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Orliange, da AFD: o clima exige esforços globais

Camila Almeida, de Quito No dia 20 de outubro, em Quito, no Equador, 193 países se comprometeram com a Nova Agenda Urbana, que define as diretrizes para o desenvolvimento das cidades do mundo para os próximos 20 anos. Um documento que vai guiar os projetos do poder público, os financiadores, o setor privado e as organizações […]

PHILIPPE ORLIANGE: Diplomata acredita que projetos de longo prazo só podem ser garantidos quando todos os atores da sociedade compartilham da mesma visão / Divulgação
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Da Redação

Publicado em 27 de outubro de 2016 às 18h40.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 17h55.

Camila Almeida, de Quito

No dia 20 de outubro, em Quito, no Equador, 193 países se comprometeram com a Nova Agenda Urbana, que define as diretrizes para o desenvolvimento das cidades do mundo para os próximos 20 anos. Um documento que vai guiar os projetos do poder público, os financiadores, o setor privado e as organizações sociais. Em abril deste ano, os membros da ONU já haviam assinado o acordo climático de Paris – e, para o diplomata Philippe Orliange, diretor estratégico da Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD), os dois documentos conversam. Com foco no combate às mudanças climáticas, há 60 anos a AFD financia projetos para o desenvolvimento urbano e social no hemisfério sul.

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Com atuação no Brasil desde 2007, especialmente nos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná, a agência apoia políticas com impactos positivos sobre o clima, como o ordenamento sustentável dos territórios e a gestão responsável de recursos naturais. A agência também mantém parcerias com o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais, com o BNDES e com o Ipea, para financiar projetos e pesquisas. Em entrevista a EXAME Hoje, Philippe Orliange falou sobre a importância da continuidade entre as gestões para o sucesso dos projetos de longo prazo e da importância de combater as mudanças climáticas com uma atuação global.

Qual o interesse da França em financiar projetos de desenvolvimento na A mérica Latina?

Nós estamos trabalhando na América Latina basicamente para financiar cidades. Não podemos promover uma agenda para combater as mudanças climáticas sem ter uma perspectiva global – e as cidades precisam de ajuda para se desenvolver. Minha principal preocupação são as mudanças climáticas e a primeira coisa que precisamos fazer é entender qual é a demanda para combatê-las. A demanda nas cidades é por serviços básicos, acesso a serviços públicos, inclusão social, criação de empregos, ambientes mais seguros. Toda essa agenda está muito consistentemente conectada à agenda climática. Em outras palavras, você não pode construir uma cidade inclusiva de verdade se esta cidade não é ao mesmo tempo amiga do meio ambiente, resiliente às mudanças climáticas e com baixa emissão de gases poluentes. Desde que começamos a trabalhar com países da América Latina, nós alcançamos resultados muito positivos nas negociações de políticas climáticas e descobrimos que há um amplo espaço para trabalho. É por isso que estamos aqui.

Como tem sido a relação de vocês com o setor privado no desenvolvimento desses projetos?

Acho que as empresas estão bastante engajadas nesta agenda sustentável. O que nós temos sentido do setor privado na América Latina – e nós temos companhias francesas trabalhando aqui também – é que eles estão extremamente interessado em questões urbanas, justamente pelas razões que eu mencionei antes. Claro que eles olham essas questões pela sua perspectiva, que é a de fazer negócios, mas uma parte do setor privado já percebeu que fazer negócios tem que ser compatível com esse desejo de maior inclusão e de melhor ambiente. Essa precisa ser uma agenda compartilhada entre governo, empresas, bancos de desenvolvimento e ONGs. Não quer dizer que existem diferenças de opiniões, mas não pode haver separação na agenda, e sim convergência de olhares.

No Brasil, vivemos uma grave crise política e econômica. Vocês têm sentido dificuldade em firmar acordos conosco?

Trabalhamos como uma agência de desenvolvimento, financiando instituições. Nosso papel é estar presente junto aos nossos parceiros, mesmo quando os tempos não são tão bons quanto poderiam ser. Porque somos parceiros de longo prazo e nós temos bastante consciência do que temos conseguido no Brasil. Tivemos algumas conquistas marcantes com nosso trabalho em Minas Gerais, em São Paulo, no Rio, em Curitiba. Nós continuamos engajados no nosso trabalho Brasil, apoiando o desenvolvimento urbano e outras questões, mesmo com o contexto geral não sendo tão favorável quanto há alguns anos.

Como tem sido a relação com os prefeitos e como vocês contornam o problema da continuidade? Nos projetos de longo prazo, tem sido um desafio lidar com diferentes posicionamentos políticos, ideológicos e prioridades?

Antes de tudo, é sempre bom lembrar que a movimentação de prefeitos faz parte da democracia. Nós não deveríamos nunca esquecer que prefeitos eleitos são o primeiro nível da democracia e é muito importante aplaudir todos as conquistas da América Latina neste contexto. Na questão da continuidade, mesmo com mandatos relativamente curtos em comparação com a duração que eles têm na França [o último prefeito de Paris, Bertrand Delanoë, ficou no cargo por 13 anos], os melhores projetos que financiamos são os que se beneficiam da continuidade, apesar das mudanças da administração. Só é possível haver continuidade quando há uma visão compartilhada de todos os atores envolvidos, mesmo que o líder oficial mude a cada quatro anos.

Você acredita que a Nova Agenda Urbana pode ser um instrumento que ajude a construir esse consenso?

A Nova Agenda Urbana é relevante para cidades em todos os continentes do mundo – e ela é comum para América Latina, África, Ásia, Europa. Todas precisam buscar metas de desenvolvimento sustentável. E os desafios que encontramos aqui, especialmente em relação à busca de coesão social nas cidades, são as mesmas questões que nós enfrentamos na Europa, não há diferença.

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