O MSC Armonía, por sua vez, zarpa com o restante dos 1,5 mil passageiros e continua a sua rota, que termina em Veneza (Divulgação)
Agência de notícias
Publicado em 4 de abril de 2024 às 10h11.
As autoridades espanholas decidiram o destino dos 69 bolivianos que viajavam com vistos falsos num cruzeiro que saiu do Brasil e atracou no porto de Barcelona, nesta terça-feira. Após dois dias com a embarcação retida, os bolivianos desembarcaram na manhã desta quinta-feira e serão submetidos a um processo administrativo para tratar da deportação de volta à Bolívia. A intenção final, que a maioria não escondeu, era chegar a Barcelona e instalar-se na Espanha para trabalhar e melhorar as suas condições de vida.
O MSC Armonía, por sua vez, zarpa com o restante dos 1,5 mil passageiros e continua a sua rota, que termina em Veneza.
Concluído o desembarque, os 69 bolivianos — entre os quais 14 menores — foram transferidos para uma “zona de trânsito”, onde “foi-lhes negado o acesso ao território espanhol”, conforme informou a Delegação do Governo.
Os agentes montaram um pequeno escritório ao pé do terminal para realizar os trâmites de imigração, que “serão realizados com urgência para que tenham a resolução o mais rapidamente possível”. Funcionários do Consulado da Bolívia e advogados especialistas em imigração estão presentes para auxiliar os viajantes.
Muito provavelmente, este procedimento culminará na deportação dos 69 passageiros para a Bolívia. Embora possam solicitar asilo, fontes especializadas no assunto consideram que têm poucas chances de sucesso, uma vez que o seu país não cumpre os requisitos para tal.
Os passageiros argumentam, como sustentam os seus familiares, que foram vítimas de fraude por parte de uma agência de viagens que lhes vendeu uma oferta que incluía o cruzeiro e um visto válido para a Europa. Famílias que viajam com crianças têm maiores chances de que sua solicitação tenha alguma chance de ser bem-sucedida.
Enquanto tramitam esses procedimentos de negação de entrada, os bolivianos serão realojados pela MSC em uma balsa que chega de Livorno (Itália) e permanecerá ancorada no porto de Barcelona. Se a sua deportação for finalmente acordada, será feita por via aérea e será paga pela companhia marítima, que provavelmente os transportará de volta a La Paz. Esses passageiros deixaram seu país em março e embarcaram no MSC Armonía no Brasil.
Com cerca de 1,5 mil passageiros a bordo, o navio chegou ao porto de Barcelona às 7h da manhã desta terça-feira. A Polícia impediu o desembarque dos bolivianos, mas não impediu que o navio zarpasse para o próximo destino. No entanto, sendo Barcelona a última paragem antes da transferência do cruzeiro para França e Itália, as autoridades espanholas tiveram de assumir o controle da situação.
Ao longo de toda quarta-feira, as negociações decorreram ao mais alto nível, e envolveram vários atores: a Delegação do Governo, a Polícia, o porto de Barcelona, a empresa e a Embaixada da Bolívia e um juiz de serviço de Barcelona.
O navio saiu de Santos, no litoral de São Paulo, e tem como destino partes do Mediterrâneo e, por fim, a Itália. Com a embarcação presa, os passageiros a bordo ficaram encalhados, sem poder sair ou continuar a viagem, aguardando que o governo espanhol ditasse a forma correta de proceder.
Às 13h desta quarta-feira, a companhia marítima permitiu que o restante dos viajantes deixasse o navio por algumas horas. Familiares dos bolivianos chegaram de cidades de toda a Espanha e os aguardam no terminal.
O Corpo Nacional de Polícia informou que as irregularidades foram descobertas depois que o navio partiu. O cruzeiro, no entanto, fez uma parada prévia em Tenerife. Todos os passageiros (incluindo os bolivianos) puderam desembarcar e visitar brevemente a ilha canária, onde não foi detectada a falta de documentação.
A situação mudou quando chegaram ao controle migratório do porto catalão. As autoridades observaram que os passageiros bolivianos não possuíam a documentação necessária para ingressar no espaço Schengen, como é chamada a área de livre circulação de vários países europeus com fronteiras comuns.
Assim, não só puderam desembarcar em território espanhol, como o navio ficou encalhado no porto enquanto a companhia de cruzeiros foi solicitada a se responsabilizar pelo retorno dos cidadãos ao seu país de origem. Vale ressaltar que a estadia irregular é considerada uma infração administrativa grave na Espanha, podendo implicar multas que variam de 500 a 10 mil euros — Entre R$ 2,7 mil e R$ 54,6 mil, aproximadamente, na cotação atual.
Por sua vez, a MSC emitiu um comunicado garantindo trabalhar “com as autoridades espanholas para gerenciar uma situação com um número de passageiros da Bolívia, que inclui famílias e crianças, que estão viajando com documentação inválida”. Como defesa, alegaram que quando embarcaram no Brasil “pareciam ter a documentação apropriada”.
Além disso, o Ministério das Relações Exteriores da Bolívia emitiu um comunicado responsabilizando a empresa e apontando que eles devem “oferecer uma solução imediata” a esses passageiros, já que “sua obrigação era verificar os documentos de entrada ou saída para qualquer destino” para “evitar esse tipo de imprevisto”.
O conflito levanta uma nova preocupação para as autoridades policiais, já que este cenário as coloca diante da possibilidade de que, com os cruzeiros, uma rota se abra para a chegada de imigrantes em situação irregular.
Essa problemática aumentou consideravelmente nos últimos anos devido às fortes crises enfrentadas por países da América Latina, África e Ásia. Somado a isso, as consequências de guerras como a da Rússia e Ucrânia provocaram uma grande mobilização de cidadãos que buscam escapar desesperadamente de seus lares e tentar uma nova vida em regiões como Espanha, Reino Unido e França.