Mulheres caminham pela avenida paulista em São Paulo (Rafael Neddermeyer/ Fotos Públicas)
Mariana Desidério
Publicado em 31 de outubro de 2014 às 09h12.
São Paulo - As mulheres brasileiras estão esperando mais para ter filhos e assumindo mais o comando da casa. Em comparação com os homens, elas continuam estudando mais, e em regiões como o Nordeste, chegam a colocar mais dinheiro em casa.
As informações estão em estudo divulgado hoje pelo IBGE e foram organizadas com base no Censo 2010. Os dados mostram avanços importantes, mas também apontam pontos de desigualdade.
O rendimento delas, por exemplo, continua menor que o deles, mesmo quando ambos trabalham na mesma área. No setor de serviços, as mulheres ganham pouco mais da metade do que ganham os homens.
Outra dificuldade que permanece é a falta de creches. O estudo mostra que as mães que têm seus filhos na creche têm muito mais chance de continuar no mercado de trabalho.
Veja a seguir cinco pontos que ajudam a entender o perfil das mulheres brasileiras e que permitem traçar a linha entre o que já foi conquistado por elas e o que ainda precisa ser alcançado.
1 – Filhos só depois dos 30 anos
A proporção de mulheres entre 15 e 34 anos com filhos diminuiu consideravelmente. Entre as adolescentes (de 15 a 19 anos), o número caiu de 14,8% em 2000 para 11,8% em 2010 ( menos 3 pontos percentuais).
Porém, a maior queda aparece no grupo das jovens adultas entre 25 e 29 anos. Nesta faixa etária, o número de mães caiu de 69,2% em 2000 para 60,1% em 2010 (menos 9 pontos percentuais). Veja o gráfico:
http://cf.datawrapper.de/IsUHm/1/
2 – Nordestinas do campo são as que mais colocam dinheiro em casa
Em média, as mulheres brasileiras são responsáveis por 40,9% da renda familiar total. No entanto, os dados podem variar bastante de acordo com as regiões do país e a situação do município.
O mapa a seguir mostra a proporção da renda da mulher de acordo com o município. Os locais mais escuros são aqueles em que as mulheres participam com uma fatia maior do rendimento familiar.
É possível ver uma diferença grande entre Nordeste e Centro-Oeste, por exemplo. Essa diferença é puxada principalmente pelas mulheres que vivem na zona rural.
No Nordeste elas respondem em média por 51% da renda familiar, ou seja, contribuem mais que os homens. Enquanto isso, no Centro-Oeste, elas contribuem com 26,8%.
3 – Mais mulheres estão no comando em casa
O número de domicílios que têm uma mulher como responsável cresceu bastante. Em 2000, elas eram responsáveis por 24,9% das residências. Dez anos depois este número cresceu para 38,7% (mais 13,7 pontos percentuais).
Essa variação é bem diferente se olharmos para as regiões urbanas e rurais. Nas cidades, a proporção entre homens e mulheres responsáveis pelo lar era de 72,7% (homens) a 27,3% (mulheres), em 2000. Dez anos depois a diferença foi reduzida para 59% a 41%.
Já no meio rural, 87,6% das residências eram de responsabilidade dos homens, contra apenas 12,4% das mulheres, em 2000. Em 2010, a diferença continuou grande, mas diminuiu: ficou em 74,5% a 25,1%.
Os mapas abaixo mostram essa variação, de acordo com o município, no período de dez anos. Quanto mais escuro, mais mulheres no comando da casa.
4 – Elas continuam estudando mais e ganhando menos
Não é novidade que as mulheres estudam mais do que os homens. Essa é uma tendência verificada há anos e não é diferente agora: segundos dados IBGE, a proporção de mulheres com idade entre 18 e 24 que estavam no ensino superior em 2010 é de 15,1%, contra 11,3% dos homens.
Apesar disso, elas continuam recebendo menos do que eles, mesmo quando atuam na mesma área.
De acordo com o IBGE, os homens que trabalhavam no setor de serviços em 2010 tinham rendimento médio de R$ 4.078,00. As mulheres que atuavam no mesmo setor ganhavam em média R$ 2.171,20, ou seja, pouco mais da metade do que eles ganhavam (53,2%).
A tabela abaixo mostra a diferença de salário para esse e outros setores:
Áreas de formação | Rendimento médio total | Rendimento médio dos homens | Rendimento médio das mulheres | Rendimento das mulheres em relação ao dos homens (%) |
---|---|---|---|---|
Educação | R$ 1.810,50 | R$ 2.340,70 | R$ 1.687,40 | 72,1 |
Humanidades e artes | R$ 2.223,90 | R$ 2.629,90 | R$ 2.064,30 | 78,5 |
Ciências sociais, negócios e direito | R$ 3.912,10 | R$ 4.650,90 | R$ 3.081,40 | 66,3 |
Ciências, matemática e computação | R$ 3.038,60 | R$ 3.578,20 | R$ 2.339,60 | 65,4 |
Engenharia, produção e construção | R$ 5.565,10 | R$ 5.985,60 | R$ 3.976,10 | 66,4 |
Agricultura e veterinária | R$ 4.310,60 | R$ 4.756,20 | R$ 2.972,00 | 62,5 |
Saúde e bem estar social | R$ 3.774,30 | R$ 5.341,70 | R$ 2.972,20 | 55,6 |
Serviços | R$ 3.067,00 | R$ 4.078,00 | R$ 2.171,20 | 53,2 |
5 – Falta de creches ainda impede a mãe de trabalhar
O estudo também mostra que, na hora de se inserir no mercado de trabalho, uma das principais dificuldades para a mulher é ter onde deixar os filhos pequenos.
Segundo o IBGE, as mulheres que conseguem vagas para seus filhos em creches têm nível de ocupação muito maior do que aquelas que não conseguem.
Nas cidades, esse número despenca de 66,9% (mulheres com os filhos na creche) para 41% (nenhum filho na creche), como mostra o gráfico: