Pesquisa: Auxílio Brasil e deflação começam a surtir efeito para Bolsonaro, mas rejeição é barreira
Em nova pesquisa eleitoral BTG/FSB nesta segunda-feira, 22, Bolsonaro cresceu dois pontos e diminuiu vantagem de Lula no primeiro turno
Carolina Riveira
Publicado em 22 de agosto de 2022 às 13h10.
Última atualização em 22 de agosto de 2022 às 15h18.
A quase 40 dias do primeiro turno das eleições, os esforços do governo para reduzir os preços da economia e aumentar o Auxílio Brasil começaram a surtir efeito na popularidade do presidente Jair Bolsonaro (PL), segundo nova rodada da pesquisa FSB/BTG, divulgada nesta segunda-feira, 22.
Na sondagem, Bolsonaro cresceu dois pontos e diminuiu de 11 para nove pontos a vantagem do ex-presidente Lula (PT) no primeiro turno.
A intenção de voto ficou agora em 45% para Lula ante 36% para Bolsonaro nessa etapa. É o melhor desempenho de Bolsonaro no primeiro turno na pesquisa BTG/FSB desde o início da corrida eleitoral. Na espontânea, quando o nome dos candidatos não é apresentado, Bolsonaro cresceu os mesmos dois pontos (indo a 34%, ante 41% para Lula).
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Embora dentro da margem de erro, a movimentação é acompanhada por outros indícios de que o presidente passou a colher louros da melhora nos índices de inflação e do Auxílio Brasil aumentado para R$ 600.
"Na última semana, o presidente Jair Bolsonaro ganhou algum terreno entre beneficiários do Auxílio Brasil e moradores do Nordeste e do Sudeste. Além disso, alguns dados de perfil indicam que eleitores de Ciro Gomes que rejeitam Lula possam ter migrado de voto para o candidato à reeleição", diz em nota junto à pesquisa Marcelo Tokarski, sócio-diretor do Instituto FSB Pesquisa.
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A pesquisa é do Instituto FSB, encomendada pelo banco BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME ). A sondagem ouviu, por telefone, 2 mil pessoas entre os dias 19 e 21 de agosto. A pesquisa está registrada no TSE sob o número BR-00244/2022.
O crescimento mais significativo de Bolsonaro veio entre o grupo que recebe Auxílio Brasil. O ex-presidente Lula ainda lidera com folga entre os beneficiários, com 52% das intenções de voto, mas Bolsonaro melhorou e atingiu 31% das intenções de voto entre esse público, chegando a seu melhor patamar entre os beneficiários desde março.
"Há fortes indícios de que a primeira parcela de R$ 600 do Auxílio Brasil começou a trazer dividendos eleitorais para o presidente Jair Bolsonaro. Nas próximas pesquisas, teremos de acompanhar para ter certeza se estamos diante de uma nova tendência ou se o efeito será limitado. Até o primeiro turno, será paga apenas mais uma parcela", completa Tokarski.
Combustíveis podem ajudar Bolsonaro
O presidente Jair Bolsonaro também pode seguir se beneficiando de uma percepção mais positiva sobre a inflação e pela visão, dentre o eleitorado, de que o governo federal é o principal responsável pela queda no preço dos combustíveis.
- A pesquisa aponta que sete em cada dez brasileiros (72%) percebem o preço dos combustíveis como menores (em relação a um mês atrás);
- E quatro em cada dez (41%) atribuem ao governo federal a responsabilidade pela redução dos combustíveis, muito à frente da Petrobras (20%) ou Congresso (10%).
O Brasil teve deflação em julho (com queda de -0,68% no IPCA) e deve ter nova redução no índice em agosto. A queda nos preços dos combustíveis ocorreu em meio a cortes de ICMS (estadual) e tributos federais sobre insumos como combustíveis e energia elétrica. Os preços também foram beneficiados pela cotação menor do barril de petróleo no mercado internacional, o que levou a Petrobras a reduzir três vezes o preço da gasolina no último mês e duas vezes o do diesel.
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Essa onda de otimismo pode ajudar Bolsonaro. A parte do eleitorado que espera novos aumentos de preços e a parte que espera redução ficou empatada pela primeira vez, segundo a FSB. Ambos os grupos são fatia equivalente a 35%.
O dado é importante porque há um marcador claro de voto entre esses dois grupos: os que esperam que haverá mais altas de preços votam sobretudo em Lula (56%, ante 19% para Bolsonaro), enquanto os otimistas sobre os preços escolhem Bolsonaro (50% para Bolsonaro e 36% para Lula).
"A percepção de redução de preços para o eleitor explica muito da redução do pessimismo com a inflação nos últimos meses e também ajuda Bolsonaro a subir nas pesquisas", diz em nota André Jácomo, diretor do Instituto FSB Pesquisa.
Rejeição é desafio
Na outra ponta, um desafio da campanha do presidente Bolsonaro seguirá sendo a alta rejeição, que ainda não caiu de forma acentuada e pode prejudicar o presidente na busca por alcançar Lula antes da votação.
- Bolsonaro é rejeitado por 55% do eleitorado, isto é, a fatia que afirma que "não votaria de jeito nenhum".
- O número é maior que os 51% que rejeitam Ciro (o segundo mais rejeitado);
- E acima dos 44% que rejeitam Lula.
A rejeição de Bolsonaro já foi maior (chegou a ser de 59% em maio), mas está relativamente estagnada desde o fim de julho.
Nessa frente, o grupo beneficiário do Auxílio Brasil e de baixa renda é novamente crucial. A fatia que ganha até um salário-mínimo é a que mais classifica o governo como "ruim/péssimo" (53%, e só 20% de ótimo/bom), enquanto a faixa com mais de cinco salários-mínimos tem comportamento oposto e é a que menos vê o governo como "ruim/péssimo" (39%, ante 45% de "ótimo/bom").
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Além disso, como apontado na última pesquisa BTG/FSB, na semana passada, um risco para a campanha do presidente é que a visão sobre queda nos preços já está, à essa altura, amplamente cristalizada entre os eleitores, de modo que seus efeitos positivos podem ser cada vez mais limitados a partir de agora.
Assim, pode ser necessário que novos acontecimentos sigam criando fatos favoráveis para Bolsonaro até a eleição, em 2 de outubro. Fatores como a queda nos preços, desemprego menor e o Auxílio Brasil terão de ser impactantes o suficiente para ajudar Bolsonaro a tirar nove pontos de diferença no primeiro turno e 13 pontos no segundo turno para bater Lula — uma missão ainda desafiadora matematicamente.
A favor do presidente, por outro lado, está o fato de que uma vitória de Lula no primeiro turno segue difícil devido à rejeição não desprezível ao PT. A partir daí, uma vez no segundo turno, Bolsonaro teria uma base consolidada e pode ter tempo e condições de melhorar na disputa, como apostam especialistas.
Grupos apontados como decisivos são os 20% que classificam o governo como "regular" (em vez de simplesmente "ótimo/bom" ou "ruim/péssimo"), pois seriam passíveis de serem conquistados, além do eleitorado no Sudeste, em estados como São Paulo e Minas Gerais. Parte do grupo de baixa renda, mulheres e os mais jovens, hoje com alta rejeição a Bolsonaro, também estão no centro da disputa nas próximas semanas. O primeiro turno acontece em 2 de outubro e o segundo turno, se houver, em 30 de outubro.
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