PMDB é 'coadjuvante' mais bem-sucedido da América Latina
Essa é uma das conclusões do estudo financiado pela FGV, que considerou países que têm vivido na zona de conforto das disputas presidenciais no continente
Estadão Conteúdo
Publicado em 18 de dezembro de 2016 às 12h16.
Brasília - O PMDB vive no centro da crise política atual. Para o Palácio do Planalto, o partido virou a bola da vez dos investigadores da Lava Jato. Agora no poder, o PMDB é o partido mais exitoso entre os que têm vivido na zona de conforto das disputas presidenciais na América Latina. Essa é uma das conclusões do estudo financiado pela Fundação Getulio Vargas - Muito Difícil de Administrar, Muito Grande para Ignorar -, dos pesquisadores Carlos Pereira, Samuel Pessôa e Frederico Bertholini.
O trabalho, inédito com previsão de lançamento no Brasil no próximo trimestre, localizou partidos de toda a região com características atribuídas formalmente ao PMDB. A identidade peemedebista, portanto, consiste em partidos com ampla distribuição nacional, grande representação legislativa nos municípios e Estados, fragmentação interna por interesses regionais e individuais, ideologia amorfa e sem uma agenda política definida.
Esse perfil é denominado na pesquisa como "legislador mediano", ou seja, partido coadjuvante em presidencialismo multipartidário que prefere atuar nos domínios legislativos a apresentar candidatos competitivos em disputa majoritária. Vive sem correr muitos riscos. "São partidos que preferem trilhar um caminho fundamentalmente legislativo ao não apresentar candidatos competitivos para a Presidência da República. Ou seja, têm grande flexibilidade política e ideológica para fazer parte de governos com perfil mais liberal ou mais conservador", diz o cientista político Carlos Pereira.
Na América Latina, o PMDB é o partido que aproveita mais as oportunidades da condição de legislador mediano. Essa trajetória começou com a derrota de seu último candidato ao Palácio do Planalto, Orestes Quércia, em 1994. Manteve-se nessa posição até o impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff, em maio deste ano. A partir daí, tornou-se majoritário sem ter lançado candidato à Presidência em 2014. "As derrotas eleitorais de Ulysses (Guimarães, em 1989) e Quércia geraram não apenas perdas dos seus respectivos candidatos à Presidência, mas também para o partido em todas as esferas municipal, estadual e legislativa. Essas derrotas foram um duro aprendizado para o PMDB, pois ajudaram a solidificar uma trajetória eminentemente legislativa para o partido", confirma Pereira.
A chegada não programada teria gerado desconforto entre seus quadros, segundo os pesquisadores. "Com o impeachment, foi alçado à trajetória majoritária presidencial, o que gerou bastante desconforto e resistências de algumas de suas lideranças regionais que não estavam tão dispostas a correr os maiores riscos inerentes dessa rota. Desde que o presidente Temer assume a Presidência, várias lideranças do PMDB pagaram preços muito altos, tais como Renan Calheiros, Eduardo Cunha, Sérgio Cabral, Geddel Vieira Lima, entre outros", aponta.
A mudança de posição do PMDB lançou automaticamente o PSDB à uma colocação provisória de partido mediano, no sentido definido pela pesquisa daquele que desempenha um papel de apoio à atual Presidência, ainda que tenha apresentado candidatos ao Palácio do Planalto em todas as eleições majoritárias do período da redemocratização. "Para mim, o PSDB é hoje o PMDB do PMDB", diz.
Um cálculo vitorioso não pode prescindir de uma legenda peemedebista em nenhuma disputa presidencial, visto que sai, inclusive, até mais barato para a aliança, o que vem a ser a outra descoberta da pesquisa. "É mais caro para o presidente quando ele governa com muitos partidos pequenos do que com um partido com perfil do PMDB", revela Pereira. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.