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Os pontos altos e baixos da economia brasileira em 2010 na visão do Santander

Os cinco marcos elencados pelo economista Cristiano Souza são desemprego, crédito, blindagem contra a crise, contabilidade fiscal e inflação

Cristiano Souza, do Santander: "Governo poderia ajudar BC cortando gastos" (Divulgação/Santander)

Cristiano Souza, do Santander: "Governo poderia ajudar BC cortando gastos" (Divulgação/Santander)

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Da Redação

Publicado em 24 de dezembro de 2010 às 10h53.

São Paulo - O ano termina com grandes conquistas para a economia brasileira e muitos desafios pela frente. Em uma espécie de Retrospectiva 2010, o Departamento Econômico do Santander listou os cinco principais acontecimentos.

1) Queda expressiva da taxa desemprego simultaneamente ao aumento da formalização no mercado de trabalho.

2) Avanço da relação Crédito/PIB, em especial, do crédito imobiliário.

3) Baixa contaminação do risco-país em face à crise fiscal europeia, resultando em grande influxo de capitais e aumento das reservas internacionais até quase US$ 300 bilhões.

4) Mudanças nos critério de contabilidade fiscal

5) Expectativa para inflação um ano à frente (2011) consistentemente acima da meta, fato inédito desde o início do sistema de metas no Brasil.

O economista da instituição Cristiano Souza analisou cada uma das escolhas na edição desta sexta-feira (24) do programa "Momento da Economia", na Rádio EXAME. Para ouvir a íntegra, basta clicar na imagem ao lado.

Desemprego em 2010: "Esse foi um ano em que a gente viu, a cada mês, o desemprego bater recordes sucessivos de baixa até chegar a novembro com 5,7%. Em dezembro, o índice será ainda menor. Tirando os efeitos sazonais de fim de ano, o desemprego está rodando a 6%, o que é muito baixo. Esse desemprego baixo garante, além da estabilidade das pessoas no trabalho, pressões por aumento de salários, o que provoca aceleração do consumo das famílias."

Perspectivas para o desemprego 2011: "Provavelmente a gente vai continuar com o desemprego baixo. O mercado de trabalho se move lentamente. A não ser que haja  um grande choque negativo na economia, a gente não terá mudanças abruptas em 2011."

Crédito em 2010: "Esse avanço do crédito vem na esteira do mercado de trabalho robusto. As pessoas, confiantes na manutenção do emprego e vendo os salários crescendo, começam a pensar em bens que demandam crédito de mais longo prazo, como casa, carro, móveis e computador. Além disso, a oferta de crédito é bem expressiva no Brasil, pois os bancos são sólidos e saudáveis, e têm interesse em emprestar. As pessoas confundem, às vezes, achando que bancos só gostam de juros altos, mas bancos também gostam de juros baixos porque o negócio muda e passa a ser dar crédito, que é o grande foco atual das instituições. Os bancos observam a queda da inadimplência, que é música para os ouvidos deles. A relação crédito/PIB, que começou 2009 em 40%, está atualmente em 46%.

Perspectivas para o crédito em 2011: "Não acredito que a relação crédito/PIB chegue a 50% no ano que vem, pois a gente precisa pensar que a política monetária estará mais apertada e haverá desaceleração de crescimento, impactando na velocidade de expansão do crédito."


Blindagem contra a crise em 2010: "Na Europa, vimos países com problemas de caixa, à beira de dar calotes na divida, e precisando recorrer ao FMI. Parecia a America Latina nos anos 80, 90 e começo de 2000. O risco de alguns países, como Irlanda, Grécia e Portugal, é maior do que o do Brasil, que nunca foi colocado como a bola da vez nessa crise. Os fundamentos da economia brasileira são muito bem vistos, como as reservas superando a dívida externa. Em 2002, as nossas reservas só pagavam um terço da dívida externa. Hoje o Brasil é muito atrativo e, por isso, vimos a grande entrada de investimentos estrangeiros em 2010."

Perspectivas para o rating do Brasil em 2011: "É um muito imprevisível se as agências de classificação de risco vão elevar a nota do Brasil no ano que vem, mas eu acho um pouco difícil ainda, pois elas vão olhar de perto a condução fiscal do País, a condução da política monetária e a desaceleração da economia.

Contabilidade fiscal em 2010: "O governo vai atingir a meta com uma receita extraordinária da capitalização da Petrobras e outras operações financeiras. A grande discussão é que o governo ainda não desacelerou o o ritmo de crescimento dos gastos, que avançam mais que o PIB. O governo hoje impulsiona a demanda doméstica numa época em que a economia não precisa mais de ajuda. Mantendo a demanda doméstica muito aquecida, o governa impulsiona as importações e deteriora o quadro de inflação. Essas mudanças de critérios na condução fiscal têm encoberto um superávit primário menor."

Perspectivas de ajuste fiscal em 2011: "O governo Dilma e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disseram que vão cumprir a meta fiscal em 2011 sem que se busquem essas receitas extraordinárias. O importante é que isso aconteça com controle de gastos e não com aumento de receitas. As primeiras indicações são positivas, mas agora a questão é entregar o que foi prometido."

Inflação um ano à frente acima do centro da meta: "A gente não tinha visto até agora (desde a criação do sistema de metas de inflação) a expectativa ficar acima da meta. Normalmente havia uma convergência para a meta alguns meses à frente, o que significava que havia uma grande credibilidade de que o Banco Central alteraria a política monetária rapidamente. Agora, muita gente, inclusive o Santander, achava que havia espaço para o Banco Central apertar um pouco a política monetária no fim desse ano porque havia sinalização de inflação em alta. Como isso não foi feito, houve deterioração das expectativas inflacionárias."

Perspectivas para os juros em 2011: "Expectativas de inflação acima da meta exigem atuação muito forte e contundente do Banco Central, ou seja, ele tem de mostrar para o mercado que vai tomar a quantidade de remédio necessária para reduzir a inflação. O Banco Central poderia ser ajudado pelo Tesouro Nacional se houvesse redução de gastos públicos. Hoje, ao que parece, o Banco Central tem a necessidade de elevar os juros de 10,75% para 13% ao longo do primeiro semestre para controlar as expectativas de inflação em 2012, pois é difícil falar que a inflação do ano que vem vai convergir para a meta."

Leia mais: Economistas renomados revelam as projeções de suas bolas de cristal para 2011

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