Para evitar desgaste, ministro da Justiça é tirado de cena
Osmar Serraglio foi orientado a se expor o mínimo possível depois de ter sido exposto na operação Carne Fraca
Estadão Conteúdo
Publicado em 22 de março de 2017 às 08h58.
Última atualização em 22 de março de 2017 às 10h38.
Brasília - O ministro da Justiça , Osmar Serraglio, foi orientado a se expor o mínimo possível desde que a Operação Carne Fraca veio à tona.
A ordem partiu do Palácio do Planalto. Em conversas reservadas, auxiliares do presidente Michel Temer dizem que Serraglio - há apenas 15 dias no cargo - deve "submergir" para evitar mais desgaste e não se indispor com a Polícia Federal.
A crise envolvendo o ministro, porém, é reforçada até mesmo por integrantes do seu partido, o PMDB. A senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) disse nesta terça-feira, 21, que, quando era titular da Agricultura, ainda no governo Dilma Rousseff, Serraglio - à época deputado federal - e seu colega Sérgio Souza (PMDB-PR) a pressionaram para manter Daniel Gonçalves Filho no posto.
Ex-superintendente do Ministério da Agricultura no Paraná entre 2007 e 2016, Daniel é considerado pela Polícia Federal como o chefe da "quadrilha" desbaratada pela Operação Carne Fraca.
Interceptações telefônicas capturaram conversa de Serraglio com Daniel, um dos alvos da investigação. No diálogo, o então deputado se referia a Daniel como "grande chefe".
"Esse cidadão que foi nomeado tinha processos administrativos no ministério e nunca tive notícias de uma pressão tão forte para não tirar esse bandido de lá", afirmou Kátia.
"Dois deputados do meu partido insistiram que a lei não fosse cumprida a ponto de eu ter de ligar para a presidente Dilma, comunicar minha decisão de demitir e avisar que, com as consequências políticas, eu iria arcar. E ela disse: 'Demita já'", relatou a senadora, no plenário. A demissão, porém, não ocorreu.
Serraglio rebateu Kátia. Em nota divulgada à noite, o ministro da Justiça disse que a indicação de Daniel foi feita pelo então deputado Moacir Micheletto - morto em acidente de carro, em 2012 - e "chancelada" pela bancada do PMDB no Paraná.
Para ele, a ex-ministra admitiu, no discurso, que só manteria o superintendente regional após o apoio dos senadores do PMDB. "Sobre a resistência em nomear (ratificá-lo no cargo), deu-se por haver divergências políticas entre ela (Kátia) e a maioria da bancada, que era a favor do processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff", escreveu o ministro.
Saída
Apesar das explicações, deputados e senadores continuaram pedindo a cabeça de Serraglio. O governo avalia que houve "espetacularização" da operação da PF, com prejuízos à economia, mas recomendou ao ministro que não se manifeste sobre o assunto nem compre brigas.
Se necessário, ele deve responder "pontualmente" às acusações. Diante dessa ordem, a agenda de Serraglio tem sido de compromissos no gabinete.
A Comissão de Ética da Presidência recebeu nesta terça uma representação assinada pelos deputados Afonso Florence (PT-BA) e Robinson Almeida (PT-BA) contra Serraglio. Os parlamentares entraram, ainda, com pedido de investigação na Procuradoria- Geral da República.
Além da apuração do esquema revelado pela Carne Fraca, os petistas querem a demissão do ministro. "Ninguém chama os outros de chefe gratuitamente", disse Almeida.
O conselheiro Marcelo Figueiredo será o relator do caso na Comissão de Ética da Presidência. O colegiado tem reunião marcada para segunda-feira.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.