Processo que ameaça Renan abre “guerra de versões” no STF
Na prática, a lentidão do STF em concluir o julgamento sobre o veto de réus na linha sucessória da Presidência da República beneficia Renan
Estadão Conteúdo
Publicado em 2 de dezembro de 2016 às 21h34.
Brasília, 02 - Um processo que ameaça a permanência de Renan Calheiros (PMDB-AL) na Presidência do Senado Federal abriu nesta sexta-feira, 2, uma "guerra de versões" entre os ministros Marco Aurélio Mello e Dias Toffoli.
Na prática, a lentidão do STF em concluir o julgamento sobre o veto de réus na linha sucessória da Presidência da República beneficia Renan, que se tornou nesta quinta-feira, 1, réu por peculato e é o segundo na linha sucessória do presidente Michel Temer.
Em novembro, o STF formou maioria para que réus não possam fazer parte da linha sucessória do presidente da República, mas o julgamento foi interrompido depois do pedido de vista de Toffoli.
Se esse julgamento já tivesse sido concluído, o peemedebista teria de deixar agora a presidência do Senado, por ter se tornado réu por peculato.
Um dia depois de Renan se tornar réu pela primeira vez perante o STF, o gabinete de Toffoli informou, em nota enviada à imprensa às 16h53, que "não recebeu os autos" do processo da linha sucessória e, por essa razão, "o prazo para devolução da vista ainda não se iniciou".
Segundo o gabinete de Toffoli, os autos do processo, sob relatoria de Marco Aurélio, chegaram ao gabinete às 17h20.
Marco Aurélio foi um dos seis ministros do STF que já votaram pelo veto aos réus. O ministro também votou no sentido de acolher a denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Renan pelos crimes de peculato, falsidade ideológica e uso de documentos falsos.
Por 8 a 3, o STF decidiu receber a denúncia da PGR contra Renan apenas por peculato - Toffoli votou pela rejeição total da denúncia.
Procurado pela reportagem, o gabinete de Marco Aurélio apresentou uma outra versão e afirmou que o processo é eletrônico, não dependendo, portanto, de deslocamento físico ou formal.
"Os ministros têm acesso automático, antes mesmo de ser liberado, pelo relator, para julgamento", rebateu o gabinete de Marco Aurélio, que foi surpreendido pela nota de Toffoli.
Em meio à "guerra de versões" dos ministros, a Rede - que ajuizou a ação - informou que conta com o apoio da sociedade, "que deve manter a pressão para que o processo possa continuar caminhando".
O prazo regimental para a devolução do pedido de vista de Toffoli se encerra no dia 21 de dezembro. No entanto, auxiliares do STF destacam que tradicionalmente os prazos não são cumpridos à risca pelos ministros.