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Ataques contra Palocci forçam Lula a definir sua política econômica

Postura diante dos ataques contra o ministro da Fazenda mostrará se o presidente efetivamente apóia a atual condução da economia

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 25 de novembro de 2010 às 20h57.

Desde sua posse em 2003, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem adotado uma postura ambígua em relação à condução da economia. Ora assegura que o Banco Central possui autonomia plena para decidir sobre a política monetária; ora sugere que os juros estão altos demais e deveriam cair. Num dia, festeja o superávit primário; noutro, cobra investimentos dos ministros. Mas os recentes ataques contra o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, colocaram Lula contra a parede e forçarão o presidente a explicar, definitivamente, de que lado está.

A avaliação é do filósofo Roberto Romano, professor de Ética da Universidade de Campinas (Unicamp). "Agora, vamos saber se a definição da política econômica foi estratégica ou tática", diz. As implicações dessa resposta não são pequenas e envolvem, inclusive, riscos de Lula se desgastar ainda mais junto a suas bases eleitorais, a pouco menos de um ano do próximo pleito presidencial, no qual ainda é tido como provável concorrente.

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Se a mudança foi estratégica isto é, se Lula efetivamente abandonou o antigo ideário do PT e abraçou a ortodoxia econômica então espera-se que seu próximo passo seja uma defesa inequívoca de Palocci e, no limite, a demissão de Dilma Roussef, ministra-chefe da Casa Civil que fez pesadas críticas às idéias de Palocci e do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. Mas, até o momento, a reação de Lula ficou aquém do esperado. A nota divulgada pelo Palácio do Planalto na noite deste sábado (12/11), por exemplo, foi considerada "tímida" pelo cientista político Ricardo Ribeiro, da consultoria MCM. "Ele precisava ser mais enfático", afirma Ribeiro.

Para Ribeiro, essa hesitação poderia sinalizar que, apesar de não gostar da crise aberta pelas críticas públicas de Dilma a Palocci, Lula indiretamente endossou a ministra. Seria um sinal, para o cientista político, de que o presidente chegou ao limite do que tolera em matéria de ortodoxia econômica. "Dilma não bateria tão forte em Palocci sem o calço de Lula. O presidente pode estar dizendo que quer manter a política econômica, mas não quer aprofundá-la", afirma Ribeiro. Na prática, isso significaria, por exemplo, impedir que o superávit primário fosse maior que os atuais 4,25% do PIB.

Tática

Essa ambigüidade pode significar que Lula optou apenas por uma mudança tática ou seja, oferecer ao mercado um programa econômico palatável, a fim de acalmá-lo e poder governar em paz. Nesse caso, a eventual saída de Palocci poderá colocar a pasta nas mãos de alguém menos ortodoxo. Um dos candidatos é o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), atual líder do governo no Senado. "Lula precisa de um nome que não gere turbulências no mercado e o Mercadante seria o furacão Katrina", diz Marcel Pereira, economista-chefe da RC Consultores.

Apenas há poucas semanas, Mercadante deixou de criticar publicamente a linha econômica de Palocci para defendê-lo das acusações que surgem no Congresso, onde a oposição tenta vinculá-lo a irregularidades cometidas por ex-assessores durante sua passagem pela prefeitura de Ribeirão Preto.

Para Romano, da Unicamp, à parte a veracidade ou não das denúncias, a apreensão causada pela eventual saída de Palocci é fruto da própria ambigüidade de Lula. Ao contrário de muitos observadores, que afirmam que a atual política econômica é um compromisso de governo e não uma opção sustentada por Palocci, Romano explica que não houve um debate público entre o governo, o PT, seus militantes, seus aliados e a sociedade em geral que, de fato, mostrasse uma guinada de Lula.

Os custos de assumir de vez a ortodoxia econômica, porém, também são altos para um presidente fortemente identificado com as correntes de esquerda do país. A pouco menos de um ano da eleição, uma defesa veemente de Palocci poderá corroer o restante do apoio de Lula junto aos movimentos sociais que, durante anos, o seguiram. Por outro lado, os escândalos políticos arranharam a imagem ética do PT e afastaram parte da classe média e de militantes mais comedidos. "Mesmo sem as denúncias contra Palocci, a falta de definição clara do programa é ruim", diz Romano. Mas a resposta a essa dúvida também não deixa de ser custosa. Nos últimos meses de seu mandato, Lula corre o risco de ser vítima de sua própria hesitação.

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