Cracolândia: Doria afirmou que a área não será novamente um ponto frequente de venda e uso de drogas (Paulo Whitaker/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 22 de maio de 2017 às 09h39.
Última atualização em 22 de maio de 2017 às 10h35.
São Paulo - Após a megaoperação que prendeu 38 traficantes na Cracolândia, o prefeito João Doria (PSDB) disse que o próximo passo será realizar ações de saúde e reurbanização na região.
Doria afirmou que a área não será novamente um ponto frequente de venda e uso de drogas. "Não há possibilidade de a Cracolândia voltar na circunstância que havia anteriormente nesta região da Luz", disse o prefeito no Departamento de Investigação sobre Narcóticos (Denarc).
Em fevereiro, Doria havia dito que iria retirar os usuários da Cracolândia até junho deste ano e que a remoção seria feita de forma "humanitária". Segundo o prefeito, a região permanecerá cercada e vigiada pela Polícia Militar e pela Guarda Civil Metropolitana.
"Será feita a limpeza de toda a área. Ainda não houve ação urbanística como a que será feita." Segundo ele, hotéis e pensões da região serão lacrados e, depois, demolidos.
Doria rebateu as críticas pelo fato de a operação ter ocorrido durante a Virada Cultural, que teve programação no centro. Para ele, "não há nem bom nem mau dia", e a data foi escolhida por decisão estratégica da polícia.
O governador Geraldo Alckmin (PSDB) também elogiou a operação e justificou por que ela foi feita somente com policiais, sem o acompanhamento de equipes de saúde.
"Para não colocar em risco ninguém. Foi feita para tirar armas, tirar traficantes e dar segurança para que os outros agentes possam (agora) trabalhar", afirmou.
O governador se referiu à Cracolândia como "uma questão crônica" que "não se resolve com um estalar de dedos".
Para Alckmin, a ação de ontem tem potencial para ajudar toda a cidade, "pois os traficantes abasteciam não só a Luz como outras partes da capital".
O governador disse ainda que se "estava dando mesada para as pessoas comprarem droga", em referência ao programa De Braços Abertos, instituído pelo ex-prefeito Fernando Haddad (PT), que pagava a dependentes por serviços de limpeza na região.
Por meio de nota, a assessoria de imprensa da gestão Haddad rebateu a crítica do governador. "Durante quatro anos consecutivos a gestão anterior pediu uma ação efetiva de combate ao tráfico e não foi atendida. Atribuir ao programa Braços Abertos responsabilidade pelo tráfico é covardia."
Algumas horas após a ação, o secretário estadual da Saúde, David Uip, visitou a região e afirmou que dependentes químicos e traficantes haviam invadido, na semana passada, dois prédios do governo estadual de atendimento a usuários de droga.
Os invasores teriam queimado e destruído carros de funcionários. Segundo Uip, foram ocupadas a unidade do programa Recomeço e o prédio do Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod), ambos na região central. "A situação era muito perigosa para o pessoal", disse.
"A nossa abordagem de rua junto com o serviço social estava dificultada. Essa operação, do ponto de vista da saúde, foi fundamental para que possibilite o nosso atendimento e a abordagem mais adequada do usuário", complementou.
Sem os traficantes, explica Uip, o Estado poderá se reaproximar dos usuários de droga para dar assistência de saúde. Segundo ele, estão disponíveis hoje na rede estadual de saúde cerca de 3,4 mil vagas de atendimento ao dependente químico.
O secretário afirmou que na semana passada esteve "anonimamente" na Cracolândia e teve "muitas dificuldades" para se aproximar da unidade do Recomeço. "Fui abordado, intimado e ameaçado", disse. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.