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"O presidente Bolsonaro pegou o Brasil torto", diz empresário

Em entrevista, Maurílio Biagi Filho, um dos maiores fornecedores de cana do país, fala sobre as mudanças no setor e avalia o governo de Jair Bolsonaro

Jair Bolsonaro: Empresário que é um dos maiores fornecedores de cana do país avalia os primeiros meses do Governo (NurPhoto/Getty Images)

Jair Bolsonaro: Empresário que é um dos maiores fornecedores de cana do país avalia os primeiros meses do Governo (NurPhoto/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 29 de julho de 2019 às 12h10.

"Caipira" de Ribeirão Preto (SP), o empresário Maurílio Biagi Filho, 77 anos, já foi dono de um império, que incluía a usina Santa Elisa, um dos maiores grupos de açúcar e álcool do país, engarrafadoras da Coca-Cola e indústrias de máquinas e equipamentos. Foi um dos usineiros mais influentes do país, com trânsito livre em Brasília e no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo.

Abatido pela crise que atingiu as indústrias sucroalcooleiras e levou o empresário a se desfazer de vários negócios, Biagi Filho saiu dos holofotes do setor. Ele agora se dedica à sua holding, a Maubisa, que tem participação em várias companhias - do setor imobiliário, varejo a startups. Biagi também é um dos maiores fornecedores de cana do país.

Nesta entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o empresário avalia o governo do presidente Jair Bolsonaro e reconhece as mudanças no setor de cana. No último domingo, o Estado mostrou que parte das usinas está retomando o plantio manual.

Como o sr. avalia os primeiros meses do governo Bolsonaro?
Com muita esperança. A aprovação da reforma da Previdência no primeiro turno foi um dia histórico. Acredito muito no ministro da Economia, Paulo Guedes. Ele é um gênio. As pessoas dizem que ele é pavio curto, mas ele está mostrando por A mais B que está certo e que as contas não fecham. São quase oito meses de governo e estamos vendo mudanças. O presidente pegou o país torto.

Torto? O sr. se refere à longa recessão ou à corrupção?
É um combinado das duas coisas. A corrupção foi uma das causas da recessão. Parece uma coisa infindável e quase que se perpetua isso.

O sr. foi um dos empresários que deram apoio à candidatura do ex-governador, de São Paulo, Geraldo Alckmin.

Achava que o Alckmin(Geraldo Alckmin, PSDB-SP) poderia ter sido eleito. Ele era um candidato ponderado. Mas Deus é mais sábio que a gente. Não era para ser ele.

O sr. passou a defender Bolsonaro após o primeiro turno?
Nunca defendi. Percebi, no final das contas, que (o Alckmin) não tinha mais chances. São águas passadas. Temos uma realidade que fica cada vez mais clara. O presidente fez um ministério muito competente. Há algumas exceções, que já foram trocadas.

Talvez o governo fale coisas que não deveria, intrometa-se em questões que talvez não (devesse), mas é o estilo deste governo. É um defeito? É, mas não é grave. A ideia de reformar o Brasil é correta, fazer menos concessões. É impossível não fazer concessões. As que estão sendo feitas são claras, não é mala de dinheiro por debaixo dos panos.

As usinas de açúcar e álcool ainda passam por uma crise. Quais as perspectivas futuras para o setor?
O setor foi e voltou algumas vezes. Mas não houve uma destruição. Destruíram o Brasil, a Petrobras, os fundos de pensão. E tem gente que ainda acha que foi tudo maravilhoso.

Quem, por exemplo?
Acho que 20% de pessoas não enxergam isso. Mas isso aconteceu e é real. Acabou com a indústria brasileira. Basta olhar Sertãozinho: as indústrias de bens de capital estão fazendo um esforço enorme para voltar. Aconteceu no nosso nariz e só percebemos depois.

O sr. se refere à corrupção?
Aqui em Ribeirão Preto teve uma operação, a Sevandija, que revelou um esquema de corrupção maior que a Lava Jato. Eu sempre me considerei uma pessoa bem informada. Costumo dizer que sou um caipira de Ribeirão Preto. Hoje vivo numa cidade destruída, que tem um déficit bilionário na Previdência.

Agora vejo um alinhamento correto de ideias. É tudo o que o Brasil precisa. No momento, precisamos de uma união nacional. Nós vivemos no Brasil uma questão ideológica. É a primeira vez que isso ocorre. Esse confronto se tornou uma coisa muita séria.

E como faz para reverter?
Temos todos os requisitos para recuperar. O setor sucroalcooleiro foi afetado, mas outros segmentos da indústria estão em situação mais difícil.

Como o país chegou a essa crise?
Falta de visão das pessoas que estavam governando. Quem assumiu não tinha experiência.

O sr. está falando do PT?
Desde antes (do PT). Era mais (uma gestão) legislativa. Caímos numa armadilha fatídica. Fomos diminuindo a produtividade. As leis trabalhistas muito rígidas. Foi o que aconteceu nos últimos 30 anos. Mas não aconteceu num só governo, mas se acentuou de uma maneira muito forte no PT.

Por quê? Porque ele recebeu o Brasil numa condição razoável e o cenário global estava extremamente favorável. E hoje está provado que em 2030 não teremos um real sequer para pagar a Previdência. Fomos vítimas da pior combinação possível. Governo perdulário.

Mas, à época, na primeira gestão do governo petista, os empresários deram apoio e muitos achavam que as políticas até então adotadas eram corretas.
Teve o pré-sal. Teve o maior IPO da história, o da Petrobras. Todos nós ficamos maravilhados. Eu mesmo fui lá, bati palma. Pareciam (corretas) até certo ponto. É muito importante essa inflexão. Havia uma expectativa de que um matuto poderia encontrar a saída. Não foi no governo (Michel) Temer que a crise começou. Foi antes, no governo Dilma.

O setor sucroalcooleiro foi muito crítico à política de congelamento dos combustíveis.
Esquece o setor. A Dilma quebrou a Petrobras, quebrou o setor (sucroalcooleiro) e vários segmentos da indústria.

Como o sr. tem visto as novas lideranças do setor?
O setor está se renovando. Nos últimos anos, o setor criou vários elefantes: cada um para um lado e não se compunha. Isso já está mudando.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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