Ilan Goldfajn: o presidente do Banco Central também rejeitou a ideia de dois mandatos, com duas metas (inflação e crescimento), para a instituição cumprir (Adriano Machado/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 5 de março de 2018 às 13h23.
Última atualização em 5 de março de 2018 às 13h24.
São Paulo - O presidente do Banco Central (BC) Ilan Goldfajn, disse nesta segunda-feira, 5, que não se sentiu frustrado com o adiamento da reforma da Previdência. O processo de discussão e votação da reforma foi suspenso na Câmara por conta da intervenção federal na Segurança Pública do Rio de Janeiro. Segundo o texto constitucional, em períodos de intervenções não se pode nem discutir Propostas de Emendas à Constituição (PECs).
"Não fiquei frustrado porque sei que votação é algo complexo", disse o presidente do BC. Mas ele não deixou de dizer que a reforma é algo necessário para o Brasil estabilizar suas contas públicas.
Ilan concedeu entrevista na manhã desta segunda-feira à Rádio CBN, em São Paulo.
O presidente do Banco Central rejeitou a ideia de dois mandatos, com duas metas (inflação e crescimento), para a instituição cumprir. Em entrevista à Rádio CBN, Ilan justificou a posição contrária à sugestão para que autarquia passe a ter dois mandatos pelo risco de judicialização caso uma das metas não seja atingida.
Para ele, ou o BC busca cumprir a meta de inflação ou tenta buscar a meta de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).
A ideia de se atribuir duplo mandato ao BC consta do mesmo projeto do senador Romero Jucá (PMDB-RR) que propõe conferir autonomia ao BC, com mandatos fixos para os presidentes do BC alternados com os mandatos de presidentes da República, como ocorre, por exemplo, nos Estados Unidos.
"Em relação ao duplo mandato, há um equivoco porque meta de crescimento, meta de desemprego é uma meta do governo todo. É uma meta da política fiscal, é uma meta de vários ministérios. É uma meta de todo mundo porque crescimento depende de produtividade, depende da capacidade e ser mais eficiente", disse Ilan.
Ele admitiu, no entanto, que o BC nunca deixa de olhar o crescimento. "Quando você estabiliza a inflação, quando você faz a taxa de juro cair tem um benefício para todos. Quando a economia fica mais estável, investe mais. Então o BC, na sua função básica, que é controlar a inflação e estabilizar o sistema financeiro, já contribui para o crescimento", afirmou Ilan, acrescentando que "o que não dá é dar para o BC duas metas simultâneas que podem confundir".
"E você sabe como é no Brasil, acaba judicializando. Ah, cumpriu essa meta, mas não cumpriu a outra. Esse ano é eleitoral, quero que você cumpra a de crescimento, esqueça a de inflação. Não dá. Vamos ser bem claros: é uma meta de inflação e essa leva a crescimento maior", disse o presidente do Banco Central.
IlanGoldfajn voltou a afirmar em entrevista à Rádio CBN que as criptomoedas não contam com lastros e regulamentação de nenhum banco central no mundo. "Criptomedas não são lastreadas por bancos centrais em lugar nenhum do mundo", reiterou o banqueiro central.
Segundo o presidente do BC, estas moedas virtuais - entre elas a o bitcoin - são muito voláteis, podendo oferecer ganhos expressivos e perdas muito grandes. "Por favor, não penhorem suas casas baseados em criptomoedas", alertou o presidente do BC.
Ilan evitou emitir sua opinião sobre uma possível candidatura do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, à Presidência da República. "Eu deixo esse assunto para ele", disse. Afirmou ainda que, por força de ofício, o BC não discute política.
Perguntado sobre o que achava do fato de ter seu nome ventilado para substituir Meirelles no comando da Fazenda, caso o ministro resolva deixar o cargo para concorrer à eleição para presidente da República, Ilan disse: "Estou bem no BC e tenho uma tarefa a cumprir."
"Tenho uma tarefa inacabada e gostaria de continuar a fazê-la", afirmou Ilan. Ele afirmou queninguém bateu a sua porta sugerindo a possibilidade dele vir a substituir Meirelles na Fazenda.