“Onde está Murilo?”, pergunta mãe de desaparecido em Goiás
O garoto é umas das 39 pessoas que desapareceram após serem abordadas por policiais militares na região metropolitana de Goiânia nos últimos anos
Da Redação
Publicado em 5 de agosto de 2013 às 13h17.
Brasília - Enquanto cidadãos e organizações de defesa dos direitos humanos cobram das autoridades do Rio de Janeiro o esclarecimento sobre o que ocorreu com o pedreiro Amarildo de Souza, desaparecido há 23 dias, a dona de casa goiana Maria das Graças Soares luta quase que sozinha, há oito anos, para saber o paradeiro de seu filho Murilo Soares.
O garoto é umas das 39 pessoas que, segundo organizações sociais de defesa dos direitos humanos, desapareceram após serem abordadas por policiais militares na região metropolitana de Goiânia nos últimos anos.
"Eu também queria saber onde está o meu filho. Eu queria que os governantes, as autoridades, também me ajudassem”, disse Maria das Graças a Agência Brasil. “São 39 famílias de desaparecidos após abordagem policial que até hoje não tiveram respostas”, comentou a dona de casa, referindo-se aos números parcialmente revelados no ano passado, em um relatório da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Goiás.
Morador da Rocinha, Amarildo desapareceu no dia 14 de julho deste ano, após ser levado por policiais militares para a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da comunidade, no bairro de São Conrado, na zona sul do Rio. O caso gerou protestos de moradores da Rocinha aos quais, depois, se somaram outros segmentos da sociedade fluminense.
Após chegar às redes sociais, a pergunta "Onde está Amarildo?" atraiu a atenção da imprensa brasileira e internacional. Já o caso de Murilo e das outras 38 supostas vítimas da abordagem policial goiana atraem cada vez menos atenção da opinião pública.
Murilo tinha 12 anos quando, em 22 de abril de 2005, policiais do grupo Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas (Rotam) pararam o carro dirigido pelo servente Paulo Sérgio Pereira Rodrigues, de 21 anos. A pedido do próprio pai (que, na época, já estava separado de Graça), Murilo voltava para casa de carona com Paulo.
Várias pessoas presenciaram o momento em que os policiais revistavam o motorista enquanto o garoto permanecia de pé, ao lado do veículo. Foi a última vez que Murilo e Paulo foram vistos. O carro foi encontrado no dia seguinte, carbonizado e sem a aparelhagem de som e as rodas. Os corpos dos dois ocupantes, no entanto, jamais foram localizados. Paulo tinha antecedentes criminais.
Oito policiais acusados de latrocínio (roubo seguido de morte) e ocultação de cadáver foram absolvidos pela justiça de Goiás por falta de provas materiais. O Ministério Público recorreu da sentença e o resultado do julgamento foi anulado pela justiça estadual, que decidiu levar os policiais ao tribunal de júri por duplo homicídio qualificado e ocultação de cadáveres. Por falta de indícios, a nova decisão também foi anulada e o novo julgamento não aconteceu.
Passados oito anos, Maria das Graças diz ter perdido a esperança de que alguém seja punido pelo sumiço de seu filho. Por já não acreditar que o garoto esteja vivo, ela diz alimentar unicamente a esperança de dar um enterro digno ao seu filho. “Minha expectativa é que um dia eu possa enterrar os restos do meu filho. Este é meu sonho. Eu quero encontrar o Murilo, não importa o jeito que ele esteja”.
Há três meses, ao pedir que a investigação e o julgamento das mortes de moradores de rua de Goiânia fossem federalizados, a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, sugeriu que também as denúncias de desaparecimentos após abordagens policiais na região metropolitana da capital goiana também fossem federalizados. O pedido da ministra foi encaminhado ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, no começo de maio.
No pedido, é mencionada a suspeita de violência policial e atuação de grupos de extermínio em Goiás que, desde 2000, resultaram em “sistemáticas violações aos direitos humanos, diante da inércia estatal para investigar, julgar e punir os possíveis autores”. A cargo do ministro Jorge Mussi, do STJ, o deslocamento da competência ainda não foi julgado.
Na ocasião em que o pedido de federalização foi apresentado, a Polícia Militar de Goiás informou, por meio de sua assessoria, que acompanha os desdobramentos do caso, classificado como “extremamente complexo”, e que tem o maior interesse no esclarecimento dos fatos para que, se comprovadas as acusações, os eventuais responsáveis sejam punidos.
Brasília - Enquanto cidadãos e organizações de defesa dos direitos humanos cobram das autoridades do Rio de Janeiro o esclarecimento sobre o que ocorreu com o pedreiro Amarildo de Souza, desaparecido há 23 dias, a dona de casa goiana Maria das Graças Soares luta quase que sozinha, há oito anos, para saber o paradeiro de seu filho Murilo Soares.
O garoto é umas das 39 pessoas que, segundo organizações sociais de defesa dos direitos humanos, desapareceram após serem abordadas por policiais militares na região metropolitana de Goiânia nos últimos anos.
"Eu também queria saber onde está o meu filho. Eu queria que os governantes, as autoridades, também me ajudassem”, disse Maria das Graças a Agência Brasil. “São 39 famílias de desaparecidos após abordagem policial que até hoje não tiveram respostas”, comentou a dona de casa, referindo-se aos números parcialmente revelados no ano passado, em um relatório da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Goiás.
Morador da Rocinha, Amarildo desapareceu no dia 14 de julho deste ano, após ser levado por policiais militares para a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da comunidade, no bairro de São Conrado, na zona sul do Rio. O caso gerou protestos de moradores da Rocinha aos quais, depois, se somaram outros segmentos da sociedade fluminense.
Após chegar às redes sociais, a pergunta "Onde está Amarildo?" atraiu a atenção da imprensa brasileira e internacional. Já o caso de Murilo e das outras 38 supostas vítimas da abordagem policial goiana atraem cada vez menos atenção da opinião pública.
Murilo tinha 12 anos quando, em 22 de abril de 2005, policiais do grupo Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas (Rotam) pararam o carro dirigido pelo servente Paulo Sérgio Pereira Rodrigues, de 21 anos. A pedido do próprio pai (que, na época, já estava separado de Graça), Murilo voltava para casa de carona com Paulo.
Várias pessoas presenciaram o momento em que os policiais revistavam o motorista enquanto o garoto permanecia de pé, ao lado do veículo. Foi a última vez que Murilo e Paulo foram vistos. O carro foi encontrado no dia seguinte, carbonizado e sem a aparelhagem de som e as rodas. Os corpos dos dois ocupantes, no entanto, jamais foram localizados. Paulo tinha antecedentes criminais.
Oito policiais acusados de latrocínio (roubo seguido de morte) e ocultação de cadáver foram absolvidos pela justiça de Goiás por falta de provas materiais. O Ministério Público recorreu da sentença e o resultado do julgamento foi anulado pela justiça estadual, que decidiu levar os policiais ao tribunal de júri por duplo homicídio qualificado e ocultação de cadáveres. Por falta de indícios, a nova decisão também foi anulada e o novo julgamento não aconteceu.
Passados oito anos, Maria das Graças diz ter perdido a esperança de que alguém seja punido pelo sumiço de seu filho. Por já não acreditar que o garoto esteja vivo, ela diz alimentar unicamente a esperança de dar um enterro digno ao seu filho. “Minha expectativa é que um dia eu possa enterrar os restos do meu filho. Este é meu sonho. Eu quero encontrar o Murilo, não importa o jeito que ele esteja”.
Há três meses, ao pedir que a investigação e o julgamento das mortes de moradores de rua de Goiânia fossem federalizados, a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, sugeriu que também as denúncias de desaparecimentos após abordagens policiais na região metropolitana da capital goiana também fossem federalizados. O pedido da ministra foi encaminhado ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, no começo de maio.
No pedido, é mencionada a suspeita de violência policial e atuação de grupos de extermínio em Goiás que, desde 2000, resultaram em “sistemáticas violações aos direitos humanos, diante da inércia estatal para investigar, julgar e punir os possíveis autores”. A cargo do ministro Jorge Mussi, do STJ, o deslocamento da competência ainda não foi julgado.
Na ocasião em que o pedido de federalização foi apresentado, a Polícia Militar de Goiás informou, por meio de sua assessoria, que acompanha os desdobramentos do caso, classificado como “extremamente complexo”, e que tem o maior interesse no esclarecimento dos fatos para que, se comprovadas as acusações, os eventuais responsáveis sejam punidos.