as queimadas aumentaram 83% em relação ao mesmo período do ano passado — o que representa o maior número registrado nos últimos sete anos, com 72.843 pontos de incêndios.
Outros dados do sistema de alertas em tempo real Deter, divulgados também pelo Inpe, mostram um aumento de mais de 40% nos alertas de desmatamento entre agosto e julho.
O mês passado registrou o pior número de alertas de perda de floresta para um mês na série histórica, referentes a 2.254,9 km². No mesmo mês em 2018, o índice foi de 596,6 km², um aumento de 278%.
Como resultado, na última segunda-feira (19), os moradores do estado de São Paulo viram o dia virar noite às 15h da tarde, o que pode ser explicado por conta dos incêndios florestais aliados a uma frente fria intensa, de acordo com especialistas.
Uma análise feita por duas pesquisadoras apontou a presença de partículas das queimadas na chuva que caiu no estado, a 2,2 mil quilômetros de Rondônia, um dos grandes focos das queimadas.
A Nasa afirma, em nota, que, embora a atividade de incêndios florestais tenha aumentado no Amazonas e em Rondônia, está abaixo da média em outros estados, como o Mato Grosso e o Pará. Mesmo assim, o fogo já consumiu mais de 20 mil hectares de vegetação.
Apesar de a época ser propícia para incêndios florestais, já que o tempo seco do inverno contribui para que o fogo se espalhe, a agência americana diz queé em setembro que a atividade atinge seu pico. Neste ano, o auge foi um mês antes — e não aconteceu somente por conta de causas naturais.
Há uma semana atrás, no dia 14 de agosto, depois de fazendeiros do sul do Pará anunciarem o "dia do fogo" (que, segundo eles, serviria para "mostrar trabalho para o presidente Jair Bolsonaro"), o Inpe registrou um aumento nos focos de incêndio na região.
Nesta quarta-feira (21), Bolsonaro afirmou, sem provas, que as ONGs de preservação estariam por trás das queimadas. "O crime existe. Isso temos que fazer o possível para que não aumente, mas nós tiramos dinheiro de ONGs, 40% ia para ONGs. Não tem mais. De modo que esse pessoal está sentindo a falta do dinheiro. Então pode, não estou afirmando, ter ação criminosa desses ongueiros para chamar atenção contra minha pessoa, contra o governo do Brasil”, disse o presidente.
Desde as eleições, Bolsonaro fala em flexibilizar o código florestal brasileiro. Em junho, o presidente assinou uma medida provisória (MP) que extinguia o prazo para os proprietários de terra fazerem o Cadastro Ambiental Rural (CAR). Nesta quinta (22), o tema volta a ser pauta no Senado, apesar da crise que acomete as florestas.
Já o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, afirmou queas notícias sobre os resultados das queimadas eram falsas e criticou o “sensacionalismo ambiental” sobre o tema.
Não é de hoje que o governo adota uma posição contrária aos dados divulgados sobre o desmatamento. No começo deste mês, o então diretor do Inpe, Ricardo Galvão, foi exonerado após os dados citados acima irem a público. Para Bolsonaro, Galvão, estaria “a serviço de alguma ONG” e "a divulgação dos números prejudicaria o país".
Pessoas ao redor do Brasil organizam manifestações contra o desmatamento. Em São Paulo, os atos acontecem nesta sexta-feira (23).