Pantanal foi o bioma que mais secou desde 1985, com 61% menos água no território
Levantamento do Mapbiomas mostra que em 39 anos, o Brasil ficou mais seco e perdeu 30,8% de corpos hídricos naturais
Repórter
Publicado em 26 de junho de 2024 às 09h52.
Última atualização em 26 de junho de 2024 às 10h22.
O Pantanal foi o bioma brasileiro que mais secou desde 1985. Em 2023, a superfície de água anual na região foi de 382 mil hectares, um número 61% abaixo da média histórica. Os dados fazem parte do levantamento MapBiomas Água, divulgado nesta quarta-feira, 26, pela rede MapBiomas, formada por universidades, ONGs e empresas de tecnologia, focada em monitorar as transformações na cobertura e uso da terra no Brasil.
Os números ajudam a entender e relacionar as recentes queimadas e secas nos estados do Centro-Oeste com as mudanças climáticas causadas pelos impactos da ação humana no meio-ambiente.
As tradicionais cheias do Pantanal, que obrigam os produtores de gado da região a caminhar com os bois para fora das propriedades até uma região seca, foram severamente impactadas pela diminuição de superfícies de água. De acordo com o MapBiomas, a última grande cheia, registrada em 2018, já havia sido abaixo média. Agora, 2023 foi ainda 50% mais seco que sete anos atrás.
Olhando para este ano, a situação é ainda pior. "Em 2024, nós não tivemos o pico de cheia. O ano registra um pico de seca, que deve se estender até setembro. O Pantanal em extrema seca já enfrenta incêndios de difícil controle", ressalta Eduardo Rosa, do MapBiomas.
Seca e crimes agravam incêncio do Pantanal
Menos água
O levantamento mostra que todos os seis biomas do Brasil estão sofrendo com a perda da superfície de água natural desde 2000 e que a década de 2010 foi a mais crítica.
Isso quer dizer que rios, lagos e mananciais estão secando. Em 2023, houve uma queda de 30,8% ou 6,3 milhões de hectares em comparação a 1985 nos corpos hídricos naturais de todo o país e o ano terminou com eles representando 77% da água em território nacional.
Os outros 23% são reservatórios antrópicos, ou seja, água armazenada em hidrelétricas, aquicultura, mineração e outras formas de armazenamento pensadas pelo ser-humano e monitorados pela Agência Nacional de Águas (ANA).
A seca atingiu as bacias hidrográficas. Seis das 12 espalhadas pelo país estiveram abaixo da média histórica em 2023 – percentual semelhante ao das sub-bacias nível 1 (53%, ou 44 delas) e das sub-bacias de nível 2 (57%, ou 156 sub-bacias).
Estados mais secos
A superfície de água em dez estados, ou seja, um pouco mais de um terço (37%) das unidades federativas ficou abaixo da média histórica em 2023. Os casos mais severos ocorreram nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, com perda de superfície de água de 274 mil hectares (-33%) e 263 mil hectares (-30%), respectivamente. No caso dos municípios, ficaram abaixo da média histórica mais da metade (53%, ou 2.925). O município de Corumbá (MS) foi o que mais perdeu superfície de água em 2023 em relação a média da série histórica: 261 mil hectares (-53%).