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Ninguém mais do que eu quer resolução, diz Bolsonaro sobre caso Queiroz

"Estou chateado porque houve depósitos na conta dele, ninguém sabia disso, e ele tem de explicar isso daí", disse o presidente

Bolsonaro: questionado se há casos de sabotagem dentro do governo, o presidente respondeu: "Claro. É uma luta pelo poder" (Ricardo Moraes/Reuters)

Bolsonaro: questionado se há casos de sabotagem dentro do governo, o presidente respondeu: "Claro. É uma luta pelo poder" (Ricardo Moraes/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 31 de maio de 2019 às 12h34.

Última atualização em 31 de maio de 2019 às 13h47.

São Paulo — O presidente Jair Bolsonaro comentou em entrevista à revista Veja publicada nesta sexta-feira (31) os desdobramentos das investigações envolvendo Fabrício Queiroz, ex-assessor de seu filho Flávio, que teve movimentações atípicas em sua conta apontadas pelo Coaf.

"Estou chateado porque houve depósitos na conta dele, ninguém sabia disso, e ele tem de explicar isso daí", disse, em referência à movimentação de R$,1,2 milhão.

"Pode ter coisa errada? Pode, não estou dizendo que tem", disse Bolsonaro, que mantinha uma relação de amizade com o ex-assessor do filho. "Mas tem o superdimensionamento porque sou eu, porque é meu filho. Ninguém mais do que eu quer a solução desse caso o mais rápido possível."

O presidente também saiu em defesa do filho Flávio, senador pelo PSL do Rio, sobre os 48 depósitos fracionados em sua conta.

"São os tais R$ 96 mil em depósitos de R$ 2 mil. O valor de R$ 2 mil é o máximo permitido para depósitos em envelope no terminal de autoatendimento da Assembleia Legislativa do Rio. Falaram que os depósitos fracionados eram para fugir do Coaf. R$ 2 mil é o limite que você pode botar no envelope. O que tem de errado nisso?"

Sobre a quebra do sigilo bancário de Flávio, Bolsonaro respondeu: "Se alguém mexe com um filho teu, não interessa se ele está certo ou está errado, você se preocupa", continuou.

Sabotagem

Questionado se há casos de sabotagem dentro do governo, o presidente respondeu: "Claro. É uma luta pelo poder. Há sabotagem às vezes de onde você nem imagina". Para ele, culpa do "aparelhamento".

"No Ministério da Defesa, por exemplo, colocamos militares nos postos de comando. Antes, o ministério estava aparelhado por civis. Havia lá uma mulher em cargo de comando que era esposa do 02 do MST. Tinha ex-deputada do PT, gente de esquerda... Pode isso? Mas o aparelhamento mais forte é mesmo no Ministério da Educação."

Bolsonaro admite que errou ao ter nomeado Ricardo Vélez Rodriguez para o Ministério da Educação e "dividiu" a culpa com o escritor Olavo de Carvalho, que havia indicado o agora ex-ministro, que foi substituído por Abraham Weintraub.

"Errei no começo quando indiquei o Ricardo Vélez como ministro. Foi uma indicação do Olavo de Carvalho? Foi, não vou negar. Ele teve interesse, é boa pessoa. Depois liguei para ele: 'Olavo, você conhecia o Vélez de onde?'. 'Ah, de publicações.' "Pô, Olavo, você namorou pela internet?", disse a ele.

O presidente também falou de seu partido, o PSL. Bolsonaro disse que a formação da bancada da sigla foi resultado de um "trabalho hercúleo".

Para ele, o partido foi "criado" em março do ano passado (quando ele se filiou), apesar da sigla existir desde 1994. "Fomos pegando qualquer um", disse.

"E tem muita gente que entrou e acabou se elegendo com a estratégia que eu adotei na internet", disse o presidente.

"Eu falava: 'Clica aqui. Vote em um desses colegas nossos'. Teve muita gente que falou para mim: "Nossa, eu não esperava me eleger".

Para Bolsonaro, esta formação explica a inexperiência de seus colegas de partido. "O pessoal chegou aqui completamente inexperiente, alguns achando que vou resolver o problema no peito e na raça. Não é assim."

Questionado sobre a possibilidade de mudar de partido, Bolsonaro respondeu: "Quando a gente se casa, a gente jura amor eterno. Está respondido?"

Previdência

Segundo o presidente, o país ficará ingovernável em até três anos sem a aprovação da reforma da Previdência, e justificou o fato de sempre ter sido contra a reforma quando deputado federal afirmando que muitas vezes só tinha "informação de orelhada".

"Se a reforma da Previdência não passar, o dólar pode disparar, a inflação vai bater à nossa porta novamente e, do caos, vão florescer a demagogia, o populismo, quem sabe o PT, como está acontecendo na Argentina, com a volta de Cristina Kirchner. O Brasil não aguentaria outro ciclo assim", disse.

O presidente afirmou que a cabeça de um parlamentar é uma coisa, e a do presidente, que tem "acesso aos números", é outra. "O que faz a gente mudar? A realidade. O Brasil será ingovernável daqui a um, dois, três anos", afirmou.

Segundo Bolsonaro, passada a reforma da Previdência, que classificou como a "mãe das reformas", o governo vai partir para a reforma tributária e para as privatizações. O presidente disse, inclusive, já ter dado sinal verde para a privatização dos Correios.

Questionado sobre quando espera a diminuição do nível atual de desemprego, Bolsonaro disse que uma parte dos milhões de desempregados não se encaixa mais no mercado de trabalho por falta de qualificação.

Ele admitiu que a "situação não está bacana". Nesta sexta-feira, o IBGE divulgou a taxa de desemprego em 12,5% nos três meses até abril.

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