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O efeito Nuzman: em 2 décadas, gastos de 40 bi de reais

Desde 1995, o cartola fez o governo torrar mais de 8 bilhões. Reeleição nesta sexta dá a ele mais quatro anos no cargo - e mais uma avalanche de dinheiro


	Nuzman: em Atlanta, cada medalha custou o equivalente a 4,4 milhões de reais ao país. Em Londres, cada pódio custou mais de 123 milhões de reais
 (Fernando Lemos/Veja Rio)

Nuzman: em Atlanta, cada medalha custou o equivalente a 4,4 milhões de reais ao país. Em Londres, cada pódio custou mais de 123 milhões de reais (Fernando Lemos/Veja Rio)

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Da Redação

Publicado em 6 de outubro de 2012 às 09h01.

Carlos Arthur Nuzman, o dirigente esportivo mais poderoso do país, é presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) desde 1995. Nesta sexta-feira, ele é candidato único a mais uma reeleição, com o apoio garantido de 29 de 30 confederações com direito a voto no pleito. De acordo com muitos de seus opositores, os dezessete anos de mandato que Nuzman cumpriu até agora foram marcados pela concentração total de poder nas mãos do cartola - o carioca é o primeiro presidente de comitê olímpico nacional a acumular também o comando do comitê organizador de uma Olimpíada.

Para outros adversários, a principal marca de sua gestão é outra: o implacável combate aos opositores, o que o faz permanecer intocável na chefia do COB (nesta semana, o único presidente de confederação que não vota em Nuzman o acusou de esmagar uma tentativa de formação de chapa alternativa). O que mais chama atenção na era Nuzman, porém, é o volume de dinheiro - quase todo proveniente dos cofres públicos - movimentado em função de sua atuação no comando do esporte brasileiro.

Desde 1995, foram cerca de 8,2 bilhões de reais consumidos por todos os projetos lançados pelo comitê. Com os quatro anos adicionais de mandato que deve ganhar na eleição desta sexta, Nuzman somará mais de duas décadas no poder - e quase 40 bilhões de reais em gastos variados ligados ao COB, tanto no esporte como na organização de megaeventos.

Os 8,2 bilhões investidos até agora correspondem aos gastos com os preparativos dos atletas brasileiros nos últimos cinco ciclos olímpicos e ao valor total estimado dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, em 2007. O Pan, aliás, prometia consumir menos de 400 milhões de reais, com alguma participação da iniciativa privada. As contas mais recentes colocam o valor total do evento na casa dos 4 bilhões, com presença nula de investidores privados. Outros 4,2 bilhões representam a soma dos gastos com as delegações olímpicas de Atlanta-1996 até Londres-2012.


Desde que Nuzman chegou ao poder, o governo foi transformado no maior patrocinador do esporte no Brasil. A criação de leis de incentivo fiscal e programas de suporte aos atletas de alto rendimento abriu caminho para que o setor fosse inundado por verbas públicas. Em Atlanta-1996 e em Sydney-2000, as confederações receberam cerca de 67 milhões e 75 milhões de reais, respectivamente (em valores atualizados).

A partir de Atenas-2004, o esporte nacional passou a contar com os recursos da Lei Piva, que reserva aos atletas olímpicos uma parte das arrecadações de loterias federais. Naquele ano, foram gastos 312 milhões na preparação olímpica. Em Pequim-2008, o valor disparou para 1,7 bilhão de reais, e nos Jogos deste ano, em Londres, o investimento na área bateu em 2,1 bilhões de reais.

Apesar da multiplicação dos valores aplicados no esporte olímpico, o desempenho brasileiro nos Jogos não deu o salto esperado. Desde as quinze medalhas de Atlanta, foram duas campanhas piores (doze em Sydney e dez em Atenas), uma igual (em Pequim) e apenas uma superior (em Londres, o Brasil fez sua melhor campanha, com dezessete medalhas conquistadas, mas ainda ficou muito distante das grandes potências olímpicas). No mesmo período, a Grã-Bretanha, por exemplo, saltou do mesmo patamar que o Brasil para o terceiro lugar no quadro de medalhas.


A constatação inescapável é de que os investimentos não foram bem direcionados. Em Atlanta, cada medalha custou o equivalente a 4,4 milhões de reais ao país. Em Londres, cada pódio custou mais de 123 milhões de reais. Para o próximo ciclo olímpico, o governo federal já anunciou que o investimento nos atletas chegará a inéditos 2,5 bilhões de reais. Desta vez, porém, o Ministério do Esporte tenta criar mecanismos para vincular a liberação dos recursos a contrapartidas exigidas aos cartolas. Uma delas, anunciada pela primeira vez pelo ministro Aldo Rebelo em entrevista publicada em Veja, é a alternância de poder nas confederações. O governo espera que os dirigentes tenham mandatos mais curtos e não possam se reeleger várias vezes. Sobre a permanência de Nuzman no poder, porém, o ministro diz não ter o que fazer.

Encrenca

Aos 2,5 bilhões de reais previstos para as confederações nos próximos quatro anos de mandato de Nuzman somam-se os custos que o país terá de cobrir para fazer a Olimpíada no Rio. O Comitê Organizador dos Jogos (que, aliás, está à procura de profissionais para trabalhar no orçamento do evento) calcula em 5,6 bilhões de reais os gastos com o planejamento e a operação da Olimpíada. Esse foi o valor acertado com o Comitê Olímpico Internacional (COI) - que recebeu a garantia de que as três esferas de governo cobrirão as despesas caso o comitê local não consiga receitas privadas, como Nuzman promete fazer.

A maior parte da encrenca, porém, já está depositada sobre as contas públicas. Ao trazer a bandeira olímpica à cidade-sede depois do encerramento de Londres-2012, o prefeito Eduardo Paes disse que o orçamento dos Jogos só sairá no segundo semestre do ano que vem. O comitê da Rio-2016, contudo, estima em 23,2 bilhões de reais as obras de instalações e infraestrutura de 2016 (Londres-2012 custou cerca de 35 bilhões, já incluídos os custos de operação).

Com mais 90 milhões de reais investidos na candidatura a sede dos Jogos, a soma total dos gastos da era Nuzman atinge uma projeção próxima dos 40 bilhões, uma média de 1,9 bilhão de reais consumidos a cada ano de mandato do cartola mais gastador de que já se teve notícia no país.

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