Não conseguirão destruir o movimento, diz Sininho
Ativista é acusada de liderar uma "quadrilha armada para a prática de atos violentos em protestos"
Da Redação
Publicado em 28 de julho de 2014 às 20h33.
Rio - Acusada de liderar uma "quadrilha armada para a prática de atos violentos em protestos" no inquérito policial que fundamentou a denúncia do Ministério Público contra 23 militantes no Rio, a produtora cultural Elisa Quadros Sanzi, a Sininho, de 28 anos, afirma: "Por mais que mirem em mim, estão destruindo uma pessoa, mas não vão destruir o movimento".
Elisa foi presa na véspera da final da Copa do Mundo e ficou 13 dias em uma cela da penitenciária de Bangu, na zona oeste carioca, até ser beneficiada por habeas-corpus, na Quinta-feira, 24.
Perguntada pelo Estado sobre a acusação de ser uma das lideranças da Frente Independente Popular (FIP), ela afirma: "Historicamente, o Estado, o poder, precisa criar um líder para matar e criminalizar o movimento. É isso o que estão fazendo. E vão fazer com todos. Vão destruir as identidades através da mídia, para depois justificar prisão, tortura e assassinato. Eles precisam disso. Mas o movimento é espontâneo, não aceita esse tipo de coisa. Não adianta tentar criar o que não existe."
Elisa classificou de "abobrinha e história surrealista" o conteúdo do processo de 15 volumes contra os 23 acusados.
"Somos perseguidos políticos", diz ela, que usa como perfil no Facebook uma foto de Maria Auxiliadora Lara Barcelos, a Dora, presa, torturada e banida para o Chile durante a ditadura, que suicidou-se em 1976, em Berlim, no exílio.
"Vão fazer 5 mil, 20 mil páginas de abobrinhas, de história surrealista. Porque não existe, são 23 pessoas que mal se conhecem. Nunca falei com a maioria dessas pessoas. Que líder é esse que não fala com os seus? Não existe liderança."
Orientada pelo advogado Marino D'Icarahy, Elisa não comentou trechos do inquérito policial, como o depoimento de uma testemunha que a acusa de ter incitado manifestantes a incendiar o prédio da Câmara de Vereadores do Rio - o suposto plano teria sido abortado por outros militantes.
Ela não se diz anarquista, mas "libertária".
"A polícia não sabe o que é anarquismo. Dentro de um movimento espontâneo, de massa, que a gente está vivendo no Brasil, existem várias linhas de pensamento político diferentes, e cada um atua da forma que acredita. É isso o que faz (o movimento) ser horizontal. Tem anarquista, tem comunista, tem socialista e tem até capitalista no meio desse povo querendo destruir o sistema, como eu não sei. Eu sou uma libertária."
Elisa afirmou ter presenciado "torturas psicológicas" e ter sido impedida por agentes penitenciárias de cantar palavras de ordem e músicas de Chico Buarque e Geraldo Vandré, entre outras, no período em que ficou presa em Bangu.
"Elas falavam: canta hino de louvor ou pagode. Você ali é refém, aí não canta."