Pedágio urbano: uma boa solução para São Paulo?
Adotada com sucesso em outras cidades do mundo, a ideia de cobrar dos motoristas taxas para que circulem por certas regiões do município gera polêmica na capital paulista
Da Redação
Publicado em 27 de julho de 2012 às 16h10.
São Paulo - O conceito de pedágio urbano - isto é, de cobrar dos motoristas para que circulem por determinadas regiões da cidade - foi implantado pela primeira vez em 1975, em Cingapura.
Lá, os condutores são obrigados a pagar para andar de carro de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 19h30. A ideia, que a princípio é considerada absurda por muitos, deu certo: dados do governo garantem que o trânsito teve uma redução de 47% no período da manhã e de 34% à tarde, a procura por transportes públicos aumentou 63% e o uso de automóveis caiu em 22%.
Mais de 35 anos depois, a ideia do pedágio urbano se espalhou pelo mundo - entre as cidades que implantaram a iniciativa com sucesso estão Londres e Estocolmo, na Europa -, mas continua gerando polêmica em São Paulo . Grande parte da população é absolutamente contra a ideia de ter que pagar para circular de carro pelas ruas da cidade.
Enquanto o assunto é debatido, dados da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) mostram que, nas últimas quatro décadas, o número de carros na capital paulista aumentou 700%, colocando o trânsito em uma das primeiras posições do ranking dos principais problemas do município.
Durante o evento Cruzando Pontes - O Valor da Diversidade, promovido nesta quarta-feira (25) pela Editora Abril para debater a questão da mobilidade urbana, Marcelo Cardinale Branco, secretário municipal de Transportes, e João Paulo Amaral, cofundador do projeto Bike Anjo, defenderam a implantação do pedágio urbano na capital paulista para incentivar o uso consciente de veículos e desafogar o trânsito da cidade.
"Muita gente não entende o conceito de pedágio urbano. Acham que o governo quer cobrar para que os motoristas usem as ruas. Não é isso. Essa taxa de utilização das viárias já é paga pelos cidadãos nos impostos. O pedágio urbano propõe cobrar dos condutores os prejuízos que eles causam à cidade ao optarem pelo uso de um veículo individual. É o princípio de ‘poluidor-pagador’ previsto no Direito Ambiental", explicou Cardinale, que contou que, por ano, há um prejuízo de cerca de R$ 35 bilhões gerado pela utilização de carros.
A conta é paga por todos os cidadãos. "É justo? Parece-me mais razoável cobrar esse prejuízo, apenas, de quem o causa, por meio do pedágio urbano", opinou o secretário de Transportes.
Cadê o transporte público de qualidade?
Um dos argumentos daqueles que são contra o pedágio urbano é a deficiência do sistema de transporte público de São Paulo. Dá para abrir mão de utilizar o carro na capital, hoje, sem ganhar dores de cabeça para se locomover de outra maneira? Para João Paulo - mais conhecido como JP na comunidade de ciclistas - investir no setor é uma medida primordial que deve vir junto com a implantação do pedágio urbano.
"Não é só instalar chips nos carros e colocar o pedágio urbano para funcionar. A iniciativa deve englobar um pacote de ações. Entre eles, o investimento em transporte público de qualidade. Mais do que um desestímulo para andar de carro, o cidadão precisa ter um incentivo para optar por outros meios de locomoção", afirmou JP. "Além disso, o governo deve garantir para a população que o dinheiro arrecadado no pedágio será investido na mobilidade urbana da cidade. Se provar que a iniciativa trará benefícios ao município, a aceitação será maior", completou.
Cardinale concorda, mas defende que, em curto prazo, é possível implantar a ideia do pedágio urbano nas regiões onde o transporte público já é adequado. "A Avenida Paulista é um bom exemplo. Não temos 400 km de metrô, como a cidade de Londres, mas temos 70. Nesse perímetro já é possível instalar o pedágio urbano para desafogar o trânsito", defendeu o secretário de Transportes.
Cultura do compartilhamento
Para JP, iniciativas que visam transformar o espaço viário para mudar, para melhor, a mobilidade nas cidades - como é o caso do pedágio urbano - podem e devem ser incentivadas, mas precisam vir acompanhadas de uma mudança de comportamento dos cidadãos. Caso contrário, a sociedade continuará dependente dos carros.
"Nos anos 50, a indústria automobilística recebeu um grande incentivo do governo JK e, desde então, há uma supervalorização dos carros. Eles viraram o símbolo do progresso e se instituiu uma cultura de preconceito contra outras formas de locomoção, contra as bikes, contra os pedestres... Enquanto não a substituirmos por uma cultura de compartilhamento do espaço público e de respeito pelo próximo, continuaremos vivendo o caos no setor de mobilidade urbana", finalizou JP.
São Paulo - O conceito de pedágio urbano - isto é, de cobrar dos motoristas para que circulem por determinadas regiões da cidade - foi implantado pela primeira vez em 1975, em Cingapura.
Lá, os condutores são obrigados a pagar para andar de carro de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 19h30. A ideia, que a princípio é considerada absurda por muitos, deu certo: dados do governo garantem que o trânsito teve uma redução de 47% no período da manhã e de 34% à tarde, a procura por transportes públicos aumentou 63% e o uso de automóveis caiu em 22%.
Mais de 35 anos depois, a ideia do pedágio urbano se espalhou pelo mundo - entre as cidades que implantaram a iniciativa com sucesso estão Londres e Estocolmo, na Europa -, mas continua gerando polêmica em São Paulo . Grande parte da população é absolutamente contra a ideia de ter que pagar para circular de carro pelas ruas da cidade.
Enquanto o assunto é debatido, dados da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) mostram que, nas últimas quatro décadas, o número de carros na capital paulista aumentou 700%, colocando o trânsito em uma das primeiras posições do ranking dos principais problemas do município.
Durante o evento Cruzando Pontes - O Valor da Diversidade, promovido nesta quarta-feira (25) pela Editora Abril para debater a questão da mobilidade urbana, Marcelo Cardinale Branco, secretário municipal de Transportes, e João Paulo Amaral, cofundador do projeto Bike Anjo, defenderam a implantação do pedágio urbano na capital paulista para incentivar o uso consciente de veículos e desafogar o trânsito da cidade.
"Muita gente não entende o conceito de pedágio urbano. Acham que o governo quer cobrar para que os motoristas usem as ruas. Não é isso. Essa taxa de utilização das viárias já é paga pelos cidadãos nos impostos. O pedágio urbano propõe cobrar dos condutores os prejuízos que eles causam à cidade ao optarem pelo uso de um veículo individual. É o princípio de ‘poluidor-pagador’ previsto no Direito Ambiental", explicou Cardinale, que contou que, por ano, há um prejuízo de cerca de R$ 35 bilhões gerado pela utilização de carros.
A conta é paga por todos os cidadãos. "É justo? Parece-me mais razoável cobrar esse prejuízo, apenas, de quem o causa, por meio do pedágio urbano", opinou o secretário de Transportes.
Cadê o transporte público de qualidade?
Um dos argumentos daqueles que são contra o pedágio urbano é a deficiência do sistema de transporte público de São Paulo. Dá para abrir mão de utilizar o carro na capital, hoje, sem ganhar dores de cabeça para se locomover de outra maneira? Para João Paulo - mais conhecido como JP na comunidade de ciclistas - investir no setor é uma medida primordial que deve vir junto com a implantação do pedágio urbano.
"Não é só instalar chips nos carros e colocar o pedágio urbano para funcionar. A iniciativa deve englobar um pacote de ações. Entre eles, o investimento em transporte público de qualidade. Mais do que um desestímulo para andar de carro, o cidadão precisa ter um incentivo para optar por outros meios de locomoção", afirmou JP. "Além disso, o governo deve garantir para a população que o dinheiro arrecadado no pedágio será investido na mobilidade urbana da cidade. Se provar que a iniciativa trará benefícios ao município, a aceitação será maior", completou.
Cardinale concorda, mas defende que, em curto prazo, é possível implantar a ideia do pedágio urbano nas regiões onde o transporte público já é adequado. "A Avenida Paulista é um bom exemplo. Não temos 400 km de metrô, como a cidade de Londres, mas temos 70. Nesse perímetro já é possível instalar o pedágio urbano para desafogar o trânsito", defendeu o secretário de Transportes.
Cultura do compartilhamento
Para JP, iniciativas que visam transformar o espaço viário para mudar, para melhor, a mobilidade nas cidades - como é o caso do pedágio urbano - podem e devem ser incentivadas, mas precisam vir acompanhadas de uma mudança de comportamento dos cidadãos. Caso contrário, a sociedade continuará dependente dos carros.
"Nos anos 50, a indústria automobilística recebeu um grande incentivo do governo JK e, desde então, há uma supervalorização dos carros. Eles viraram o símbolo do progresso e se instituiu uma cultura de preconceito contra outras formas de locomoção, contra as bikes, contra os pedestres... Enquanto não a substituirmos por uma cultura de compartilhamento do espaço público e de respeito pelo próximo, continuaremos vivendo o caos no setor de mobilidade urbana", finalizou JP.