Joesley Batista presta depoimento na Polícia Federal em SP (Rovena Rosa/Agência Brasil)
Talita Abrantes
Publicado em 5 de setembro de 2017 às 19h36.
Última atualização em 5 de setembro de 2017 às 20h32.
São Paulo - Em nota enviada à imprensa nesta terça-feira, o empresário Joesley Batista e o executivo Ricardo Saud, ambos ligados ao grupo J&F, negaram a veracidade dos relatos feitos por eles em áudio entregue à Procuradoria-Geral da República.
Na conversa, gravada por engano no último dia 17 de março, os executivos citam três ministros do Supremo Tribunal Federal e o próprio procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
"Esclarecemos que as referências feitas por nós ao Excelentíssimo Senhor Procurador-Geral da República e aos Excelentíssimos Senhores e Senhoras Ministros do Supremo Tribunal Federal não guardam nenhuma conexão com a verdade. Não temos conhecimento de nenhum ato ilícito cometido por nenhuma dessas autoridades", diz a nota.
Ao menos três ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) foram citados na conversa: Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes e a presidente da Corte, Carmén Lúcia. Sobre nenhum deles, no entanto, há menção ou atribuição a algum tipo de crime.
Um dos pontos mais sensíveis da gravação é quando Joesley e Saud citam Fernanda (provavelmente a advogada Fernanda Tórtima, que fez a defesa de Eduardo Cunha), afirmando que ela “surtou” porque, a depender das autoridades citadas no depoimento, eles poderiam “entregar” o Supremo.
“Surtou por causa do Zé, porque sabe que, se nós entregar o Zé, nós entrega o Supremo”, diz Joesley no áudio, se referindo a Fernanda e a José Eduardo Cardozo, ex-ministro da Justiça.
“Eu falei pro Marcelo: ô Marcelo, cê quer pegar o Supremo? Quero. Pega o Zé. Guarda o Zé, o Zé entrega o Supremo”, continua, provavelmente se referindo a Marcelo Miller.
Aparentemente bêbados, os dois também fizeram piada com a proximidade entre Cardozo, a ex-presidente Dilma Rousseff e a presidente do STF, Carmen Lúcia, além de se referirem de forma chula a várias mulheres. "Pedimos as mais sinceras desculpas por este ato desrespeitoso", diz a dupla na nota enviada à imprensa.
Ontem, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, abriu uma investigação contra três delatores da empresa — além de Joesley e Saud, Francisco de Assis, advogado do grupo J&F, também será investigado.
A suspeita é que os executivos da holding que controla a JBS omitiram informações “gravíssimas” em seu acordo de delação premiada.
De acordo com Janot, as gravações apresentadas pelos delatores na semana passada revelam um diálogo entre Joesley e Ricardo Saud, então diretor institucional da J&F, com “referências indevidas à Procuradoria-Geral da República e ao Supremo Tribunal Federal”.
Veja a nota:
"A todos que tomaram conhecimento da nossa conversa, por meio de áudio por nós entregue à PGR, em cumprimento ao nosso acordo de colaboração, esclarecemos que as referências feitas por nós ao Excelentíssimo Senhor Procurador-Geral da República e aos Excelentíssimos Senhores e Senhoras Ministros do Supremo Tribunal Federal não guardam nenhuma conexão com a verdade. Não temos conhecimento de nenhum ato ilícito cometido por nenhuma dessas autoridades. O que nós falamos não é verdade, pedimos as mais sinceras desculpas por este ato desrespeitoso e vergonhoso e reiteramos o nosso mais profundo respeito aos Ministros e Ministras do Supremo Tribunal Federal, ao Procurador-Geral da República e a todos os membros do Ministério Público."