Brasil

"Não existirão vazamentos nem países que não cooperem", diz Moro

O juiz federal destacou que várias empresas envolvidas nos crimes de corrupção abandonaram a postura inicial de negação e assumiram as responsabilidades

Moro: "Esta corrupção sistêmica é vergonhosa, mas não é um problema exclusivo de empresas do Brasil, envolve quem pagou e quem recebeu" (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil/Agência Brasil)

Moro: "Esta corrupção sistêmica é vergonhosa, mas não é um problema exclusivo de empresas do Brasil, envolve quem pagou e quem recebeu" (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil/Agência Brasil)

E

EFE

Publicado em 23 de fevereiro de 2017 às 21h44.

Lima - O juiz Sergio Moro afirmou ontem à noite em Lima (Peru) que "não existirão vazamentos nem países que não cooperem" com as investigações que fazem parte da operação Lava Jato.

Convidado como principal palestrante do seminário "Corrupção e Estado de direito", ele defendeu que a justiça brasileira adotou uma postura de colaboração premiada necessária para a investigação.

"Esta corrupção sistêmica é vergonhosa, mas não é um problema exclusivo de empresas do Brasil, envolve quem pagou e quem recebeu", disse ele.

Moro lembrou que existem acordos com grandes empreiteiras que também têm ações fora do Brasil, que fizeram pagamentos indevidos para ganhar projetos.

"Nossa visão é de que a postura das empresas que reconheceram os crimes é um comportamento que deve ser estimulado", destacou.

Uma dessas empresas é a Odebrecht, que declarou ter deixado US$ 29 milhões em subornos no Peru entre 2005 e 2014, e que um dos diretores afirmou ter dado propina de US$ 20 milhões ao ex-presidente Alejandro Toledo.

O juiz federal destacou que várias empresas envolvidas nos crimes de corrupção abandonaram a postura inicial de negação e assumiram as responsabilidades, através de acordos de delação.

"Elas se comprometeram a indenizar o Tesouro, colocar as provas à disposição e deixar (para trás) estas práticas, o que representa um grande avanço nas investigações e uma atitude louvável", afirmou.

Ele contou que foi preocupante ver nas investigações da Lava Jato que "em quase todos os contratos da Petrobras existiam regras sobre o pagamento de lucros indevidos, que envolviam o pagamento de 1% a 2% de cada contrato".

Dado que os contratos da empresa eram de bilhões de dólares, a quantidade destinada a propinas era "enorme", afirmou.

De acordo com o esquema descoberto pelos investigadores, 50% das propinas iam para funcionários da Petrobras e 50% para políticos ou financiamento de partidos.

"O mais perturbador foi confirmar que estas práticas se estendiam a outras empresas controladas pelo governo", declarou.

Desde 2014, 17 casos que envolvem subornos foram julgados no Brasil. Ao todo, quatro ex-diretores da Petrobras com contas no exterior foram condenados, assim como vários especialistas em lavagem de dinheiro e alguns diretores de empreiteiras, segundo Moro.

Pelo menos um ex-gerente da Petrobras decidiu colaborar com a justiça e se comprometeu a devolver US$ 98 milhões que estavam em contas do exterior e fora do alcance das autoridades.

"O cenário atual é incerto. Surgiram novos casos, mas não sabemos o alcance dessas novas investigações", explicou.

Segundo ele, a corrupção prejudica a confiança no funcionamento da democracia e o Estado de direito, além de afastar os investidores que não querem participar de um mercado considerado viciado.

Acompanhe tudo sobre:Operação Lava JatoSergio Moro

Mais de Brasil

Eder Mauro tem 30,7%; Normando, 19,6%; e Edmilson Rodrigues, 14%, em Belém, aponta pesquisa Futura

Lewandowski diz que governo só apresentará PEC da Segurança Pública após Lula consultar governadores

TCU entende que Lula pode ficar com relógio de luxo recebido antes de mudança na regra de presentes

PGR aciona STF e pede suspensão das emendas Pix

Mais na Exame