Roberto Setubal: empresário acredita que a saída da crise será longa e o período de recuperação será lento (Fabiano Accorsi)
Vanessa Barbosa
Publicado em 23 de agosto de 2015 às 18h09.
São Paulo - Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, o presidente do Itaú Unibanco, Roberto Setubal, defendeu a permanência de Dilma Rousseff no Planalto e disse que a saída da presidente "criaria uma instabilidade ruim para a nossa democracia".
Desde 1995 no comando do maior banco privado do país, o empresário afirmou que um impeachment por corrupção não tem cabimento uma vez que "não há nenhum sinal de envolvimento dela [Dilma] com esquemas de corrupção".
E ainda elogiou as investigações sobre o tema: "Era difícil imaginar no Brasil uma investigação com tanta independência. A Dilma tem crédito nisso".
Apesar de ser contra o impeachment da presidente, Setúbal considera "graves" as chamadas pedaladas fiscais e diz que tais manobras para melhorar as contas do governo "podem merecer algum tipo de punição", mas que, ao seu ver, "não parecem ser motivo para tirar a presidente".
Questionado a respeito do comportamento da oposição nessa crise, Setúbal não fez críticas diretas, mas lamentou a falta de debate sobre as reformas necessárias para que o país possa se recuperar. "Há uma grande discussão sobre poder e pouca discussão sobre o país", afirmou.
Segundo o empresário, a chamada Agenda Brasil ( um conjunto de propostas elencadas pelo presidente do Senado Renan Calheiros, com o objetivo de impulsionar a economia) traz passos necessários como a "reoneração da folha de pagamento", mas no geral são "medidas menores para ir levando o país a sair um pouco dessa crise".
Setúbal defendeu "reformas mais amplas", como a redução do número de partidos. Para ele, na busca pela maioria no Congresso, "o governo acaba fazendo tantas concessões para satisfazer tantos partidos que desfigura projetos, leva a ineficiência, a decisões erradas e interesses muito pequenos".
O presidente do Itaú Unibanco também se disse favorável à realização de uma reforma trabalhista ("criou-se uma indústria de ação trabalhista no Brasil"), além da criação de uma agenda de produtividade, com "maior abertura econômica".
Ele acredita que a saída da crise será longa e o período de recuperação será lento. "Estamos vivendo aquele momento mais difícil em que as medidas duras foram tomadas e a gente ainda não tem nenhum benefício delas", avaliou.