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Nos EUA, Mourão é questionado se Bolsonaro "é realmente um democrata"

Democratas progressistas enviaram três cartas ao governo americano desde campanha questionando posições defendidas pelo presidente brasileiro

Mourão: vice-presidente está em viagem aos EUA (Romério Cunha/VPR/Agência Brasil)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 9 de abril de 2019 às 14h58.

Última atualização em 9 de abril de 2019 às 15h35.

Washington - Em encontro com senadores americanos, o vice-presidente, general Hamilton Mourão , foi questionado sobre o comprometimento do presidente Jair Bolsonaro com a democracia e também sobre a interlocução dos militares brasileiros com os venezuelanos. O senador democrata, Bob Menendez, perguntou a Mourão se Bolsonaro "é realmente um democrata".

"Eu deixei claro que o presidente Bolsonaro é um homem que está pensando nas próximas gerações e não nas próximas eleições, que ele respeita totalmente nossa Constituição e as nossas instituições e o sistema que temos no Brasil", disse Mourão. Um grupo de democratas progressistas já enviou três cartas ao governo americano desde a campanha eleitoral questionando posições defendidas por Bolsonaro que, segundo os parlamentares, coloca em risco os direitos humanos e democracia no País.

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Mourão se reuniu por 15 minutos com os senadores Marco Rubio, Bob Menendez, Tom Udall e Jim Risch, no Senado americano. Depois que os dois últimos foram embora, o vice-presidente continuou reunido com Rubio e Menendez por mais 15 minutos. O assunto principal, segundo Mourão, foi a "troca de informações" sobre a situação da Venezuela.

Rubio, que é senador pelo Estado da Flórida, é com frequência descrito por autoridades americanas, nos bastidores, como o embaixador dos Estados Unidos para a América Latina, devido à influência do republicano na política externa de Donald Trump para a região.

O senador republicano esteve por trás da estratégia do governo americano - seguida por cerca de 50 países, incluindo o Brasil - de reconhecer o opositor ao regime chavista, Juan Guaidó, como presidente interino da Venezuela, e vem defendendo uma política mais dura para forçar a saída de Nicolás Maduro.

Segundo Mourão, Rubio quis saber sobre o contato dos militares brasileiros com os venezuelanos. "Eu disse a eles que o ministro da Defesa venezuelano tem algum tipo de contato com nosso ministro e nós temos oficiais mais novos, tanto do Brasil como da Venezuela, que fizeram curso juntos nos últimos anos e que essa turma se comunica no canal informal", disse Mourão.

Ao deixar a reunião no Senado, ele confirmou que o assunto também foi tratado com o vice-presidente americano Mike Pence. Ontem, contudo, após a reunião com Pence, Mourão tinha negado que os dois vices falaram sobre o contato dos militares dos dois países.

Os Estados Unidos, sob a presidência de Trump e a articulação de Rubio, reiteram que "todas as opções estão sobre a mesa" quando o assunto é Venezuela. A estratégia americana é deixar no ar a ameaça de uma intervenção militar. Nos EUA, Mourão rechaçou o apoio a qualquer tipo de intervenção e disse que não haveria ação militar pelos países do Grupo de Lima e por parte dos EUA. Segundo ele, o Brasil apoia a pressão econômica e diplomática.

"O assunto do dia aqui é Venezuela. A gente expressa nossa posição, manter a pressão política e a pressão econômica e, óbvio, a questão das Forças Armadas venezuelanas terem que neutralizar as milícias e os colectivos que existem lá", afirmou Mourão.

Mourão disse que Rubio não abordou nenhum tipo de opção sobre a Venezuela além da pressão econômica e diplomática. Segundo ele, nem Pence e nem os parlamentares expressaram incômodo com a posição do Brasil - defendida pela ala militar do governo - de explicitar que não haverá intervenção.

"O Brasil expressa o tempo todo a posição de quem? Do Grupo de Lima. O grupo de Lima expressa claramente que vamos manter a pressão política e econômica", disse Mourão.

No Twitter, depois da reunião, Rubio afirmou que foi um "produtivo encontro" para "continuar a trabalhar com os aliados no Brasil para restaurar a democracia na Venezuela e assegurar os valores democráticos na América Latina".

Comércio

Segundo Mourão, os parlamentares também mencionaram que é preciso "deixar de lado a retórica" quando o assunto é intensificar o comércio entre os dois países e destravar pautas como a importação de trigo Américo pelo Brasil e a importação de carne bovina brasileira pelos EUA. O terceiro assunto, segundo o vice-presidente, foi a questão do uso da base de Alcântara

Mourão também agradeceu Rubio por ter escrito uma carta ao presidente Trump endossando a importância de aceitar a candidatura do Brasil à OCDE. Na visita de Bolsonaro a Trump, em março, os Estados Unidos atenderam o pleito brasileiro e se comprometeram em endossar a candidatura do Brasil para aderir à organização. Em troca, o País aceitou abrir mão do status preferencial em negociações na Organização Mundial do Comércio (OMC).

Antes da visita de Bolsonaro aos EUA, Rubio escreveu um artigo publicado no site da CNN no qual defendeu que o governo Trump apoiasse o Brasil em pleitos como a OCDE em troca de uma aliança estratégica com Bolsonaro.

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