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“Parece que o PT não quer ser eleito”, diz Samuel Pessôa

Para o professor da FGV, Fernando Haddad precisa fazer articulações com partidos de centro-direita para garantir governabilidade e atrair votos

Samuel Pessôa: o que será feito em relação ao buraco fiscal de 300 bilhões de reais ao ano? / Antonio Milena/ Veja
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Da Redação

Publicado em 11 de outubro de 2018 às 14h29.

Última atualização em 11 de outubro de 2018 às 15h46.

De acordo com pesquisa Datafolha divulgada na noite de quarta-feira, 10, sobre o segundo turno das eleições presidenciais, o candidato Jair Bolsonaro (PSL) está 16 pontos percentuais à frente do petista Fernando Haddad , que soma 42% das intenções de votos válidos. Apesar da desvantagem na corrida eleitoral, o PT não parece disposto a fazer articulações com partidos de centro-direita, segundo Samuel Pessôa, professor sênior da área de economia aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas, o que seria fundamental para atrair votos e garantir governabilidade. “O plano econômico segue a mesma cartilha da ‘nova matriz econômica’ usada por Dilma Rousseff. Parece até que o PT não quer ser eleito”, afirma. Confira abaixo os principais trechos da entrevista.

Como o senhor avalia o plano econômico dos candidatos à presidência?

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O plano econômico do governo Haddad segue a mesma cartilha da “nova matriz econômica” usada pela ex-presidente Dilma Rousseff, baseada em política fiscal expansionista, juros baixos e crédito barato fornecido por bancos estatais. Parece até que o PT não quer ser eleito. Está repetindo a mesma cartilha e não se mostra disposto a dar sinais mais contundentes para o centro-direita. Por isso, não trabalho com cenário de vitória do PT. Já, no caso do PSL, não existe plano. Você já viu algo nesse sentido?

Já foi aventada a possibilidade de reforma da previdência, por exemplo…

De fato, a previdência é vista como um problema grave e, que eu saiba, apenas o Marcio Pochamann, ex-assessor econômico do PT, não vê a reforma como importante. Independentemente do novo presidente e da escolha da proposta, é imprescindível votar e aprovar a reforma.

Qual dos dois candidatos terá mais facilidade para governar, levando-se em consideração o Congresso recém-eleito?

Acredito que o Bolsonaro terá mais governabilidade, porque o Congresso será mais conservador, o que acaba dificultando a construção de alianças por parte de um governo mais à esquerda. Por isso, Haddad precisa, em primeiro lugar, criar condições para governar por meio de alianças com o centro-direita. O discurso de que a democracia estará garantida com o PT não é suficiente. Na verdade, quem teme pela democracia teme tanto com Bolsonaro quanto com Haddad, afinal as credenciais democráticas do PT não são melhores do que as do PSL.

O senhor chegou a ser sondado para participar da equipe econômica do Haddad, caso ele vença as eleições?

Não fui convidado, até porque nós estamos em campos políticos distintos. Mas conheço o Fernando de longa data, estudamos no mesmo colégio (o Bandeirantes, em São Paulo) e depois fomos colegas na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, da Universidade de São Paulo. Tenho o maior respeito pela pessoa dele e sei da sua idoneidade. Agora, não adianta o PT escolher nomes para a equipe econômica se não houver indicação do que será feito em relação ao buraco fiscal de 300 bilhões de reais ao ano. Não existe um único caminho a ser trilhado: esse rombo pode ser sanado com aumento de impostos, com redução dos gastos públicos ou até com uma combinação dos dois. Mas essa trilha precisa ser estabelecida pela política, pelas articulações com outros partidos. Nenhum economista sério aceitaria embarcar sem saber exatamente quais são essas diretrizes. Só os aventureiros topariam. Eu nem perco o meu tempo lendo programa político e econômico se não houver as respostas para o rombo. Não adianta falar em crescimento econômico, nem em privatizações. Isso tudo é besteira.


Nesse sentido, como avalia a proposta de revogar a PEC dos gastos públicos?

O teto pode até ser furado, no entanto, existem consequências, como a impossibilidade de dar aumento a servidores públicos e de convocar novos concursos, além de desonerar alguns setores estratégicos. Nesse sentido, se o PT realmente eliminar o teto de gastos, não sei o que colocará no lugar. É bom lembrar que o Bolsonaro já está com a taça na mão e não precisa se mexer tanto para conseguir ser eleito.

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