'Ninguém come PIB, come alimentos': as frases marcantes de Maria da Conceição Tavares
Economista colecionou frases e debates acalorados
Redação Exame
Publicado em 8 de junho de 2024 às 14h22.
Com o lema de campanha “esta é boa de briga”, Maria da Conceição Tavares não fugia de discussões. Sem papas na língua, a economista que faleceu neste sábado, 8, aos 94 anos, colecionou debates acalorados e frases marcantes ao longo de sua carreira.
Referência do pensamento desenvolvimentista no país, a portuguesa de nascimento e brasileira de coração formou uma geração de economistas no país que têm decidido o destino econômico do Brasil nas últimas décadas. Ela deixa dois filhos, Laura e Bruno, dois netos, Ivan e Leon e o bisneto Théo. A família não divulgou a causa da morte.
Quando foi deputada federal pelo Rio de Janeiro entre 1995 e 1998 pelo PT, colecionava discussões com Roberto Campos. Em uma das discussões sobre o fim do monopólio de petróleo, em 1997, Campos atacou: “A senhora é um dinossauro”, e ela rebateu de imediato: "Mas sou informada, e o senhor parece uma lagartixa".
Assim, o embate com economistas que não tinham em suas propostas a justiça social como meta era constante. Em 1995, ao dar entrevista ao programa Roda Vida, da TV Cultura, descreveu as consequências de uma tecnocracia afastada das dores sociais.
“Uma economia que não se preocupa com justiça social é uma economia que condena os povos a isso que está acontecendo no mundo: uma brutal concentração de renda e de riqueza, o desemprego e a miséria. ... Uma economia que diz que primeiro tem de estabilizar, depois crescer, depois distribuir é uma falácia. Não estabiliza, cresce aos solavancos e não distribui. E essa é a história da economia brasileira”.
Veja outras frases de Maria da Conceição Tavares:
“Desenvolveu-se o mercado interno para classe média. A incorporação da massa de pobres ao consumo é um fenômeno muito recente. Foi uma modernização conservadora. Ponto final, parágrafo”, sobre a industrialização de Getúlio, Juscelino e do regime militar, no filme “Um sonho intenso”.
“Esses palermas desses caras da agência de risco, em vez de darem o investment grade quando estávamos totalmente bem, inclusive no balanço de pagamentos, não deram, deram ao Peru. Agora estamos com déficit (externo) e, ao dar (a nota), piora, pois tomam empréstimo lá fora e a moeda valoriza mais”, disse, em 2008, ao falar para universitários da PUC-Rio:
“O nosso BC é tão ortodoxo, tão ortodoxo, que, apesar de não estarmos estourando a meta da inflação, ele resolveu aumentar os juros”, aa mesma palestra na PUC, em 2008:
“É preciso deixar bem claro que este é um governo de merda, mas é o nosso” , em 2005, no primeiro governo do PT.
“Na economia, a todo ciclo de oba-oba corresponde a um ciclo de epa-epa”, em 2003.
“Se miséria, pobreza e desemprego fossem fatores de competitividade, a África seria o continente mais competitivo”, em 1999, quando houve a mudança do regime cambial:
“Vinha de Portugal e já sabia do tamanho do Brasil. Uma coisa é você saber que o país é grande, outra é conhecer os números e perceber quanto é grande e desigual. Foi a desumana distribuição de renda que me levou a estudar economia”, em entrevista ao “Valor”, em 2012.
“É muito conservador, é recessivo, um horror”, disse em junho de 1994, sobre o Plano Real.
(Com O Globo)