TEMER: ideia é reduzir valores de ingresso no serviço público; pressão para reduzir gastos com pessoal é grande, mas governo deve enfrentar forte resistência / Germano Lüders
Da Redação
Publicado em 30 de setembro de 2016 às 18h45.
Última atualização em 23 de junho de 2017 às 19h22.
Temer: o papel do setor privado
Ao falar sobre o atual cenário econômico, o presidente Michel Temer citou os 12 milhões de desempregados e o déficit de quase 200 bilhões de reais como uma herança da gestão anterior, da ex-presidente Dilma Rousseff. Numa mensagem de incentivo aos empresários presentes no EXAME Fórum 2016, Temer afirmou que o estado “tem consciência do papel do setor privado” e relembrou as reformas que seu governo pretende implementar – uma das principais é a PEC 241, que limita os gastos públicos, o que o peemedebista chamou de “vacina contra o populismo fiscal”. O presidente também disse não se preocupar com a impopularidade das medidas: “se eu ficar impopular, mas o Brasil crescer, eu me dou por satisfeito.”
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Eletrobras: retomada?
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Gianetti: PMDB é parasita
O economista Eduardo Gianetti comparou o governo do presidente Michel Temer a um “parasita”. “Qual é o jogo do parasita? Enquanto o hospedeiro está forte, ele fica parado. Quando o hospedeiro fica fraco, ele começa a colocar as asas para fora”, disse. Na visão de Gianetti, o PMDB se espacializou no modelo do chamado presidencialismo de coalizão. Mas, para ele, faliu quando, mesmo com um grande número de ministérios e partidos em sua base aliada, ela perdeu a votação do impeachment na Câmara.
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Fim do bipartidarismo?
Se, no Brasil, o presidente Michel Temer tem apenas um terço de aprovação, a situação não é muito diferente nos demais países da América Latina. Tal descontentamento é decorrente, sobretudo, de uma classe média que tem na corrupção uma preocupação central e está cansada dos mesmos nomes da política, segundo Cristopher Garman, chefe de pesquisa para mercados emergentes da consultora Eurasia. Somado aos recentes acontecimentos políticos, esse descontentamento fez “ruir” o modelo de bipartidarismo de PSDB e PT no Brasil e deve fortalecer os partidos de centro.
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Efeito Doria
Nas eleições de 2018, a aposta de Garman é que o caso de João Doria – empresário que hoje lidera a corrida para a Prefeitura de São Paulo -, se espalhe pelo Brasil, desencadeando no surgimento de candidatos até então praticamente desconhecidos. Por falar em outsiders e novos nomes, nas eleições americanas de novembro, a Eurasia avalia que o republicano Donald Trump tem chances reais de vencer o pleito – cerca de 35%, pelas estimativas da consultora.
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O ajuste fiscal
Na palestra “Os desafios para o alcance do equilíbrio econômico”, o secretário de acompanhamento econômico, Mansueto Almeida, falou sobre a necessidade do ajuste fiscal. “Não dá mais para tentar resolver os problemas da sociedade aprovando um orçamento inflado ou um orçamento que exija maior carga tributária”, disse. O secretário defendeu a agenda de reformas do governo Temer, que chamou de “gradual”, e reiterou que, mesmo com a PEC 241 – que estabelece um teto para os gastos do governo – setores como saúde e educação continuarão recebendo os recursos estabelecidos pela Constituição. Mansueto lembrou ainda que o Brasil passa por uma situação “anormal”, com dois anos de queda do PIB – a última vez que isso acontecera foi na década de 1930, quando o país dependia majoritariamente da exportação de café.
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Mais com menos
Não somente as empresas públicas tentarão fazer mais com menos. O estoque da dívida das empresas brasileiras chegou a 3,6 trilhões de reais (61% do PIB), a maioria concentrada nos setores de óleo e gás, e para Paulo Leme, presidente do banco Goldman Sachs, isso significa que as companhias estarão menos focadas em investir e mais concentradas em aumentar sua produtividade e liquidez. Leme disse ainda que cabe ao Brasil “continuar dando sinais de que estamos avançando na parte fiscal” para possibilitar a entrada de capitais capazes de financiar o desenvolvimento da economia brasileira.
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Saída na produtividade
O Brasil só vai voltar a crescer se for novamente beneficiado por um bom momento das commodities? Respondendo a essa pergunta, o pesquisador Regis Bonelli, da FGV-RJ, apontou que a saída para que o PIB cresça acima de 1% ao ano é aumentar a produtividade. Além do Brasil, outros países da América Latina tiveram queda de produtividade após os anos 1980, por motivos como queda de produção, má alocação de capital e obras de infraestrutura interrompidas.
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O papel do BNDES
Como não poderia deixar de ser, alavancar a produtividade é um dos objetivos do BNDES, e segundo Maria Silvia Bastos Marques, presidente do banco, a discussão não é se o BNDES deve ser grande ou pequeno, mas “eficaz”. Maria Silva afirmou que a principal medida para evitar riscos é “ter um projeto bem feito”, e disse que, embora o BNDES faça “coisa demais”, seus feitos não são percebidos pela sociedade – ela citou o metrô do Rio de Janeiro, financiado pelo banco. A instituição também pretende fazer projetos menores para englobar micros, pequenas e médias empresas, mas a presidente reiterou que é importante que os investimentos tenham impacto social.
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As privatizações do PPI
Sobre o Programa de Parcerias e Investimentos (PPI), Maria Silvia acredita que o Brasil terá competidores – como Argentina e África do Sul -, mas que haverá “grande interesse” e que há dinheiro no mundo para investir aqui. Os consórcios no setor rodoviário, por exemplo, são um exemplo de sucesso, na visão de Moreira Franco, secretário do PPI. Sobre o desafio de convencer a população acerca dos benefícios do PPI, ele afirma que o debate sobre o tema é “político” e já deixou de ser “racional”. Para Maria Silvia, a população não está interessada em quem presta o serviço, mas em sua qualidade.
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Melhorando a infraestrutura
As privatizações também podem ser muito importantes para a infraestrutura, na visão de Cláudio Frischtack, presidente da consultoria Inter.B. Com relação ao investimento estatal, Frischtack avalia a primeira edição do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC) como “um desastre”, e afirmou que o Brasil ainda investe menos do que o necessário em infraestrutura – um cenário ideal seria de 5,5% do PIB anualmente, durante duas décadas, mas o Brasil investe, hoje, menos de 2%. Para Frischtack, o país precisa ter mais “ambição” nas reformas no âmbito da infraestrutura, mas enfrentará o desafio de convencer a sociedade da importância das medidas propostas.