Novo ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
Carolina Riveira
Publicado em 29 de junho de 2020 às 14h26.
Última atualização em 29 de junho de 2020 às 16h48.
A posse do novo ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli, foi adiada nesta segunda-feira, 29. O adiamento acontece após reveladas incoerências no currículo acadêmico do ministro.
A cerimônia para posse do novo mandatário do Ministério da Educação (MEC) estava marcada para esta terça-feira, 30, às 16 horas, mas não há previsão do Planalto para nova data de posse por ora, segundo a agência Reuters.
Depois das denúncias sobre seu doutorado e mestrado, o governo estaria repensando se vai manter Decotelli no cargo, segundo o Estado de S. Paulo. O próprio grupo militar que indicou o ex-professor está constrangido porque foi surpreendido pelos problemas acadêmicos e está avaliando a repercussão do caso. Ele também perdeu o apoio que tinha entre professores da Fundação Getulio Vargas (FGV). Enquanto isso, alas mais ideológicas estão fortemente tentando derrubá-lo antes mesmo de tomar posse.
Sua nomeação foi publicada no Diário Oficial depois do nome anunciado. Durante o fim de semana, a crise aumentou e Decotelli chegou a divulgar uma carta mencionando que sua tese de doutorado não teve a defesa autorizada.
"Seria necessário, então, alterar a tese e submetê-la novamente à banca. Contudo, fruto de compromissos no Brasil e, principalmente, do esgotamento dos recursos financeiros pessoais o ministro viu-se compelido a tomar a difícil decisão de regressar ao país sem o título de Doutor em Administração." Ele também afirmou que iria revisar o trabalho de mestrado na FGV.
Desde que foi anunciado como novo ministro da Educação, Decotelli passou a ter as informações de seu currículo questionadas.
Ao anunciar o sucessor de Abraham Weintraub na pasta, o presidente Jair Bolsonaro mencionou a formação do professor: "Decotelli é bacheral em Ciências Econômicas pela Uerj, Mestre pela FGV, Doutro pela Universidade de Rosário, Argentina, e Pós-doutor pela Universidade de Wuppertal, na Alemanha", escreveu nas redes sociais na quinta-feira, 25.
No dia seguinte, o título de doutor do novo ministro da Educação foi questionado por Franco Bartolacci, reitor da Universidade Nacional de Rosário, que disse que Decotelli não conclui o doutorado. "Cursou o doutorado, mas não o concluiu, pois lhe falta a aprovação da tese. Portanto, ele não é doutor pela Universidade Nacional de Rosário, como chegou a se afirmar."
A reportagem procurou o MEC, que enviou um documento da Universidade de Rosário mostrando que Decotelli cursou todos os créditos do curso. Não foi esclarecido se isso basta para lhe conferir o título de doutor. Segundo disse o reitor da universidade argentina em entrevistas, Decotelli de fato cursou o doutorado, mas não teve a tese aprovada.
No sábado, 27, a dissertação de mestrado do ministro também foi colocada sob suspeita após o economista Thomas Conti apontar, no Twitter, possíveis indícios de cópia no trabalho, de 2008. Ele citou trechos na dissertação idênticos a um relatório do Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul) para a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A FGV informou que vai investigar a suspeita de plágio.
O pós-doutorado na Alemanha também passou a ser debatido após a universidade fornecer informações diferentes das que constam no currículo do ministro.
"Tem um simbolismo muito grande ele ter sido desmentido por duas universidades estrangeiras e ainda tem problemas no mestrado", disse ao Estado de S. Paulo o deputado estadual e secretário-geral da Frente Parlamentar Mista de Educação, Israel Batista (PV-DF).
Segundo ele, vários deputados da Frente consideraram esperar a situação do ministro para convidá-lo para uma conversa na Câmara. A comissão de Educação da Câmara também está reavaliando o convite para a participação do ministro, marcada para quinta-feira.
A disputa pelo comando do MEC mobilizou as alas ideológica, militar e civil do Planalto. Decotelli, que é oficial da reserva da Marinha, acabou sendo o escolhido por Bolsonaro como uma alternativa apaziguardora e técnica para a função. O objetivo era reparar o desgaste da imagem do ministério após a gestão de Abraham Weintraub.