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Para 2022, líder do DEM almeja governos e presidência da Câmara

Em entrevista, o deputado Elmar Nascimento almeja vê o partido com candidatos aos governos do Rio, Bahia e São Paulo em 2022

DEM: "Meu sonho é ser presidente da Câmara", disse Elmar Nascimento (Wilson Dias/Agência Brasil)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 14 de julho de 2019 às 10h33.

Última atualização em 14 de julho de 2019 às 10h33.

ACM Neto candidato a governador da Bahia, ou até a presidente da República. Rodrigo Maia candidato a governador do Rio. Rodrigo Garcia a governador de São Paulo.

São altos os sonhos do Democratas para 2022 na cabeça do seu líder na Câmara, o deputado baiano Elmar Nascimento, advogado de 48 anos, desde os 26 na política, agora no segundo mandato federal. "Nós temos o mais jovem, o mais preparado, o mais qualificado quadro do Brasil, que é o ACM Neto (prefeito de Salvador e presidente nacional do DEM)", disse ele ao Estado durante entrevista em seu gabinete de líder na tarde-noite do último dia 1.º, segunda. "O Neto tem se encontrado quase que quinzenalmente com o Luciano Huck", contou. "Não sei o que eles estão conversando, mas o Neto pode ser candidato a governador ou a presidente, o que quiser; o partido está fechado com ele."

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Para o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, igualmente do DEM, Elmar Nascimento projeta o governo do Rio, em dobradinha com o também democrata Eduardo Paes, antevisto como candidato a prefeito em 2020. "O Rodrigo é uma grande liderança, tem maturidade, convive bem aqui no Parlamento, mas isso aqui é um limbo e tem que tomar cuidado para não ser absorvido por ele" disse o líder dos 30 deputados que formam a sétima bancada da Câmara. "O mundo real está lá fora - e o Neto tem essa capacidade de enxergar o mundo lá fora. Ele tem uma facilidade de se comunicar com as massas, um carisma, que eu só vejo um outro igual, o Lula."

O governador e o vice-governador de São Paulo também entraram na futurologia do parlamentar que já acumula sete mandatos - dois de vereador, na Campo Formoso natal, terra das esmeraldas e das cavernas, três na Assembleia Legislativa da Bahia e dois de deputado federal. "Fazendo ou não um grande governo, o (João) Doria está muito determinado a ser candidato a presidente - o que fará o DEM, com Rodrigo Garcia, assumir o governo de São Paulo", previu. "Ele é muito perspicaz, capacitado, dedicado, terá uma influência, e é projeto nosso que vá para uma reeleição."

A bola de cristal de Elmar Nascimento tem espaço para mais correligionários do DEM: o senador Rodrigo Pacheco, por exemplo, está de olho no governo de Minas; Mendonça Filho, ex-ministro da Educação, não reeleito, no de Pernambuco; Davi Alcolumbre, presidente do Senado, no governo do Acre... "O Democratas se renovou, tem uma turma jovem e competente", disse. Para ele mesmo, não escondeu o jogo: "Meu sonho é ser presidente da Câmara". Pode ser na sucessão de Rodrigo Maia, se para tal for ungido, pode ser mais tarde. "Vou trabalhar para isso", afirmou.

Elmar Nascimento é um braço forte, na Câmara, dessa "coisa do mal" chamada Centrão, para usar a ironia recente de Rodrigo Maia. "O Centrão não existe nos termos pejorativos que o adversário ou até a imprensa às vezes afirmam", disse o deputado.

Cargos

Seu irmão mais novo, Elmo Nascimento, é superintendente regional da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), em Juazeiro (BA). É um cargo federal de confiança. "Mas isso é do governo Michel (Temer)", ele diz, como se fizesse diferença. "Nomeado pelo atual governo, é zero; pode procurar que não vai achar." Emenda, logo a seguir: "Nunca houve tratativa de cargo com o atual governo. Mas não sou contra isso, não".

Fazendo jus ao nome, o irmão segue firme no cargo. "Elmo nunca viveu nem vive disso", explicou Elmar. "Entrou mais para me ajudar. A Codevasf é um órgão que só me interessa porque tem um poder de política pública muito grande na região, e assim eu não preciso de ter prefeito." Os irmãos são donos da distribuidora de bebidas Esmeraldas, com sede em Senhor do Bonfim, que atende a 20 municípios baianos. O faturamento, segundo informou o deputado, está em torno de R$ 1,5 milhão mensal.

Avião

Ele calcula que tenha um patrimônio pessoal "de uns R$ 2 milhões". Cita uma casa de classe média alta, em prestigiado condomínio fechado em Salvador. Tem 300 metros quadrados de área construída, e 500 de área total. Informa, também, ser dono de um avião bimotor Beechcraft Baron 2001, de seis lugares, que estima valer R$ 1 milhão. "Não é luxo, é necessidade", disse. "Algumas cidades baianas que eu percorro ficam muito longe de Salvador." Piloto e copiloto são pagos pela Esmeraldas, contou. Não voa desde dezembro, porque ainda não juntou o dinheiro para pagar a revisão necessária, acrescentou, olhando o monograma E.N. bordado no topo do bolso da camisa social. Manda fazê-las, sob medida, no Augusto Camiseiro, bem cotado alfaiate nos Jardins, em São Paulo.

Há um outro avião que o obsequia com caronas frequentes de Salvador para Brasília - este a jato, do senador Ângelo Coronel (PSD-BA), seu amigo de velhos carnavais e vizinho de condomínio. Os passageiros, além do dono do avião, e do líder do DEM, são os ex-governadores e senadores Otto Alencar (PSD) e Jaques Wagner (PT). "A conversa é boa", disse o possível futuro candidato a presidente da Câmara.

Contra Wagner, e contra deputados baianos do PT, como Jorge Solla, o democrata já disparou muita munição, com acusações não comprovadas de corrupção. É verdade que também foi metralhado, por denúncias do mesmo gênero, igualmente não comprovadas e não judicializadas. "Fui atacado e reagi no mesmo nível", resumiu o dono da Esmeraldas mexendo no cordão de ouro que só tira durante o carnaval.

"Boca Branca' x 'Boca Preta"

A joia carrega um pingente de Santo Antônio, padroeiro de Campo Formoso - 71 mil habitantes, no centro-norte baiano -, onde os Nascimento descendentes de dona Tavinha, avó de Elmar José, construíram um grupo político, os Boca Branca, que até hoje se digladia com os Boca Preta, às vezes em combates de foice no escuro. Elmar, com 110 quilos em 1,83 de altura, é o grande líder dos Boca Branca.

Elmo, antes da Codevasf, foi candidato a prefeito de Campo Formoso na última eleição, em 2016. Perdeu, por uma diferença de 1.820 votos, para a boca preta Rose Menezes, do PSD, com viagens por 15 países, segundo informa seu currículo no portal do município. Dia desses a prefeita esteve em Brasília, caçando recursos, e o líder boca branca a recebeu, com foto e divulgação nos blogs locais. "É minha adversária, derrotou meu irmão, mas a gente não pode prejudicar o município porque o povo escolheu outro", disse o deputado, sem corar.

"Tomara que esse louco acerte"

Em julho de 2018, quando era presidente do Conselho de Ética da Câmara dos Deputados - não cassou ninguém, para variar - Elmar Nascimento deu uma entrevista a rádio Metrópole, de Salvador, dizendo que votaria no petista Fernando Haddad, contra seu colega deputado Jair Bolsonaro, se a eleição fosse para o segundo turno. Comparou Bolsonaro com um "saco vazio" na área de Economia, e conclamou o povo a não votar "em um louco". Votou no tucano Geraldo Alckmin no primeiro turno - e, no segundo, em Bolsonaro. "Ele mudou, trouxe o (Paulo) Guedes como posto Ipiranga, botou o Onyx (Lorenzoni) como coordenador, e dei meu voto de confiança", justificou. "Apesar de que as idas e vindas do governo mostram que o conceito que eu tinha em relação a ele era legítimo", reiterou. "Tomara que esse louco acerte."

O líder do DEM já disse, nos primeiros seis meses de Bolsonaro, que o governo usou de "estratégia canalha" em uma negociação com a Câmara, e que estava virando uma "República da caserna". Tem atuado, como um dos líderes do Centrão, para a aprovação da reforma da Previdência - não a proposta que o governo enviou, mas a que a maioria da Casa quis, liderada por Rodrigo Maia. "O mérito do governo foi encaminhar a proposta, só esse", afirmou. "O problema do presidente Bolsonaro, além da falta de prioridades, é não perceber que a eleição acabou, e continuar no clima do nós contra eles", disse o devoto de Santo Antônio. "Outro erro é permitir uma ascendência mais ideológica do núcleo de extrema-direita, o que termina prejudicando."

Receita de polvo

Casado com uma engenheira que é funcionária pública em Salvador, o deputado tem duas filhas que estudam Direito - Mariana, 21, e Juliana, 19. Das viagens internacionais que já fez, oito foram para a Disney, levando as garotas, e cinco para Las Vegas. "Não gosto de jogar", esclareceu. Sua preferência, nesses passeios, é o turismo gastronômico. É cozinheiro nos fins de semana, e, se deixar, desvia a conversa para receitas de polvo ao sal grosso e outros frutos do mar. "Polvo macio", ressaltou. "É só cozinhar na panela de pressão, por 25 minutos, com uma cebola inteira, sem água." O sal grosso entra depois, com o caldo denso e avermelhado que ficou na panela, e muito azeite extravirgem, detalhou, cúpido.

Avesso a extremismos de direita e de esquerda - "não ajudam em nada", acha -, o líder campo-formosense não é de leituras. Faz tanto tempo que leu um livro, que mal lembrou qual. "Acho que foram uns discursos do Carlos Lacerda", arriscou. Ganhou do sogro, recentemente, Como as democracias morrem, de Steven Levitsky e Daniel Ziblat, mas ainda não passou das primeiras linhas. "Eu durmo", explicou, ao jeito baiano de ser.

"Teia do Homem-Aranha"

O parlamentar do Democratas contou ao Estado o teor de um telefonema que recebeu do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni no fim de semana que antecedeu a entrevista ao Estado. Fervia, como ainda ferve, o disse que disse sobre Bolsonaro estar fritando o ministro, pelo menos no que diz respeito à articulação política com a Câmara dos Deputados. Esta ficaria com o general Luiz Eduardo Ramos, recém-empossado na Secretaria de Governo. "Elmar, fique tranquilo, não existe nada disso", disse Onyx na ligação. "A teia que me liga ao presidente é como a teia do Homem-Aranha."

Esta, diz o google, é uma mistura líquida que fica sólida e muito resistente quando esguichada e em contato com o ar. "O presidente pode escolher quem ele quiser para conversar com o Parlamento - mas é o Parlamento que decide com quem quer conversar", disse o líder do Democratas. "O nosso interlocutor é o Onyx. Acabou. Se o presidente tiver juízo, e lealdade, é melhor deixar a articulação política com ele." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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