PM reformado confessa prática sistemática de tortura
Confissão foi feita por Riscala Corbage em depoimento de mais de três horas aos procuradores do Ministério Público Federal
Da Redação
Publicado em 20 de maio de 2014 às 21h00.
Rio de Janeiro - "Às vezes eu era chamado para a sala do ponto, a primeira sala, era a sala mais terrível, até o diabo, se entrasse ali, saía em pânico".
A descrição de um dos locais onde presos políticos eram torturados, no Batalhão da Polícia do Exército, na Tijuca (zona norte), é do policial militar reformado Riscala Corbage, feita em depoimento de mais de três horas aos procuradores do Ministério Público Federal (MPF) que ontem denunciaram cinco militares por homicídio e ocultação de cadáver do deputado Rubens Paiva, em janeiro de 1971.
O policial não está entre os denunciados e sustentou que não participou da operação que resultou na morte de Rubens Paiva. Mas confessou e deu detalhes sobre a prática sistemática de tortura na ala do batalhão ocupada pelo Destacamento de Operações de Investigações (DOI), onde Rubens Paiva morreu. O corpo do deputado nunca foi encontrado.
Integrante da "subseção de interrogatório do DOI", Corbage informou que as celas do batalhão chegaram a manter, simultaneamente, setenta presos políticos.
O depoimento do policial aposentado ajudou a embasar a denúncia contra o general reformado José Antônio Nogueira Belham, comandante do DOI na época da prisão e morte de Rubens Paiva.
"Riscala Corbage era o `Dr. Nagib'. Ele foi citado em depoimentos de vários presos torturados, mas pela primeira vez admitiu a tortura. Disse que não estava no dia da morte de Rubens Paiva, mas confirmou que Belham sabia de tudo", diz o procurador Sergio Suiama.
"Me apresentei ao Belham. Ele sabia de tudo (...) Ele não acompanhava os interrogatórios, ele não era bobo (...) Isso não exime ele de culpa, porque... quem era a autoridade coatora? É aquela que detém poder de vida ou morte sobre o preso", afirmou o ex-PM.
Corbage disse que havia três salas de interrogatório que funcionavam ao mesmo tempo. Ao chegar ao batalhão, recebia a instrução sobre para onde deveria se dirigir.
"A sala 1 que era a sala do ponto. Se ele (o preso) resistisse por mais de 48 horas na sala do ponto, ele era jogado no estado que sobrou no corredor (...) Apanhava para burro. Acabava falando. Ou mentindo", descreveu.
"Era um massacre: dez, doze contra um". O policial contou que trocava impressões com outros torturadores.
"Alguém perguntava 'Dr. Nagib, vou dar choque nela, que é que o senhor acha?' Aí eu dizia 'dá sim, dá sim. Não quer falar, dá'", disse.
Na denúncia encaminhada à Justiça, os procuradores dizem que, segundo Corbage, a montagem da versão de que Rubens Paiva fugiu da prisão foi montada pelo Centro de Informações do Exército (CIE), responsável pelos presos "nacionais" - políticos e chefes de organizações.
"Centro de mágica, eles (militares do CIE) bolavam cada sacanagem que vocês nem imaginam. Essa fuga (de Rubens Paiva) não partiu do DOI-Codi coisa nenhuma, partiu do CIE", disse Corbage no depoimento.
O policial disse que havia cerca de trinta "interrogadores" no batalhão. " Na minha mão passaram mais de 500 presos, em dois anos", contou.
Rio de Janeiro - "Às vezes eu era chamado para a sala do ponto, a primeira sala, era a sala mais terrível, até o diabo, se entrasse ali, saía em pânico".
A descrição de um dos locais onde presos políticos eram torturados, no Batalhão da Polícia do Exército, na Tijuca (zona norte), é do policial militar reformado Riscala Corbage, feita em depoimento de mais de três horas aos procuradores do Ministério Público Federal (MPF) que ontem denunciaram cinco militares por homicídio e ocultação de cadáver do deputado Rubens Paiva, em janeiro de 1971.
O policial não está entre os denunciados e sustentou que não participou da operação que resultou na morte de Rubens Paiva. Mas confessou e deu detalhes sobre a prática sistemática de tortura na ala do batalhão ocupada pelo Destacamento de Operações de Investigações (DOI), onde Rubens Paiva morreu. O corpo do deputado nunca foi encontrado.
Integrante da "subseção de interrogatório do DOI", Corbage informou que as celas do batalhão chegaram a manter, simultaneamente, setenta presos políticos.
O depoimento do policial aposentado ajudou a embasar a denúncia contra o general reformado José Antônio Nogueira Belham, comandante do DOI na época da prisão e morte de Rubens Paiva.
"Riscala Corbage era o `Dr. Nagib'. Ele foi citado em depoimentos de vários presos torturados, mas pela primeira vez admitiu a tortura. Disse que não estava no dia da morte de Rubens Paiva, mas confirmou que Belham sabia de tudo", diz o procurador Sergio Suiama.
"Me apresentei ao Belham. Ele sabia de tudo (...) Ele não acompanhava os interrogatórios, ele não era bobo (...) Isso não exime ele de culpa, porque... quem era a autoridade coatora? É aquela que detém poder de vida ou morte sobre o preso", afirmou o ex-PM.
Corbage disse que havia três salas de interrogatório que funcionavam ao mesmo tempo. Ao chegar ao batalhão, recebia a instrução sobre para onde deveria se dirigir.
"A sala 1 que era a sala do ponto. Se ele (o preso) resistisse por mais de 48 horas na sala do ponto, ele era jogado no estado que sobrou no corredor (...) Apanhava para burro. Acabava falando. Ou mentindo", descreveu.
"Era um massacre: dez, doze contra um". O policial contou que trocava impressões com outros torturadores.
"Alguém perguntava 'Dr. Nagib, vou dar choque nela, que é que o senhor acha?' Aí eu dizia 'dá sim, dá sim. Não quer falar, dá'", disse.
Na denúncia encaminhada à Justiça, os procuradores dizem que, segundo Corbage, a montagem da versão de que Rubens Paiva fugiu da prisão foi montada pelo Centro de Informações do Exército (CIE), responsável pelos presos "nacionais" - políticos e chefes de organizações.
"Centro de mágica, eles (militares do CIE) bolavam cada sacanagem que vocês nem imaginam. Essa fuga (de Rubens Paiva) não partiu do DOI-Codi coisa nenhuma, partiu do CIE", disse Corbage no depoimento.
O policial disse que havia cerca de trinta "interrogadores" no batalhão. " Na minha mão passaram mais de 500 presos, em dois anos", contou.