Pizzolato fez rota livre de barreiras e de identificação
Para sair do Brasil sem ser incomodado, basta cruzar uma rua na fronteira de Dionísio Cerqueira e seguir até Buenos Aires, na Argentina
Da Redação
Publicado em 18 de fevereiro de 2014 às 09h03.
Buenos Aires - Quem quiser sair do Brasil sem ser incomodado, como fez o ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato , que fugiu para a Itália em 12 de setembro passado, dois meses antes de ter a ordem de prisão decretada pelo Supremo Tribunal Federal por sua condenação no mensalão, ainda hoje encontra caminho livre na rota que, segundo a Polícia Federal (PF), foi percorrida por ele na escapada.
É só cruzar uma rua na fronteira seca de Dionísio Cerqueira, município do oeste de Santa Catarina, e seguir por 1.340 quilômetros de estradas até Buenos Aires, na Argentina.
Na semana passada, a reportagem do jornal O Estado de S. Paulo percorreu o trecho de Bernardo Irigoyen, cidade argentina irmã de Dionísio Cerqueira, à capital federal. No trajeto não houve paradas obrigatórias ou barreiras policiais para identificação. Segundo as investigações da PF, Pizzolato saiu do Rio e viajou até Dionísio Cerqueira.
De lá, seguiu para o aeroporto de Ezeiza, onde, usando passaporte em nome do irmão, Celso - morto em 1978 e enterrado na Quadra 23 do Cemitério de Concórdia (SC), embarcou para Barcelona. A passagem de brasileiros para o solo "hermano", como teria feito Pizzolato, é uma moleza.
Na divisa, os limites nacionais são apenas marcos de concreto cravados ao longo da Avenida Internacional. A avenida se encontra com dezenas de ruas da vizinha cidade argentina Bernardo Irigoyen. Do lado brasileiro não é obrigatório o registro da saída.
O prédio da aduana de turismo, ao fim da Avenida República Argentina, serve somente para quem está disposto a registrar-se oficialmente na entrada na Argentina. Pelos acordos de cooperação entre os dois países, o Brasil controla os fluxos de cargas na aduana de caminhões, localizada em outro ponto, e a Argentina administra o fluxo de pessoas - estimado em 1 milhão de turistas por ano.
Pedestres têm caminho livre. Carros têm de ser identificados, mas podem rodar na cidade vizinha sem necessidade do documento de "Permisso" de entrada. Para avançar em segurança, basta estar à bordo de um carro com placa da Argentina.
Sem controle
Na prefeitura de Dionísio Cerqueira, o prefeito Altair Rittes (PT), que está no quarto mandato, disse que "a passagem na fronteira seca é comum". Rittes afirmou que não tinha contatos com Pizzolato, petista como ele, ex-dirigente do Sindicato dos Bancários e da CUT em Santa Catarina.
Habituado a rodar pela Argentina, que tem estradas melhores do que as brasileiras, Rittes contou que o controle de pessoas deve melhorar porque foi criado o Consórcio Intermunicipal da Fronteira.
"Há plano de instalação de câmeras", contou. Mas ele admite que o tamanho real do vaivém não se pode saber. Há 3 quilômetros de avenidas, ruas e estradas nas quais a passagem é livre. "Um carro pode passar na aduana, registrar-se oficialmente, rodar umas quadras para a direita e pegar a pessoa que passou a pé na outra rua", disse Rittes.
A partir de Bernardo Irigoyen, é só contar com a sorte para não ser parado nos raros postos de "Control". Se estiver em carro argentino, parada somente para abastecer ou dormir, ou quando chega a Buenos Aires, percorrendo os 1.340 quilômetros de estrada pela Ruta (Rodovia) 14.
O trecho mais complicado de asfalto já na Ruta 14, a estrada que leva direto a Buenos Aires, é o das serras e baixadas. Neste trecho, o motorista é obrigado a rodar em baixa velocidade. Atravessando o Estado de Missiones, seguirá sem qualquer fiscalização até Oberá e San José, última cidade antes da entrada no Estado de Corrientes.
Na altura de Virasoro, já em Corrientes, o argentino Luciano Ferreira, neto de brasileiros, que trabalha como "tabaquero" (produtor de fumo) na região, também nem sabia da fuga do ex-diretor do Banco do Brasil condenado no mensalão. Fluente em português, ele contou que a estrada é livre, sem controle rigoroso de polícia.
"Por aqui passam muitos brasileiros e não se pode saber quem passa. Só nos postos de fronteira. Eles param mais os carros paraguaios, mas isso é por causa do controle de contrabando", disse.
A partir deste ponto, as curvas começam a sumir e surgem as retas em belas planícies, até aparecer a estrada duplicada na altura de Paso de Los Libres, vizinha de Uruguaiana. Em alguns trechos da Ruta 14, a proximidade com a fronteira permite ouvir rádio e até encontrar sinal de celular do Brasil.
O primeiro posto de controle com barreira de cones aparece somente na altura do km 479 da Ruta 14, após o trevo de acesso a Libres. Ali os carros passam a 20 km/h, observados por soldados postados no meio da pista.
Na sexta-feira, o policial autorizava a passagem dos carros com um rápido aceno. Pelos Estados de Entre Rios e, finalmente, Buenos Aires, é a mesma coisa. A chegada à capital, após mais de 30 horas na estrada, é feita pela Ruta 9 no trevo de Campana.
No sábado, quando a equipe de reportagem do jornal O Estado de S. Paulo embarcou para São Paulo, o procedimento na imigração, como ocorreu com Pizzolato, era de passageiros identificados na máquina digital. Deixavam também outra pista da passagem: a foto. Esse, segundo a PF, o "erro" de Pizzolato. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Buenos Aires - Quem quiser sair do Brasil sem ser incomodado, como fez o ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato , que fugiu para a Itália em 12 de setembro passado, dois meses antes de ter a ordem de prisão decretada pelo Supremo Tribunal Federal por sua condenação no mensalão, ainda hoje encontra caminho livre na rota que, segundo a Polícia Federal (PF), foi percorrida por ele na escapada.
É só cruzar uma rua na fronteira seca de Dionísio Cerqueira, município do oeste de Santa Catarina, e seguir por 1.340 quilômetros de estradas até Buenos Aires, na Argentina.
Na semana passada, a reportagem do jornal O Estado de S. Paulo percorreu o trecho de Bernardo Irigoyen, cidade argentina irmã de Dionísio Cerqueira, à capital federal. No trajeto não houve paradas obrigatórias ou barreiras policiais para identificação. Segundo as investigações da PF, Pizzolato saiu do Rio e viajou até Dionísio Cerqueira.
De lá, seguiu para o aeroporto de Ezeiza, onde, usando passaporte em nome do irmão, Celso - morto em 1978 e enterrado na Quadra 23 do Cemitério de Concórdia (SC), embarcou para Barcelona. A passagem de brasileiros para o solo "hermano", como teria feito Pizzolato, é uma moleza.
Na divisa, os limites nacionais são apenas marcos de concreto cravados ao longo da Avenida Internacional. A avenida se encontra com dezenas de ruas da vizinha cidade argentina Bernardo Irigoyen. Do lado brasileiro não é obrigatório o registro da saída.
O prédio da aduana de turismo, ao fim da Avenida República Argentina, serve somente para quem está disposto a registrar-se oficialmente na entrada na Argentina. Pelos acordos de cooperação entre os dois países, o Brasil controla os fluxos de cargas na aduana de caminhões, localizada em outro ponto, e a Argentina administra o fluxo de pessoas - estimado em 1 milhão de turistas por ano.
Pedestres têm caminho livre. Carros têm de ser identificados, mas podem rodar na cidade vizinha sem necessidade do documento de "Permisso" de entrada. Para avançar em segurança, basta estar à bordo de um carro com placa da Argentina.
Sem controle
Na prefeitura de Dionísio Cerqueira, o prefeito Altair Rittes (PT), que está no quarto mandato, disse que "a passagem na fronteira seca é comum". Rittes afirmou que não tinha contatos com Pizzolato, petista como ele, ex-dirigente do Sindicato dos Bancários e da CUT em Santa Catarina.
Habituado a rodar pela Argentina, que tem estradas melhores do que as brasileiras, Rittes contou que o controle de pessoas deve melhorar porque foi criado o Consórcio Intermunicipal da Fronteira.
"Há plano de instalação de câmeras", contou. Mas ele admite que o tamanho real do vaivém não se pode saber. Há 3 quilômetros de avenidas, ruas e estradas nas quais a passagem é livre. "Um carro pode passar na aduana, registrar-se oficialmente, rodar umas quadras para a direita e pegar a pessoa que passou a pé na outra rua", disse Rittes.
A partir de Bernardo Irigoyen, é só contar com a sorte para não ser parado nos raros postos de "Control". Se estiver em carro argentino, parada somente para abastecer ou dormir, ou quando chega a Buenos Aires, percorrendo os 1.340 quilômetros de estrada pela Ruta (Rodovia) 14.
O trecho mais complicado de asfalto já na Ruta 14, a estrada que leva direto a Buenos Aires, é o das serras e baixadas. Neste trecho, o motorista é obrigado a rodar em baixa velocidade. Atravessando o Estado de Missiones, seguirá sem qualquer fiscalização até Oberá e San José, última cidade antes da entrada no Estado de Corrientes.
Na altura de Virasoro, já em Corrientes, o argentino Luciano Ferreira, neto de brasileiros, que trabalha como "tabaquero" (produtor de fumo) na região, também nem sabia da fuga do ex-diretor do Banco do Brasil condenado no mensalão. Fluente em português, ele contou que a estrada é livre, sem controle rigoroso de polícia.
"Por aqui passam muitos brasileiros e não se pode saber quem passa. Só nos postos de fronteira. Eles param mais os carros paraguaios, mas isso é por causa do controle de contrabando", disse.
A partir deste ponto, as curvas começam a sumir e surgem as retas em belas planícies, até aparecer a estrada duplicada na altura de Paso de Los Libres, vizinha de Uruguaiana. Em alguns trechos da Ruta 14, a proximidade com a fronteira permite ouvir rádio e até encontrar sinal de celular do Brasil.
O primeiro posto de controle com barreira de cones aparece somente na altura do km 479 da Ruta 14, após o trevo de acesso a Libres. Ali os carros passam a 20 km/h, observados por soldados postados no meio da pista.
Na sexta-feira, o policial autorizava a passagem dos carros com um rápido aceno. Pelos Estados de Entre Rios e, finalmente, Buenos Aires, é a mesma coisa. A chegada à capital, após mais de 30 horas na estrada, é feita pela Ruta 9 no trevo de Campana.
No sábado, quando a equipe de reportagem do jornal O Estado de S. Paulo embarcou para São Paulo, o procedimento na imigração, como ocorreu com Pizzolato, era de passageiros identificados na máquina digital. Deixavam também outra pista da passagem: a foto. Esse, segundo a PF, o "erro" de Pizzolato. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.