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Opinião: PSDB forte pode desequilibrar base governista

O PSDB não só conquistou a Prefeitura de SP, numa inédita eleição em 1º turno, como foi o partido que obteve o maior crescimento no número de prefeitos


	Temer e Aécio: o primeiro movimento é a pressão para que o governo conduza o ajuste fiscal com bastante firmeza
 (Ueslei Marcelino / Reuters)

Temer e Aécio: o primeiro movimento é a pressão para que o governo conduza o ajuste fiscal com bastante firmeza (Ueslei Marcelino / Reuters)

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Da Redação

Publicado em 3 de outubro de 2016 às 19h53.

Sâo Paulo - O forte desempenho do PSDB na eleição de domingo é obviamente uma boa notícia para o presidente Michel Temer, já que os tucanos são importantes aliados do governo, mas muita força para um dos atores traz sempre o risco de uma busca de protagonismo que pode causar desconforto, mal-estar e até outras reações menos republicanas dos demais parceiros.

O PSDB não só conquistou a Prefeitura de São Paulo, numa inédita eleição em primeiro turno, como foi o partido que obteve, com folga, o maior crescimento no número de prefeitos, tendo aumentado em cerca de 100, para quase 800, o total de municípios sob seu comando.

Eterno campeão das eleições municipais, o PMDB voltou a subir no lugar mais alto do pódio, com pouco mais de mil prefeituras, mas praticamente estável em relação a 2012. E isso num momento em que o PT, torpedeado pela Lava Jato e pelo impeachment de Dilma Rousseff, perdeu perto de 400 cidades.

Com os resultados de domingo, os tucanos ganham fôlego para seguir em movimentos que já vinham realizando e que, se agradam o mercado financeiro, podem começar a melindrar, para dizer o mínimo, o PMDB e demais partidos da base de Temer.

O primeiro movimento é a pressão para que o governo conduza o ajuste fiscal com bastante firmeza.

Não faz muito tempo, surgiram notícias de que o PSDB estaria avaliando a validade de seguir apoiando um governo que se mostrava mais flexível do que os tucanos gostariam em relação ao ajuste, usando como gancho especialmente os reajustes do funcionalismo público.

Tão importante quanto as significativas bancadas que os tucanos têm na Câmara e no Senado, importantes num momento em que o Congresso aprecia medidas delicadas e que exigem muitos votos para sua aprovação, o apoio do PSDB ajuda a dar ao governo Temer um verniz de credibilidade especialmente junto aos mercados financeiros.

Com a força advinda da votação de domingo, que pode ser aumentada ainda mais no segundo turno, é de se esperar que o PSDB continue pressionando o PMDB sobre o ajuste fiscal, o que é bom para o país, mas também para o próprio PSDB.

De um lado, o partido faz o discurso que é música para os mercados, de outro segue sendo, na prática, apenas linha auxiliar de uma política econômica, nada popular, que está sendo conduzida em sua essência pelo PMDB, para o bem e para o mal.

Outro movimento que deve se intensificar agora é o desejo do PSDB de fazer o sucessor de Rodrigo Maia (DEM-RJ) na presidência da Câmara dos Deputados.

O único tucano até hoje que presidiu a Câmara foi o hoje senador Aécio Neves. Mas isso foi no segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, há 14 anos.

O problema é que o chamado "centrão", um agrupamento de vários partidos que também fazem parte da base de Temer, já demonstrou desejo semelhante, sem contar que o PMDB, partido que mais vezes comandou a Casa desde a redemocratização, não costuma abrir mão do privilégio facilmente.

Assim, a sucessão da Câmara tem potencial para gerar bastante tensão dentro da base aliada ao Palácio do Planalto.

E nunca é demais lembrar que o casamento entre PSDB e PMDB tem data provável para acabar.

A não ser que os peemedebistas decidam apoiar um candidato tucano à Presidência da República em 2018, mais difícil de acontecer agora que eles chegaram lá sem intermediários, é praticamente certo que os dois partidos desfaçam o casamento.

Por esses e outros movimentos que podem surgir nas próximas semanas, o maior risco para o partido do presidente da República é o PSDB se tornar "o PMDB do PMDB", numa alusão às contínuas trombadas protagonizadas pelos peemedebistas quando o PT ocupava o Palácio do Planalto e dependia em muito dos sócios da coalizão governista.

Uma amostra grátis dessas trombadas talvez possa ser vista na campanha do segundo turno.

Se na primeira rodada eram todos contra todos, o que incluía a oposição ao governo federal e pulverizava os ataques, agora em três capitais --Porto Alegre, Maceió e Cuiabá-- o confronto será direto entre PSDB e PMDB.

Como nos confrontos PT X PMDB, caberá às lideranças dos dois aliados trabalharem junto com o Palácio do Planalto para impedir que quaisquer rusgas surgidas na disputa eleitoral atrapalhem o bom andamento do governo e das reformas.

*O autor é editor de Front Page do Serviço Brasileiro da Reuters. As opiniões expressas são do autor do texto

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