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Programas tratam crise hídrica com superficialidade

Os três principais candidatos ao governo de São Paulo dedicam pouco espaço à ameaça de falta d’água


	Sistema de captação de água do sistema de abastecimento Cantareira
 (Paulo Whitaker/Reuters)

Sistema de captação de água do sistema de abastecimento Cantareira (Paulo Whitaker/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 14 de julho de 2014 às 09h29.

São Paulo - Os três principais candidatos ao Palácio dos Bandeirantes dedicam pouco espaço à ameaça de falta d’água que ronda a Grande São Paulo e parte do interior do Estado nos últimos meses no primeiro documento oficial com propostas de governo nestas eleições.

Na semana em que, pela primeira vez na história, o volume útil do Sistema Cantareira secou, Geraldo Alckmin (PSDB), Alexandre Padilha (PT) e Paulo Skaf (PMDB) entregaram à Justiça Eleitoral um esboço do programa com propostas pouco objetivas sobre o tema, segundo especialistas ouvidos pelo Estado.

O tucano dedicou 1,4% de todas as palavras que compõem suas diretrizes para questão da água; Skaf reservou 3,6%, e Padilha, 0,5%.

A crise hídrica no Sistema Cantareira, que abastece parte da Grande São Paulo e a região de Campinas, está na ponta da língua dos postulantes ao Palácio dos Bandeirantes desde antes de a campanha começar oficialmente, no domingo passado.

Os discursos de Padilha e de Skaf estão carregados de críticas e acusam o governador Geraldo Alckmin pelos riscos enfrentados pela população. Nenhum dos candidatos, porém, traduz as críticas em propostas efetivas nos documentos apresentados à Justiça Eleitoral.

Segundo dados disponíveis no site da Sabesp, órgão responsável pela distribuição de água na região metropolitana, o Sistema Cantareira operava na sexta-feira com 18,6% de sua capacidade, hoje constituída integralmente pela água vinda do "volume morto" - reserva de água do fundo do reservatório.

As diretrizes do programa petista são consideradas as mais "fracas" pelos especialistas ouvidos. Coordenadores do programa de Padilha fazem apenas três menções ao termo "água" nas 19 páginas do documento.

O programa assinado pelo candidato petista não esclarece pontualmente o que vai fazer para combater a crise hídrica caso seja eleito governador.

"São fundamentais políticas que assegurem o direito à cidade, à cultura, ao esporte e ao lazer, promovam a inclusão no mercado de trabalho, enfrentem o déficit habitacional, universalizem o abastecimento de água e melhorem a qualidade do transporte público", diz um dos trechos do texto.

As outras duas ocorrências da palavra nas diretrizes de Padilha ocorrem nas passagens em que o petista aborda a questão dos mananciais e para criticar a gestão tucana na administração da crise hídrica.

"O programa do Padilha é o mais fraco do ponto de vista de água, de tratar do tema de segurança hídrica. É um programa genérico ambiental, está em qualquer livro de engenharia ambiental", diz o presidente do Conselho Mundial da Água e professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), Benedito Braga.

O vice na chapa de Padilha, Nivaldo Santana (PC do B), foi presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Sintaema), entidade que representa funcionários da Sabesp. Santana ainda tem influência no setor.

Desperdício. Nas diretrizes de Skaf, documento de 25 páginas dividido em tópicos, o tema da água é tratado pelo peemedebista com mais objetividade. Cita, por exemplo, uma proposta contra o desperdício e outra na qual sugere prioridade na questão do tratamento de esgoto.

A crise hídrica é abordada no esboço do programa de Skaf no item "Abastecimento de água" e vem seguida das propostas para o setor.

"A Sabesp deve investir para redução significativa das perdas. Investir em fontes alternativas para a captação e o armazenamento de água para o abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo. Utilizar PPPs (parcerias público-privadas) na coleta, no tratamento e no destino do esgoto tratado e de seu resíduo", afirma o documento do peemedebista.

Estudiosos avaliam que as diretrizes menos genéricas para o problema hídrico são as de Alckmin, mas ponderam que, por ele disputar a reeleição e já estar no governo há quatro anos, deveria detalhar ainda mais suas propostas para um tema que fragilizou os últimos meses de seu mandato. Dos 20 anos que o PSDB está no comando do Estado, Alckmin totaliza nove no posto.

São Lourenço. O documento da campanha tucana aborda a questão hídrica no capítulo "Saneamento Ambiental".

O texto pontua, por exemplo, a proposta de acelerar as obras do Sistema São Lourenço - parceria público-privada da atual gestão que prevê captação, armazenamento e tratamento de água para atender o oeste e o sudoeste da Grande São Paulo, atingindo cerca de 1,5 milhão de pessoas. A obra está prevista para ser entregue em 2018.

"Acelerar a implantação do Sistema Produtor de Água São Lourenço, aumentando a capacidade de produção de água tratada para a Região Metropolitana", diz o documento.

"O do Alckmin é o mais objetivo", diz Braga. Coordenadora da Rede Águas, órgão vinculado à ONG SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro destaca a proposta de recuperação de mananciais. "É muito importante para a produção de água. É a lição de casa que a gente não fez. Mas já faz 20 anos que o PSDB está no poder. Por que não foi feito antes?"

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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