Brasil

Por que o Congresso levou 18 h para aprovar a manobra fiscal

Oposição usou votação para criticar gestão econômica do governo, já aliados aproveitaram para reivindicar ministérios; resultado foi uma discussão interminável.

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

Mariana Desidério

Mariana Desidério

Publicado em 4 de dezembro de 2014 às 08h54.

São Paulo – O texto da manobra fiscal foi finalmente aprovado pelo Congresso na madrugada de hoje, numa sessão que durou mais de 18 horas. A discussão foi uma das mais longas do Legislativo.

O projeto permite ao governo cumprir a meta de superávit primário estabelecida no final de 2013, mesmo com o déficit acumulado ao longo deste ano.

A votação, no entanto, ainda não terminou. Os congressistas deixaram uma última emenda para ser votada na próxima terça-feira.

Tanta demora teve três causas principais: o tumulto gerado por manifestantes, que foram impedidos de assistir à sessão; a resistência dos oposicionistas em aprovar a medida; e a relutância dos parlamentares da própria base aliada.

Também contribuiu o fato de que, antes de votar a manobra fiscal, os congressistas precisaram decidir sobre dois vetos da presidente Dilma Rousseff.

Responsabilidade Fiscal

Impedidos de entrar no Congresso para assistir à discussão, manifestantes contrários ao projeto fizeram barulho do lado de fora. Dentro do plenário, a sessão a portas fechadas foi motivo de críticas de parlamentares da oposição, o que ajudou a alongar sua duração.

Mas os oposicionistas também tinham outros motivos para resistir à aprovação do texto. Isso porque a manobra fiscal permite que a presidente Dilma Rousseff encerre o ano sem descumprir o compromisso de superávit primário firmado anteriormente. Sem isso, a presidente poderia enfrentar problemas com a Lei de Responsabilidade Fiscal. 

Num momento de polarização acirrada entre governo e oposição, os congressistas capitaneados pelo PSDB não perderam a oportunidade: “O Congresso Nacional está hoje ferindo de morte um dos pilares da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF)", afirmou o senador Aécio Neves (PSDB).

Derrotado nas eleições presidenciais de outubro, Aécio também aproveitou para criticar mais uma vez a campanha petista. "Se estamos votando hoje esse projeto , é porque não foi dado à população conhecer a verdade do que ocorria no Brasil", disse.

Emendas parlamentares

Outro ponto que irritou a oposição foi um decreto assinado por Dilma vinculando a liberação de R$ 444 milhões em emendas à aprovação da flexibilização da meta de superávit. Os parlamentares acusaram a presidente de chantagem.

E não foram só eles que se sentiram pressionados com a ameaça às emendas. A própria base aliada não gostou da vinculação. Resultado: os governistas também impuseram obstáculos à manobra fiscal.

Outro tema que reduziu o ânimo de aliados para a aprovação do texto foi a reforma ministerial. Parlamentares de partidos como PMDB, PP e PR aproveitaram a votação para mandar um recado à presidente – eles querem mais espaço na esplanada dos ministérios.

A dificuldade de votação da manobra fiscal pode ser um prelúdio de como será a vida da presidente Dilma Rousseff no Congresso no próximo governo. Com um quadro econômico delicado, Dilma precisará pacificar o Legislativo a fim de conseguir mais facilidade na aprovação de projetos nesta área. 

Acompanhe tudo sobre:CongressoDéficit públicoOposição política

Mais de Brasil

Inmet emite alerta de 'grande perigo' enquanto chuva atinge 18 estados; veja previsão

Após sucesso de ‘Ainda Estou Aqui’, Lula cria Prêmio Eunice Paiva de Defesa da Democracia

Coalizão lança manifesto assinado por mais de 60 entidades contra decisão de Zuckerberg sobre Meta

Ministro da Defesa reforça apoio às investigações do 8/1: ‘Essa será a grande festa’