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Partido Novo quer privatizar o Brasil; veja entrevista

Com ideias centradas na privatização de empresas e serviços estatais, além de ferrenhas críticas à carga tributária do país, partido já tem 3.500 filiados

Plataforma da Petrobras (Germano Lüders / EXAME)

Plataforma da Petrobras (Germano Lüders / EXAME)

Raphael Martins

Raphael Martins

Publicado em 28 de setembro de 2015 às 15h00.

Última atualização em 7 de fevereiro de 2018 às 11h39.

São Paulo – No último dia 15, o Brasil ganhou nada menos que seu 33º partido político. De viés liberal, o Partido Novo prega a redução do Estado brasileiro e intensificação do livre comércio. Com o registro aprovado pelo (Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o Novo já poderá disputar as eleições municipais de 2016 com o número 30.

Criado em 2011 por um grupo de 10 amigos, o Novo surgiu com ideias centradas principalmente em privatização de empresas e serviços estatais, além de ferrenhas críticas à carga tributária do país. O estilo ganhou grande projeção na internet, onde o grupo mantém página no Facebook.

“Temos hoje mais de 900 mil seguidores, o terceiro partido em número de likes, atrás do PSDB e próximo do PT”, afirma João Dionisio Amoêdo, presidente do Novo em entrevista a EXAME.com. “Agora o objetivo é ‘vender ideias’ e atrair eleitores.” O resultado: na semana de registro, o partido já reunia 3.500 filiados em seu quadro.

Veja a entrevista completa abaixo e entenda como pensa e funciona o partido que quer privatizar o Brasil.

EXAME.com: O Partido Novo vai disputar as eleições municipais?
João Dionisio Amoêdo: Como o registro saiu muito próximo do prazo limite, a intenção é lançar candidato em alguns locais, mas daremos preferência a cidades maiores para divulgar conceitos do Novo.

Por que criar mais um partido entre os 34 existentes e qual a estratégia para ganhar espaço?
Há uma quantidade elevada de partidos porque há privilégios, como o fundo partidário, mas a grande maioria da população não se sente representada por nenhum deles. Há uma grande insatisfação com a quantidade de impostos pagos e a qualidade dos serviços públicos, resultado de um Estado que acaba atuando em várias áreas e não faz direito o que deveria fazer nas áreas essenciais para melhorar a qualidade de vida do cidadão, como saúde, educação e segurança. E nenhum partido defende a redução do escopo de atuação do Estado como o Novo.

Reduzir a atuação do Estado em que sentido?
O Estado não deveria fazer gestão de empresas. Saindo desse segmento, já haveria uma enorme redução dos gastos. Não precisa ter banco, empresa de petróleo, Correios... São negócios que deveriam ficar na iniciativa privada, com os indivíduos, não com o Estado.

João Dionisio Amoêdo, presidente do Partido Novo (Divulgação)

Qual a estratégia de vocês para ganhar espaço?
Usamos muito as tecnologias e mídias sociais. Temos hoje mais de 900 mil seguidores no Facebook, o terceiro partido em número de likes, atrás do PSDB e próximo do PT. E essa vai ser a principal ferramenta. Agora o objetivo é "vender ideias" e atrair eleitores.

Nosso público ainda é bastante variado, mas é agora que todo mundo está começando a entender que o que o Estado fornece é pago por impostos e que dá para ser melhor gerido. A riqueza é criada pelo indivíduo, com ele trabalhando, não dado pelo Estado. Ao pagar mais impostos, estamos diminuindo nossa capacidade de empreender e produzir, enquanto o Estado é super ineficiente nessa gestão de recursos.

Por essa lógica de redução do Estado, o estatuto do partido prega que serviços públicos nunca sejam de graça. Como ofertar serviços de saúde e educação para a população carente?
Não muda muito. Hoje, os serviços não são pagos na hora de utilizar, mas já foram tributados, certo? Nos produtos que compramos, no salário que recebemos... Nós entendemos que eles devem ser ofertados, mas que as pessoas tenham a opção de buscar alternativas que não sejam do Estado. Pagando menos tributo, ela vai ter a oportunidade de, eventualmente, ter acesso a planos populares de saúde.

O Bolsa Família é um exemplo, em que o Estado deu recurso para as pessoas. Deu os recursos e a pessoa escolhe o que fazer com aquilo e onde comprar comida.

Na educação, por exemplo, o Estado poderia dar um sistema de bônus que todos pudessem pagar o ensino dos filhos na rede privada. Com o dinheiro, ele tem a opção de fazer isso, em vez de o Estado gastar esse dinheiro para construir uma escola, comprar cadeira, contratando professor, quadro negro... O governo está provendo educação sem virar gestor de escolas.

Isso não cria uma vantagem grande demais para empresários? Para o dono de um conglomerado educacional, como a Kroton, não gera uma possibilidade de monopólio?
Não podemos esquecer que se o negócio é muito bom, mais gente vai querer investir naquilo. Isso gera uma competição que faz com que o custo caia. Normalmente, é assim que acontece. Hoje, quem consegue chegar às faculdades públicas são os que conseguiram pagar por um bom ensino privado. O mais pobre está pagando impostos para fomentar o ensino para quem pode pagar.

João Dionisio Amoêdo, presidente do Partido Novo (Divulgação/ Secretaria Estadual de Educação do Amazonas)

Então, vocês não se colocam contra programas sociais?
Não. O objetivo do Novo é melhorar a qualidade de vida das pessoas. Nós só não acreditamos que um caminho em que o Estado cobra mais impostos e promete dar benefícios seja o mais eficiente. Com os recursos no bolso, as pessoas farão a melhor gestão daquilo, de forma mais barata e competitiva. O Estado deve dar suporte, mas fazer que, com o tempo, o cidadão também deixe de precisar dessa rede de proteção.

Se o Novo estivesse na presidência, o que seria feito para resolver a situação atual de crise?
O governo tem dois problemas. O primeiro é falta de credibilidade, o segundo é de custos da máquina pública. É preciso um corte de custo, mesmo em coisa que não traria redução expressiva, mas serviria de exemplo. Desde mordomias e regalias, passando por redução de ministérios, até chegar em um programa de privatização de estatais e, por fim, reformas estruturais, como a da Previdência e flexibilização de leis trabalhistas. Assim, as empresas poderiam empreender mais e os trabalhadores poderiam ter mais opção de emprego.

O que significa flexibilização de leis trabalhistas?
As empresas e os trabalhadores deveriam ser livres para fazer o acordo que julgarem adequados, sem intervenção do governo.

Se no Brasil não há um partido parecido, há algum modelo de fora em que se inspirem? Algum político?
Nenhum modelo em específico é tomado como regra. O que vemos é que economias mais desenvolvidas, com melhor desempenho, tem um nível de liberdade muito maior. A gente cita eventualmente nas redes sociais como figuras políticas que têm bons ensinamentos o Ronald Reagan e a Margaret Thatcher. Ambos defenderam esse conceito que o indivíduo é melhor gestor que o Estado.

A Margaret Thatcher era a Dama de Ferro. Vocês serão o Partido de Ferro por aqui?
No momento que a economia inglesa tinha problemas, ela teve que tomar algumas decisões mais duras, né? Não sei bem o que seria fazer a mesma versão dela aqui.

Em momento de crise, ela não teve dó em cortar benefícios trabalhistas, por exemplo...
Dó de quem? Temos que ter cuidado. Quando ela cortou isso era sem dó provavelmente com os mais pobres que estavam sem conseguir emprego e sem nada. Quando falamos sem dó, é sem dó com quem está tendo um benefício ou de quem está mais pobre, pagando a conta via inflação e desempregado. Teremos mais dó sempre com quem é mais necessitado, que é onde a corda acaba sempre estourando.

A então primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, durante a abertura da Conferência do Partido Conservador, em Blackpool, em 10 de outubro de 1989 (AFP/File)

Um jogo rápido para entender a postura de vocês no cenário político atual. Qual a avaliação do Novo sobre:

O governo atual?
É muito ruim, porque toma as medidas erradas e tem baixa credibilidade.

A oposição?
A oposição tem sido não só ausente, mas tem tomado medidas dúbias, votando contra coisas que já defendeu no passado, como austeridade fiscal e corte de custos. O debate político tem deixado de lado as medidas corretas para o Brasil.

O ajuste fiscal?
É ruim, pois deveria ser centrado no corte de despesas, não no aumento de impostos.

Políticas sociais de proteção a minorias?
Todos devem ser tratados da mesma forma. Não deve haver qualquer tipo de benefícios. Todos devem ter oportunidade de se desenvolver. O mais importante é ter uma educação básica de qualidade para todos. O resto é consequência. Não sei se respondi.

Criminalizar a homofobia, por exemplo, é contra ou a favor?
Somos contrários a qualquer nível de crime, seja contra homossexuais ou não. Qualquer discriminação deve ser combatida.

E quanto a legalização das drogas e do aborto?
São assuntos que o Novo ainda não está discutindo, porque entendemos que são importantes, mas não são prioritários no momento. Serão discutidos mais para frente, então pessoas que pensam contra ou a favor são bem vindas às nossas discussões.

Financiamento privado de campanha?
Somos a favor de as pessoas terem liberdade de financiar, seja na forma de pessoa física ou jurídica. Financiamento somente público somos completamente contra. As pessoas devem ser livres para colocar dinheiro nos partidos que julgarem adequados.

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