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PDT oficializa a pré-candidatura de Ciro Gomes a presidente

Partido lançou promessa de revisão da reforma trabalhista de olho no eleitorado jovem para tentar alavancar campanha

Ciro Gomes (Adriano Machado/Reuters)
AO

Agência O Globo

Publicado em 21 de janeiro de 2022 às 18h25.

Última atualização em 21 de janeiro de 2022 às 18h39.

O PDT lançou oficialmente nesta sexta-feira a pré-candidatura de Ciro Gomes à Presidência da República, em Brasília. Será a quarta tentativa de Ciro chegar ao Palácio do Planalto. Em seu discurso, Ciro disse ser a favor da revisão da reforma trabalhista, do teto de gastos e da política de preços da Petrobras. Por outro lado, defendeu o equilíbrio fiscal para ajudar no crescimento, mas disse que isso é possível sem sacrificar os mais pobres e sem estagnar o país. Afirmou ainda que vai propor uma reforma tributária e a taxação das grandes fortunas. Disse também que vai ajudar os brasileiros endividados, assim as "cinco ou seis famílias de banqueiros" e os "poucos milhares de especuladores" poderão "tremer de medo".

Ciro também criticou a insistência dos governos que, segundo dele, desde a redemocratização insistem no mesmo modelo econômico e na mesma política apoiada no conchavo e na corrupção. Emboras as críticas tenham sido generalizadas, os maiores alvos foram o atual presidente Jair Bolsonaro, e o seu antecessor, Michel Temer (2016-2018). Ele chamou a política de enfrentamento à pandemia no Brasil, por exemplo, de "genocida".

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Ciro também prometeu a criação de um programa de renda mínima universal, que receberia o nome do ex-senador Eduardo Suplicy. O benefício agruparia os pagamentos do Auxílio Brasil, seguro-desemprego e aposentadoria rural. Disse ainda que vai fomentar o acesso à internet e smartphones.

Segundo o presidente do PDT, Carlos Lupi, a pré-candidatura foi aprovada por unanimidade durante a convenção do partido ocorrida nesta sexta. Na última vez em que foi candidato, em 2018, ele ficou em terceiro lugar, com 12,47% dos votos válidos.

Ciro se apresenta como uma alternativa de esquerda, mas tenta captar parte do eleitorado de centro, sobretudo entre os que rejeitam tanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quanto o atual presidente Jair Bolsonaro, que lideram as pesquisas de intenção de voto. Levantamentos divulgados em dezembro, porém, mostram Ciro Gomes bem atrás dos rivais.

Segundo o Ipec, em levantamento divulgado em 14 de dezembro, ele tinha 5% das intenções de voto em dois possíveis cenários, enquanto Lula variava de 48% a 49%, Bolsonaro de 21% a 22%, e o ex-juiz da Lava-Jato e ex-ministro Sergio Moro tinha entre 6% e 8%. Já a pesquisa Datafolha, publicada em 16 de dezembro, mostrou Ciro com 7% em dois cenários diferentes. Lula ia de 47% a 48%, Bolsonaro variava entre 21% e 22%, e Moro aparecia com 9%.

Ciro Gomes também não poupou ataques a Moro, que compete com ele na tentativa de ser o nome a romper a polarização entre Lula e Bolsonaro. Ciro afirmou que Moro ajudou a eleição de Bolsonaro ao colocar seu principal adversário da disputa em 2018, Lula, na cadeia. O pedetista também disse que o ex-juiz, ao não respeitar o processo penal, facilitou a volta do petista ao cenário político. Destacou ainda que Moro não tem preparo para ser presidente e afirmou que ele é um "candidato a se derreter em contradições, mentiras e despreparo".

"Foi lambe-botas de Bolsonaro", disse Ciro, que ainda afirmou: "Há um inimigo da República, não um adversário político, tentando subtrair a liberdade do povo brasileiro".

Críticas à política econômica de Bolsonaro e de ex-presidentes

Ciro fez críticas à paralisia dos últimos dez anos no Brasil. Nesse período, passaram pelo Planalto: Dilma Rousseff, Michel Temer e Jair Bolsonaro. Em outro momento do discurso, criticou nominalmente os três primeiros presidentes eleitos após a redemocratização: Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, por favorecer os mais ricos. Segundo ele, Lula pegou as sobras e como "filantropo" ajudou os mais pobres, numa referência ao Bolsa Família.

"Paramos no tempo e no espaço. Enquanto boa parte do mundo avançava [ ao longo dos últimos dez anos ], começávamos a andar para trás. Caranguejos atolados no mangue do atraso", disse Ciro, que ainda afirmou:

"Por mais que tivessem personalidades e estilos diferentes, todos os presidentes repetiram e querem continuar repetindo o mesmo modelo econômico e a mesma governança política centrada, apoiada no conchavo e na corrupção."

Depois, defendeu a revisão da reforma trabalhista, mas sem fechar os olhos à nova realidade e sem atender a interesses corporativos.

"Enquanto isso, nosso povo sofre nas favelas e com a famigerada reforma trabalhista do governo Michel Temer."

Ele seguiu com as críticas às políticas implantadas no governo Temer e prometeu acabar com o teto de gastos, a qual chamou de "total draconiana austeridade de araque":

"Esse tal teto de gastos é a maior fraude da economia brasileira."

Ciro afirmou ainda que vai propor uma reforma tributária e taxação para grandes fortunas:

"Eu taxarei sim as grandes fortunas. Eu cobrarei sim imposto sobre lucros e dividendos. Eu modificarei sim a estrutura tributária para acabar com a pouca vergonha e a injustiça dos pobres e da classe média brasileiros pagarem mais impostos que os ricos."

"Verdadeiro boçal"

Ele também fez menção ao governo atual, chamando Bolsonaro de "verdadeiro boçal":

"Tantos erros, enganação e manipulação grosseria, só poderiam resultar nessa tragédia que é o governo Bolsonaro."

E mencionou a irresponsabilidade dos governantes que contribuíram para o grande número de mortes por covid-19 no Brasil. Segundo ele, houve uma "política genocida".

"Embora eu ore todos os dias para que proteja a nação brasileira. E oro também para que Deus conforte as quase 650 mil famílias e amigos. Perdemos tanta gente não só pela fatalidade da pandemia, mas também pela irresponsabilidade dos nossos governantes", disse Ciro.

Afirmou ainda que quer tirar o país das "garras do ódio".

"Quero ajudar o Brasil a se libertar das garras do ódio e da mediocridade paralisante. Ajudar o Brasil a retomar seu destino e colocá-lo no centro das decisões mundiais."

Também criticou a falta de investimentos em conhecimento:

"A incompetência de Bolsonaro só agravou uma situação que piorava ano após ano."

Rebelde

O slogan da campanha do pedetista é “A rebeldia da esperança”, numa tentativa de atrair eleitores jovens. O marqueteiro contratado pelo PDT para cuidar da imagem de Ciro é João Santana, que trabalhou em campanhas presidenciais vitoriosas de Lula e Dilma Rousseff. Ele volta às disputas eleitorais depois de ter sido alvo da Operação Lava-Jato e firmado acordo de delação premiada pelo qual admitiu ter recebido recurso de caixa 2 do PT. No discurso após a oficialização de sua pré-candidatura, Ciro fez referência ao slogan:

"Rebeldia e esperança são as únicas forças capazes de retirar o país das trevas."

Ao longo do discurso, telões do evento mostravam imagens do livro de Ciro e lemas da campanha, como "equilíbrio fiscal", "presidente da esperança e rebeldia" e "meu patrão e o povo".

Em um discurso ressaltando a "rebeldia" e a "esperança" de Ciro, palavras que são o mote da campanha do pedetista, o presidente nacional da legenda, Carlos Lupi, fez acenos a Getúlio Vargas e a Leonel Brizola, que faria 100 anos no sábado.

"O PDT honra o legado de Getúlio Vargas, presidente que mais aliou esperança e rebeldia", disse Lupi, que também afirmou: "Assim como Getúlio, Brizola sempre teve a esperança como sua companheira inseparável".

Lupi disse que Ciro é rebelde, citando alguns episódios de sua vida pública, como em 1994, quando foi ministro da Fazenda no governo do presidente Itamar Franco.

"Como ministro da Fazenda, Ciro foi rebelde. Enfrentou especuladores, salvou o Plano Real de fracassar", afirmou Lupi, que ainda disse: "Ciro é o mais rebelde dos políticos brasileiros. É o que traz a esperança de poder transformar o Brasil na nação que tantos sonhamos. Foi movido a rebeldia. Desafiou a velha política do Ceará".

O presidente do PDT também criticou os indicadores econômicos ruins, como o desemprego e a desigualdade social.

Ciro tem um histórico de desavenças e aproximações com o PT e Lula. Após perder a eleição para presidente em 2002, a primeira que Lula ganhou, Ciro se tornou ministro do petista. Depois saiu do governo, e tentou novamente voo próprio. Em 2018, após perder a eleição, ele se recusou a fazer campanha para o PT contra Bolsonaro no segundo turno.

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