Pandemia já matou no Brasil tanto quanto a Guerra do Paraguai
O conflito armado mais sangrento da história da América Latina, que completou 150 anos, causou cerca de 50.000 baixas entre os brasileiros
Ernesto Yoshida
Publicado em 20 de junho de 2020 às 09h45.
Última atualização em 20 de junho de 2020 às 10h24.
Depois de superar na sexta-feira a marca de 1 milhão de pessoas infectadas com a covid-19 , o Brasil se aproxima hoje de mais um número triste: o de 50.000 óbitos desde o início da pandemia. Com isso, o coronavírus já está matando no Brasil tanto quanto a Guerra do Paraguai, o pior conflito armado na história da América Latina.
A Guerra do Paraguai completou em março 150 anos (durou de 1864 a 1870). Foi travada entre a chamada Tríplice Aliança (composta por Brasil, Argentina e Uruguai) e o Paraguai, envolvendo disputas políticas, comerciais e territoriais. O número total de baixas é impreciso, mas, segundo uma estimativa do historiador Francisco Doratioto, autor do livro Maldita Guerra, cerca de 50.000 soldados brasileiros morreram no conflito. Dizimado na guerra, o Paraguai perdeu muito mais: algo em torno de 280.000 pessoas, em sua maioria civis.
A pandemia do coronavírus já matou no Brasil mais que o total de pessoas mortas no ano passado inteiro em acidentes de trânsito, a décima principal causa de mortalidade no país. Segundo dados da seguradora Líder, que administra o seguro obrigatório de danos pessoais causados por veículos automotores (DPVAT), 40.721 pessoas morreram no país em 2019 vítimas de acidentes de trânsito.
A covid-19 no Brasil também já matou mais que total de óbitos registrados em 2018 em consequência de insuficiência cardíaca (26.482), doenças do fígado (25.793), doenças do aparelho urinário (19.956), insuficiência renal (15.884) e HIV (11.222), segundo os dados do Datasus, do Ministério da Saúde. No ritmo atual, em poucos dias deve superar também o total de pessoas que morreram no ano vítimas de agressões (55.914).
Até ontem à noite, o Brasil tinha 49.090 mortes causadas pelo novo coronavírus, de acordo com os dados do consórcio de imprensa que reúne UOL, Folha de S.Paulo, O Estado de S. Paulo, O Globo, G1 e Extra. O balanço é feito com base nas informações das 27 secretarias estaduais de Saúde.
Caso mantenha a média dos últimos dias, o Brasil se torna hoje o segundo país do mundo a ultrapassar a marca de 50.000 óbitos. O número real de mortes, no entanto, provavelmente é muito maior. Oficialmente, o primeiro país a atingir essa marca foram os Estados Unidos, no dia 23 de abril. Os Estados Unidos continuam liderando as estatísticas de vítimas da pandemia, com quase 2,3 milhões de casos confirmados e 121.400 mortes.
Nos últimos sete dias, porém, morreram 4.582 pessoas por covid-19 nos Estados Unidos, ou 655 óbitos por dia. No Brasil, foram 7.189 óbitos no mesmo período, média de 1.207 por dia.