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Qual o peso do Auxílio Brasil na eleição? Veja o que dizem especialistas

Bolsonaro promete manter o valor em R$ 600 se for reeleito, mas pesquisas indicam que crescimento na intenção de voto do presidente entre os beneficiários é um desafio

 (Manuel Cortina/SOPA Images/Flickr)

(Manuel Cortina/SOPA Images/Flickr)

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Alessandra Azevedo

Publicado em 18 de agosto de 2022 às 19h56.

Na terça-feira passada, faltando exatamente uma semana para o início da campanha eleitoral, milhões de brasileiros começaram a receber o novo valor do Auxílio Brasil, que subiu de R$ 400 para R$ 600 em pleno ano eleitoral. O governo propôs o aumento no fim de junho e conseguiu aprová-lo sem grandes dificuldades no Congresso em algumas semanas, junto com um reajuste no vale-gás e um novo auxílio-gasolina para caminhoneiros.

Apesar de a maioria dos parlamentares terem sido favoráveis ao aumento do Auxílio Brasil, muitos questionaram a motivação do presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, para sugerir o reajuste faltando apenas três meses para as eleições. A base aliada argumentou que a medida era pelo bem do povo, que sofre com inflação alta e desemprego, enquanto a oposição alertou para o caráter eleitoreiro -- mas ainda assim votou a favor do aumento. 

A duração do benefício, ampliado até dezembro de 2022 sem obrigatoriedade de ser incluído no Orçamento dos anos seguintes, evidenciava uma preocupação temporária. Pesquisa do instituto Datafolha divulgada em 1º de agosto mostrou que 61% dos entrevistados consideravam o aumento do Auxílio Brasil uma medida eleitoreira, já que, de acordo com o texto constitucional, vai acabar logo depois das eleições.

Eleitoreira ou não, naturalmente a briga chegou às campanhas eleitorais. E a dúvida que paira no ar é: o novo Auxílio Brasil pode alavancar a popularidade de Bolsonaro e angariar mais votos até o primeiro turno? Analistas políticos apostam que a mudança aumentará a popularidade do atual presidente, mas isso não quer dizer que a avaliação se converterá em mais votos. 

Campanhas de Bolsonaro e Lula exploram o Auxílio Brasil

Quando lançou o plano de governo, na semana passada, Bolsonaro fez questão de incluir a promessa de que manterá o auxílio em R$ 600 nos próximos anos, caso reeleito. O principal adversário dele na corrida presidencial, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), também garante que o programa de transferência de renda será preservado, sem redução do valor.

Esse foi, inclusive, um dos compromissos que Lula firmou com o deputado André Janones (Avante-MG), quando o parlamentar anunciou que retiraria a candidatura para apoiar o petista. Na ocasião, Lula afirmou que o aumento promovido por Bolsonaro tem claro “objetivo eleitoral”, mas recomendou que, “se cair um dinheirinho na sua conta, pegue e coma, porque senão o Paulo Guedes toma”.

A campanha de Bolsonaro quer que as pessoas o vejam como o “pai” do benefício, apesar de ele se originar do antigo Bolsa Família. Isso explica a troca de nome do programa e o aumento no valor. A ideia é que os eleitores considerem Bolsonaro um candidato preocupado com a questão social e com a melhora da economia, fatores que, especialmente neste ano, pesam muito na decisão de voto.

Já Lula tem lembrado o histórico dos governos do PT nos programas de transferência de renda e associado Bolsonaro à negligência com as camadas mais vulneráveis da população. Petistas ressaltam com frequência que o governo propôs um auxílio emergencial de apenas R$ 200 em 2020, valor que foi ampliado depois de apelos dos congressistas. A campanha de Lula não quer que o eleitor esqueça que o aumento do Auxílio Brasil concedido pelo presidente acabará em 2022, se nada for feito.

Impacto do programa para os brasileiros

Como o novo valor começou a ser pago há apenas uma semana, ainda é cedo para saber até que ponto ele se converterá em votos para Bolsonaro. Pesquisa Genial/Quaest divulgada na quarta-feira, 17, mostra que Lula ainda lidera as intenções de voto dos beneficiários do Auxílio Brasil: 57% dos eleitores que recebem o benefício pretendem votar no petista, enquanto 27% dizem que votarão em Bolsonaro. O dado, porém, esbarra na amostra pequena do grupo de entrevistados que receberam o auxílio. 

Mas é visível uma mudança, ainda que discreta, no olhar da população para a resolução dos problemas econômicos. Se, em 3 de agosto, 56% dos entrevistados consideravam que a economia havia piorado no último ano, essa porcentagem caiu para 52% no dia 17. Para 23% dos eleitores, ante 21% da pesquisa Genial/Quaest anterior, a economia melhorou nesse período.

Bolsonaro é visto como responsável pelo Auxílio Brasil por 58% dos entrevistados. Além disso, 42% dizem que partiu dele a redução do preço dos combustíveis. Ainda assim, a pesquisa mostra que 61% entendem que o governo tomou essas medidas com o objetivo de ajudar na reeleição do presidente. Apenas 33% acreditam que o intuito é, de fato, ajudar as pessoas.

Ou seja, o público que tem sido beneficiado pelas medidas recentes até reconhece o papel de Bolsonaro nos aumentos de benefícios e na redução de preços, o que melhora a imagem dele, mas isso não significa que essas pessoas estão dispostas a “premiar” o presidente com o voto. “Esse é o grande dilema de Bolsonaro”, explica o cientista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria.

“Por alguma razão, o eleitorado tem percepção positiva da medida, aumenta o apoio e diminui a rejeição ao governo, mas essa mudança não se traduz no voto”, observa Cortez. Isso pode acontecer, segundo ele, porque o presidente nunca foi associado a políticas sociais. Pelo contrário, tem atuação voltada a um debate reformista e liberal. A agenda social apareceu apenas como resposta à pandemia de covid-19.

Para Cortez, a combinação da trajetória pessoal de Bolsonaro e da agenda de governo pré-pandemia, pautada em um “choque de liberalismo”, ajuda a explicar a dificuldade de conversão da política do Auxílio Brasil em votos. Além disso, o anúncio do aumento muito próximo à eleição “reporta um caráter meio artificial”, avalia. 

Melhora na economia

Mesmo que não gere a quantidade de votos que a campanha esperava inicialmente, o reajuste do benefício reforça a candidatura de Bolsonaro, na medida em que as pessoas conseguem ver melhoras nas condições de vida, avaliam os analistas. O problema é que a inflação continua alta, corroendo o poder de compra da população, sobretudo o das camadas mais pobres.

“Grupos mais vulneráveis estão sendo penalizados pela conjuntura econômica. Quando o governo tenta responder a isso com benefícios concretos, o eleitor sente a ação na sua vida e pode vir a premiá-lo com o voto. Mas alguns fatores atrapalham esse potencial, como o fato de que o quadro inflacionário ainda está bastante alto, e isso continua prejudicando os mais pobres”, explica Cortez.

É natural que o impacto inicial da medida, quando foi anunciada, tenha sido positivo para a imagem do presidente. Mas, para uma análise mais realista do quadro, Adriano Laureno, gerente de análise política e econômica da Prospectiva, diz que é preciso observar não apenas a reação imediata das pessoas que recebem o benefício, mas também a percepção geral dos brasileiros sobre a situação econômica. 

“A questão é que o Auxílio Brasil tem impacto sobre a economia, de forma geral. Aumenta a renda disponível, aumenta a demanda e reduz o desemprego. Ainda não dá para medir esses impactos secundários do auxílio sobre o ambiente econômico”, explica Laureno. Isso tende a ser mais visível depois de alguns meses da implementação da medida, mas já existe uma perspectiva de melhora do ambiente econômico daqui para a frente.

O fato de Bolsonaro demonstrar dificuldade para crescer entre o público que recebe o auxílio não significa que a medida não vai ter impacto no eleitorado, em geral, se a população perceber mudanças na economia. “Embora o foco seja o público mais carente, o auxílio interfere na renda e na economia como um todo. E veio com outras medidas, como redução de impostos e do preço dos combustíveis, o que impacta a classe média", aponta Laureno.

Continuidade

A melhora do ambiente econômico deve, portanto, refletir na visão sobre o governo. O economista Maurício Moura, fundador do instituto IDEIA, acredita que o aumento do Auxílio Brasil será positivo para a popularidade do presidente, principalmente em cidades pequenas e médias, mas também acha que ainda é cedo para avaliar o tamanho desse ganho. “Acho que pode ser insuficiente para virar a eleição. Estatisticamente, ainda não há sinais de que isso possa ocorrer”, pondera.

Além disso, o efeito de conversão de votos pode demorar para acontecer e, talvez, só ganhe força mais perto das eleições. No caso do auxílio emergencial, em 2020, a popularidade do presidente só aumentou depois de dois meses do primeiro pagamento. “O mesmo pode acontecer com o Auxílio Brasil. As pessoas precisam ter uma noção de continuidade”, explica Moura.

Existe, na opinião pública, o entendimento de que o Auxílio Brasil não será permanente, o que pode limitar a conversão de votos dos beneficiários para Bolsonaro. Os eleitores lembram que o auxílio emergencial foi retirado depois de um tempo e sabem que os R$ 600 do Auxílio Brasil só têm previsão de pagamento até o fim do ano. “Talvez o efeito não seja igual ao do auxílio emergencial por conta dessa memória interior de que é transitório”, observa Moura. 

Na visão de Rafael Cortez, da Tendências, o problema da desconfiança de que o auxílio pode acabar em 2023, caso Bolsonaro seja reeleito, pode ser tratado pela campanha eleitoral. “Não vejo a questão de ser percebido como provisório como obstáculo à melhora eleitoral. A campanha traz mecanismos para o governo garantir que vai manter os R$ 600”, diz. 

Adriano Laureno também acredita que qualquer candidato que se eleger precisará manter o auxílio em pelo menos R$ 600. “O nível de impopularidade de reduzir esse valor seria muito grande”, afirma. Não é à toa que todos os candidatos à Presidência, não só Lula e Bolsonaro, tratam desse assunto nos planos de governo ou em discursos.

 

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