Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), durante seminário em Brasília (Ueslei Marcelino/Reuters)
Talita Abrantes
Publicado em 21 de agosto de 2015 às 14h27.
São Paulo – Oito meses depois de ser vinculado pela primeira vez ao esquema de corrupção da Petrobras, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quinta-feira por envolvimento no caso.
Se o Supremo acatar a denúncia, o peemedebista pode se tornar réu no caso. Só a partir desse momento, um processo contra ele pode ser aberto. Veja o que acontece com a denúncia agora.
Cunha é suspeito de ter recebido, ao menos, 5 milhões de dólares de pagamentos em propina. Até uma igreja evangélica teria sido usada para maquiar a transação. Entenda o caso
De acordo com a denúncia apresentada pelo PGR, o presidente da Câmara recebeu propina como pagamento para facilitar a contratação do estaleiro Samsung Heavy Industries pela Petrobras para construir os navios-sondas Petrobras 10000 e Vitoria 10000.
Os contratos foram firmados entre 2006 e 2007, sem processo de licitação. O negócio foi feito pela Diretoria Internacional da estatal, então sob comando de Nestor Cerveró - indicado pelo PMDB para o cargo.
Os navios-sondas foram construídos, respectivamente, para serem usados na perfuração de águas profundas na África e no Golfo do México.
Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, teria intermediado o pagamento de 40 milhões de dólares em propina distribuídos entre ele, Cunha e Cerveró.
Navio-sonda | Valor do contrato | Valor da propina |
---|---|---|
Petrobras 10000 | US$ 586 milhões | US$ 15 milhões |
Vitória 10000 | US$ 616 milhões | US$ 25 milhões |
Visando maquiar o pagamento de propina, o estaleiro Samsung Heavy Industries fechou dois contratos para pagamento de comissões à empresa de Júlio Camargo, Piemonte Empreendimentos.
Cerca de 40,3 milhões de dólares foram, então, transferidos para uma conta da offshore de Camargo no Uruguai – que, por sua vez, repassava os valores para contas no exterior indicadas por Baiano.
Depois que as sondas foram entregues, o estaleiro suspendeu o pagamento das últimas parcelas da propina de cada acordo. O primeiro no valor de 6,25 milhões de dólares. O segundo, de 6,395 milhões de dólares.
Em resposta, Cunha teria começado a chantagear o representante da Samsung Heavy Industries com requerimentos da Comissão de Fiscalização Financeira da Câmara dos Deputados (CFFC).
Os pedidos foram assinados pela ex-deputada Solange Almeida (PMDB-RJ), hoje prefeita de Rio Bonito (RJ) - também denunciada nesta quinta.
No entanto, os requerimentos foram feitos com o login e senha de Cunha.
Ambos pediam informações sobre contratos envolvendo o Grupo Mitsui – ligado a Camargo – e a Petrobras. Em todos os requerimentos, Camargo foi citado.
Para pagar o restante devido da propina, Cunha teria indicado até uma igreja evangélica para receber o dinheiro.
De acordo com a denúncia, a Igreja Evangélica Assembleia de Deus – Ministério Madureira – teria recebido 250 mil reais sob o título de doação religiosa.
"É notória a vinculação de Eduardo Cunha com a referida igreja", escreveu Janot.
De acordo com a PGR, Samuel Ferreira, representante da igreja na Receita Federal, é irmão do pastor da Assembleia de Deus em Madureira, no Rio, igreja que Cunha frequenta e que celebrou sua eleição para a presidência da Câmara.
Além da igreja, Camargo também depositou os valores devidos a Cunha para contas no exterior e para as empresas de fachada de Fernando Baiano e Alberto Youssef, principal delator do esquema da Petrobras. Para isso, foram fechados contratos falsos.
No total, Cunha recebeu 5 milhões de dólares em propina diretamente de Julio Camargo.
* Atualizado no dia 21 de agosto para alterar nome do estaleiro envolvido no caso.