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"Quando acordei, tinham 33 caras em cima de mim", diz menor

A adolescente de 16 anos que teve imagens publicadas nas redes sociais depois de ser vítima de estupro coletivo disse que foi atacada por 33 homens armados


	Carros da Polícia Civil do RJ: ela contou que fora visitar o namorado e só lembra de ter acordado, no dia seguinte, "dopada e nua", em uma casa desconhecida, cercada pelos agressores
 (Wikimedia Commons)

Carros da Polícia Civil do RJ: ela contou que fora visitar o namorado e só lembra de ter acordado, no dia seguinte, "dopada e nua", em uma casa desconhecida, cercada pelos agressores (Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 27 de maio de 2016 às 09h31.

Rio - A adolescente de 16 anos que teve imagens publicadas nas redes sociais depois de ser vítima de estupro coletivo disse nesta quinta-feira, 26, em depoimento a policiais da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI), da Polícia Civil do Rio, que foi atacada por 33 homens armados de fuzis e pistolas.

Ela contou que, no último sábado, 21, fora visitar o namorado no morro do Barão, na Praça Seca, zona oeste carioca, e só lembra de ter acordado, no dia seguinte, "dopada e nua", em uma casa desconhecida, cercada pelos agressores.

De acordo com os investigadores, três homens envolvidos no crime já foram identificados e terão a prisão preventiva pedida pela polícia em breve. Dois deles publicaram as imagens na internet. O terceiro aparece no vídeo divulgado nas redes sociais. Os nomes dos acusados não foram divulgados.

No depoimento à Polícia Civil, reproduzido no site da revista Veja, a vítima contou que, depois de acordar, vestiu roupas masculinas e pegou um táxi para casa, no bairro da Taquara, também na zona oeste. A jovem é mãe de um menino de 3 anos.

Ainda de acordo com o depoimento, ela soube, na terça-feira passada, que um vídeo com imagens suas depois do estupro havia sido divulgado nas redes sociais e em sites de relacionamento. Nesse mesmo dia, segundo as informações prestadas à polícia, ela voltou à favela e cobrou do chefe da quadrilha dos traficantes de drogas, não identificado, que devolvesse seu celular, possivelmente furtado no dia do estupro coletivo.

Segundo a jovem, o traficante disse não ter encontrado o celular, mas prometeu ressarcir-lhe o prejuízo. Disse também que se informaria sobre o estupro. A jovem identificou o namorado apenas como Petão, de 19 anos, que conheceu no colégio onde ambos estudam. A vítima disse que se relaciona com Petão há três anos. Ela afirmou que costumava usar ecstasy, lança-perfume e cheirinho da loló, mas que há um mês não se drogava.

No depoimento, a adolescente disse que está "profundamente abalada" e que, desde que foi estuprada, tem sentido muitas dores internas. Na manhã de quinta-feira, ela foi submetida a exames no setor de ginecologia de uma maternidade da rede municipal de saúde. "Quando acordei tinham 33 caras em cima de mim. Só quero ir para casa", disse ela ao sair do hospital, em declaração reproduzida no site do jornal O Globo.

Antes do exame médico, ela prestou depoimento e foi periciada no Instituto Médico-Legal (IML). O pai, que a acompanhou na perícia, disse que, ao chegar em casa no domingo, encontrou a filha "gemendo de dor".

Em entrevista à rádio CBN, a avó afirmou ter ficado chocada com o vídeo, em que um dos homens faz menção a mais de 30 estupradores e afirma: "Essa aqui, mais de 30, engravidou". "O vídeo é chocante, eu assisti, ela está completamente desligada", disse a avó.

Segundo ela, a neta tem o hábito de passar alguns dias sem dar notícias, mas que a família nunca soube que tenha sofrido abusos sexuais. A avó levantou a suspeita de que o estupro coletivo tenha sido "vingança" do namorado, que teria suspeitado de uma traição da garota. Os nomes da jovem e de seus parentes são mantidos em sigilo pela polícia.

Investigação

A publicação e o compartilhamento do vídeo da vítima depois do estupro causaram indignação entre internautas, que pediram que ninguém mais divulgasse o vídeo. As imagens mostram o órgão genital da jovem e a narração do responsável pela publicação: "Olha como tá (sic). Sangrando. Olha onde o trem passou. Onde o trem bala passou a marreta".

Um dos responsáveis pela publicação no Twitter, identificado como Michel, escreveu: "Amassaram a mina, intendeu (sic) ou não intendeu (sic) kkkkk". Foi publicada também uma fotografia de um dos homens diante do corpo da jovem deitado em uma cama.

O caso também é investigado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), que recebeu uma denúncia anônima do estupro coletivo e da divulgação das imagens nas redes sociais. Segundo o MP-RJ, cerca de 800 comunicações do caso foram feitas à Ouvidoria. A promotoria pediu que agora sejam encaminhadas apenas denúncias que tenham informações novas sobre o caso.

Barbárie

A Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro (OAB-RJ) classificou o caso como "barbárie". "Os atos repulsivos demonstram, lamentavelmente, a cultura machista que ainda existe, em pleno século 21", diz a entidade em nota. "Um estupro coletivo, com requintes de crueldade, no qual vários indivíduos perpetuaram a humilhação expondo, nas redes sociais, a dor da vítima", afirma a entidade.

A OAB-RJ atenta ainda para o fato de que, para cada caso público de estupro, tantos outros permanecem ocultos, sem repercussão. "Precisamos lutar contra a violência em cada lar, em cada comunidade, em cada bairro. A revolta e a mobilização são claros indícios de que a indignação social se faz fortemente presente", diz a nota.

Diante do ocorrido, a OAB-RJ afirma que frases machistas, piadas sexistas e propagandas que tornam a mulher um objeto sexual devem ser combatidas, "sob o risco de se tornarem potenciais incentivadoras de comportamentos perversos". A entidade está oferecendo assistência jurídica à família e afirma esperar que a lei prevaleça na punição aos responsáveis. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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