Privatização da Eletrobras já tem data marcada: agora vai?
Próxima semana deverá ser decisiva para capitalização da maior empresa de energia da América Latina; trabalhadores poderão usar recursos do FGTS para compra de ações
Carla Aranha
Publicado em 31 de maio de 2022 às 12h04.
Última atualização em 31 de maio de 2022 às 12h50.
O processo de privatização da Eletrobras , considerada a maior empresa de energia da América Latina, deve entrar na reta final na próxima semana. No dia 9, deverá ser fixado o preço das ações. O passo seguinte é a capitalização em si, com a oferta de ações na B3, em São Paulo, no dia 13 — na bolsa de Nova York, nos Estados Unidos, as negociações começam um pouco antes, no dia 10.
A estatal deverá ser a maior empresa pública vendida em mais de 20 anos, desde a privatização da Telebras, no final da década de 1990, que arrecadou cerca de R$ 22 bilhões. As discussões sobre a desestatização da Eletrobras não vêm de hoje: o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) chegou a incluir a estatal no programa nacional de desestatizações. Mas a venda da megaestatal acabou esbarrando em resistências. Em 1999, o ex-presidente Itamar Franco, então governador de Minas Gerais pelo PMDB, chegou a ordenar o envio de 2,5 mil policiais militares para proteger a hidrelétrica de Furnas e impedir a privatização.
O embate continuou nos anos seguintes. Em 2004, foi editada uma lei que vetava a desestatização da companhia e suas subsidiárias, como Furnas e a Eletronorte, além de proibir a realização de estudos de modelagem econômica sobre a venda da estatal.
Em 2017, com Michel Temer na Presidência, a intenção de privatizar a empresa foi retomada. Foi então editada a Medida Provisória (MP) 814, que revogava os impedimentos para a venda da Eletrobras. No ano seguinte, a MP caducou. O governo então enviou ao Congresso o projeto de lei 9.463, que propunha a capitalização da empresa, com diluição da participação estatal, também sem sucesso. As propostas de legislação referentes ao tema foram sendo reformuladas até que, em 2021, a Câmara dos Deputados e o Senado aprovaram a desestatização da empresa nos moldes deoferta pública de ações atrelada ao processo de descotização das usinas hidrelétricas.
Para ser concretizada, a privatização da Eletrobras depende agora da resolução de um último imbróglio, relativo a um processo judicial sobre atrasos na construção daUsina Hidrelétrica de Santo Antônio, em Rondônia. A usina entrou com uma ação contra o grupo responsável pela obra, o Consórcio Construtor Santo Antônio, e perdeu. A Justiça determinou uma indenização de mais de R$ 1,6 bilhão ao consórcio. Agora, será necessário aumentar o capital do grupo gestor da Usina Hidrelétrica de Santo Antônio para arcar com os custos da ação. Para isso, o conselho de administração de Furnas precisa se reunir a fim de deliberar a respeito do aporte financeiro — a assembleia está agendada para o próximo dia 6.
Caso tudo dê certo, a privatização da Eletrobras, aprovada no dia 18 de maio pelo Tribunal de Contas da União (TCU), deve levantar cerca de R$ 67 bilhões nos próximos anos—a expectativa é que a oferta pública de ações agendada para o dia 13 movimente algo ao redor de R$ 30 bilhões.
A capitalização prevê que cerca de R$ 25,3 bilhões sigam diretamente para os cofres públicos. Outros R$ 32 bilhões serão destinados àConta de Desenvolvimento Energético (CDE), ao longo de 25 anos, para aliviar reajustes nas tarifas e turbinar eventuais políticas setoriais. Quase R$ 10 bilhões deverão ser investidos em melhorias de bacias hidrográficas.
FGTS liberado para compra de ações
As regras para a utilização do FGTS para compra de ações da Eletrobras pressupõem o valor mínimo de aplicação de R$ 200 por pessoa—pode ser aplicado até metade do saldo disponível na conta. A operação deve ser feita pelo aplicativo do FGTS.
O segundo passo é autorizar uma instituição bancária em que o usuário possui contaa realizar a reserva dos valores, o que deve ser feito entre os próximos dias 3 e 8. As consultas necessárias podem ser realizadas por meio do aplicativo ou em agências da Caixa Econômica Federal.
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