PF suspeita de delegado em "caso Hélio Negão"
Suspeitas são de que a inclusão indevida do nome em inquérito teria como objetivo a queda do superintendente do órgão no Rio de Janeiro, Ricardo Saadi
Estadão Conteúdo
Publicado em 12 de setembro de 2019 às 12h34.
Última atualização em 12 de setembro de 2019 às 12h35.
São Paulo — Investigação da Polícia Federal identificou o delegado Leonardo Tavares, lotado na Delegacia de Repressão a Crimes Previdenciários (Deleprev) no Rio de Janeiro, como o principal suspeito de tentar direcionar uma apuração de crime previdenciário para um alvo chamado "Hélio Negão", o mesmo apelido usado pelo deputado Hélio Fernando Barbosa Lopes (PSL-RJ), amigo do presidente Jair Bolsonaro.
A possibilidade de inclusão indevida do nome em um inquérito foi o que motivou o ministro da Justiça, Sérgio Moro, a determinar uma apuração sobre o caso na segunda-feira, destaca o jornal O Estado de S. Paulo. Ainda não está claro para a Polícia Federal, porém, se o alvo da investigação era o próprio deputado ou um homônimo.
Nos bastidores da PF, as suspeitas são de que a inclusão indevida do nome em um inquérito teria como objetivo a queda do superintendente do órgão no Rio de Janeiro, Ricardo Saadi, como forma de fragilizar o diretor-geral da instituição, Maurício Valeixo, indicado do ministro.
No despacho que autoriza a investigação, Moro citou "aparente inclusão fraudulenta do nome do deputado federal Hélio Negão em inquérito que tramita perante a Polícia Federal do Rio de Janeiro e que teria por objeto condutas de pessoa com o mesmo apelido".
Determinou, então, a "imediata apuração dos fatos no âmbito administrativo e criminal, com a identificação dos responsáveis". O ministro ainda pediu para ser "mantido informado sobre os desdobramentos".
O delegado Leonardo Tavares já respondeu a procedimentos disciplinares em razão de sua conduta na Polícia Federal. Em um deles, chegou a ser suspenso por ofender e "faltar com urbanidade" em relação a uma colega delegada.
Ele também já se envolveu em uma discussão dentro do gabinete de Saadi com outros funcionários. O episódio é alvo de uma apuração interna.
Segundo mapeamento feito pela PF, Tavares é ligado a um grupo do qual faz parte o delegado Victor Poubel, que tem longa trajetória na superintendência fluminense e, segundo colegas, almeja comandar a unidade regional da corporação.
O grupo também contaria com o delegado Hélio Khristian Almeida, que foi alvo de busca e apreensão por suspeita de atuar para despistar as investigações do caso Marielle Franco. A PF investiga se houve obstrução da Justiça neste episódio.
Valeixo, porém, indicou para a vaga na unidade do Rio o delegado Carlos Henrique Oliveira, atual superintendente da Polícia Federal em Pernambuco. Até agora, no entanto, ele não assumiu.
Um outro grupo que tenta assumir a Superintendência do Rio de Janeiro tem como candidato o delegado federal Alexandre Saraiva, atual chefe no Amazonas. O delegado teve uma aproximação com Bolsonaro no fim do ano e quase foi indicado para o Ministério do Meio Ambiente.
Procurados nesta quarta-feira, 11, por meio da assessoria de imprensa da Polícia Federal, os delegados Tavares, Poubel e Almeida não haviam se manifestado até a conclusão desta edição.
"Rede de intrigas"
Dentro da PF, a posição de Moro de mandar investigar a inclusão indevida de Hélio Negão num inquérito foi vista como uma defesa das gestões de Saadi - já exonerado - e de Valeixo, que também deve deixar o cargo.
Para o grupo que está atualmente no comando da PF, a apuração do caso Hélio Negão será uma oportunidade de identificar de onde saíram "ruídos" que levaram a uma insatisfação do presidente com a atuação do órgão.
Conforme mostrou o Estado, Moro já disse a Bolsonaro que existe uma "rede de intrigas" que age para desgastar a relação dos dois. A "gota d'água" para o ministro foi a suspeita de que o nome de Hélio Negão foi incluído com este intuito, o que motivou sua primeira medida concreta.
Moro tem evitado comentar publicamente declarações do presidente sobre troca no comando da PF e trabalha nos bastidores para manter Valeixo.
A PF também já fez menção a "intrigas" em nota pública para negar interferências políticas do presidente no órgão. O tom diverge do adotado quando, também em nota, contradisse a declaração do presidente de que a saída de Saadi era por "questão de produtividade". Na ocasião, disse que a troca já estava prevista e negou que estivesse relacionada ao trabalho do delegado à frente da superintendência. Segundo o jornal apurou, a nota irritou Bolsonaro.
O presidente também tem demonstrado incômodo com interpretações de que mudanças na PF têm como motivação possíveis investigações envolvendo sua família. Em declarações públicas sobre o assunto, ele já disse ser preciso "arejar" a PF.
Direção
A saída de Valeixo é dada como certa na PF. No entanto, ainda não há uma data nem um nome definido para a sua sucessão.
Além da cúpula atual, dois grupos tentam conquistar o posto. O primeiro é liderado pelo delegado Anderson Torres, secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, e conta com Alessandro Moretti, seu secretário adjunto no DF, e o superintendente regional da PF no Distrito Federal, Márcio Nunes. Esse grupo tem o apoio do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira, e a simpatia do ex-deputado federal Fernando Francischini (PSL-PR).
O outro grupo é encabeçado por Alexandre Ramagem, atual diretor da Associação Brasileira de Inteligência (Abin), que chefiou a equipe de segurança de Bolsonaro após a facada sofrida por ele durante a campanha eleitoral.
Ramagem também é próximo de Alexandre Saraiva, o nome defendido pelo presidente para assumir a Superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro no lugar de Saadi. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.