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"Podem até matá-lo, pois não provarão nada contra ele", diz irmão de Lula

Frei Chico foi responsável por colocar o irmão e ex-presidente na vida sindical durante a ditadura militar

Lula: ex-presidente foi condenado em primeira instância a nove anos e seis meses de prisão em julho de 2017 (Ricardo Moraes/Reuters)

Lula: ex-presidente foi condenado em primeira instância a nove anos e seis meses de prisão em julho de 2017 (Ricardo Moraes/Reuters)

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EFE

Publicado em 3 de maio de 2019 às 11h04.

Última atualização em 3 de maio de 2019 às 11h06.

São Paulo — Frei Chico foi o responsável por introduzir o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu irmão, na vida sindical em plena ditadura militar e hoje o defende com todas as forças das condenações e denúncias por corrupção: "Podem até matá-lo, porque não provarão nada".

José Ferreira da Silva é conhecido por todos como Frei Chico. Com 76 anos, três a mais que Lula, demonstrou em entrevista à Agência Efe em São Paulo a mesma determinação que seu irmão, a quem visita sempre que pode na sede da Polícia Federal em Curitiba, onde cumpre uma pena de oito anos e dez meses por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Frei Chico brinca que Lula sairá da prisão com um doutorado devido à "quantidade de livros que devora" em sua cela - o último, sobre a história do petróleo -, mas logo muda o semblante ao defender seu irmão do que considera uma "trama" para evitar sua volta ao cargo.

"Lula está tranquilo, podem até matá-lo porque não provarão nada, porque ele não fez nada. Lula não roubou nada", declarou Frei Chico na sede do Sindicato Nacional dos Aposentados em São Paulo, instituição que assessora e onde recebeu a Efe.

Comunista declarado, Frei Chico alega que o encarceramento do seu irmão faz parte de um plano orquestrado em última instância pelos Estados Unidos e no qual participam a elite e alguns meios de comunicação do país.

"Ele está consciente de que querem desmoralizá-lo e acabar com ele", destacou.

Segundo Frei Chico, Lula continua com a moral firme e as duas penas ditadas contra o líder do PT são uma "montagem" para "destrui-lo".

"Onde estão as provas?", se perguntou indignado.

Lula foi condenado em primeira instância a nove anos e seis meses de prisão em julho de 2017, depois que o juiz Sergio Moro, hoje ministro de Justiça no governo do presidente Jair Bolsonaro, deu por comprovado que recebeu um triplex da construtora OAS em troca de favores políticos para essa empresa.

Em janeiro de 2018, um tribunal de segunda instância ratificou essa sentença e ampliou a condenação para 12 anos e um mês. No entanto, o Tribunal Superior de Justiça a reduziu para oito anos e dez meses no mês passado.

Desta forma, o ex-presidente poderia passar para um regime de prisão domiciliar em setembro deste ano, embora Frei Chico tenha se mostra cético diante dessa possibilidade.

"Eu não acredito em nada", declarou.

A descrença pode ter a ver com o fato de que sobre Lula pesa uma segunda condenação de outros 12 anos e 11 meses de prisão, ditada em fevereiro também por corrupção passiva e lavagem de dinheiro e que, se for confirmada em segunda instância, poderia frustrar a possibilidade de terminar de completar sua primeira pena em casa.

Seu irmão considera que o Poder Judiciário "pode fazer de tudo" e denuncia que há "uma pressão muito violenta" sobre o Supremo Tribunal Federal (STF) para evitar a libertação de Lula.

"O Supremo está composto de seres humanos, pais de família que se amedrontam. Têm um emprego vitalício, suas vidas estão garantidas e só têm que interpretar as leis. A vaidade se apoderou de alguns deles", opinou.

Além de fiel escudeiro, Frei Chico também é o principal responsável por Lula ter se tornado o presidente mais popular da história do Brasil, uma vez que levou seu irmão metalúrgico à vida sindical, onde se forjou politicamente em plena ditadura militar.

Frei Chico ofereceu ao irmão a chance de participar da chapa de um companheiro para ocupar um posto na direção do sindicato da categoria, mas Lula resistiu à ideia inicialmente.

"Em um primeiro momento não quis aceitar, eu lhe disse que era importante, mas em 1966, 1967, 1968 ainda havia repressão e medo do sindicalismo porque era perigoso", lembrou.

No final, Lula aceitou e iniciou sua caminhada no movimento sindical, para depois transformar-se no líder político que fundaria o PT, partido com o qual perderia três eleições presidenciais antes de chegar ao cargo em 2002 e ser reeleito em 2006.

"Se preparou, estudou muito, bastante, para ser dirigente sindical e depois se transformou no que se transformou", destacou Frei Chico, embora considere que o irmão falhou ao não fazer uma coisa "fundamental" durante seu mandato: "Reformar os meios de comunicação e a imprensa" que são, em alguns casos, "antidemocráticos".

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