Médico analisa exame: mais de 70% dos usuários que procuraram atendimento de emergência nos últimos dois anos enfrentaram problemas (Chris Hondros/Getty Images/AFP)
Da Redação
Publicado em 15 de agosto de 2012 às 21h18.
Sãp Paulo- Aproximadamente quatro em cada cinco usuários de planos de saúde no estado de São Paulo enfrentaram algum problema relacionado aos serviços prestados pelas operadoras nos últimos dois anos. Entre as principais queixas, estão a lotação das salas de espera nos postos de atendimentos de emergência e a dificuldade no agendamento de consultas médicas e exames diagnósticos. Esses dados foram divulgados nesta quarta-feira pela Associação Paulista de Medicina (APM) e fazem parte de uma pesquisa realizada pelo Datafolha.
O levantamento ainda mostrou que os habitantes do estado que possuem algum convênio médico relataram, no mesmo período, uma média de quatro problemas associados a qualquer tipo de serviço dos planos de saúde. "Foi surpreendente essa alta porcentagem de usuários que tiveram problemas e também a média de dificuldades relatadas. É inaceitável que um sistema em que uma pessoa pague para ter atendimento apresente esses números", afirmou o presidente da APM, Florisval Meinão.
A pesquisa se baseou em questionários aplicados em maio deste ano e respondidos por 804 pessoas maiores que 18 anos, clientes de algum plano de saúde e que haviam utilizado ao menos um serviço nos últimos dois anos. O estudo foi feito em diversas regiões do estado de São Paulo. De acordo com os dados, o usuário de planos de saúde tem, em média, 43 anos, pertence às classes A e B e possui convênios médicos empresariais. Esse levantamento não especificou quais operadoras impõem o maior e o menor número de dificuldades enfrentadas por seus clientes.
Emergências - Segundo o levantamento, o maior índice de problemas enfrentados foi observado em relação aos atendimentos de emergência. Quase 60% dos entrevistados afirmaram ter utilizado esse serviço nos últimos dois anos e, entre eles, 72% disseram ter tido algum tipo de dificuldade. Os principais problemas relatados foram as salas de espera lotadas (67%) e a demora no atendimento (51%). "Essa talvez seja a questão mais impactante de todas, pois mostra um alto índice de problemas em um momento crítico no qual os pacientes estão correndo algum algum risco. Portanto, é inaceitável esse número de problemas", disse Meinão.
Consultas - As consultas médicas, tipo de serviço mais utilizado pelos clientes de planos de saúde — entre os entrevistados por esse estudo, 96% afirmaram ter ido a algum consultório nos últimos dois anos — também apresentaram um alto índice de problemas. Cerca de 65% desses indivíduos enfrentaram algum tipo de dificuldade com serviço, especialmente em relação à demora na marcação das consultas (53%) e ao fato de o médico de preferência ter deixado o plano de saúde (30%). Para Meinão, esses números mostram que há uma grande rotatividade de profissionais entre os convênios médicos, o que reflete as dificuldades que os profissionais enfrentam em relação às operadoras. "Além disso, a demora no agendamento tem sido uma tônica, pois a rede credenciada é muito enxuta", diz. Ele lembrou que a ANS estabeleceu, em 2011, prazos máximos de atendimento, mas que até hoje essa regra não vem sendo cumprida.
Os demais serviços prestados pelos convênios médicos também apresentaram alta incidência de problemas, como é o caso dos exames diagnósticos (40%) e internações hospitalares (40%). No caso dos exames, que só ficam atrás das consultas médicas em relação aos serviços mais utilizados pelos clientes de planos de saúde, a principal dificuldade dos pacientes é a demora no agendamento desses procedimentos (24%) e as poucas opções de laboratórios (24%).
Crítica à ANS - Ainda segundo a pesquisa, um em cada cinco usuários de planos de saúde recorreu ao Sistema Único de Saúde (SUS) ou ao serviço particular por falta de opção de atendimento de sua operadora. Além disso, 1% desses clientes recorreu à Justiça contra alguma operadora — número que equivale a aproximadamente 100.000 processos registrados no estado de São Paulo.
A pesquisa foi entregue a um representante do Ministério Público de São Paulo, o promotor de justiça Carlos César Barbosa. "Não faltam leis que regulem o atendimento desses planos de saúde, o que falta é uma atuação mais enérgica por parte da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar). O Ministério Público pode colaborar com esse processo na medida em que receber demandas coletivas", disse. "Essa pesquisa fornece um quadro geral da situação, não especificando quais são os planos que causam os problemas. Então eu diria que ela é significativa, mas ainda prematura para que haja uma ação do Ministério Público."